Os sinais dos tempos nesta nossa época nos mostram a necessidade do diálogo para construção da paz. Somos chamados urgentemente a sermos artesãos e artesãs de um mundo mais pacífico. Nesse contexto, no dia 25 de outubro o Papa Francisco se reuniu com líderes religiosos, cristãos e de outras religiões, no encontro de oração intitulado “o grito da paz”. O horror das guerras, das injustiças e das divisões gera com muita certeza gritos de dor que ecoam no mundo todo. Esse momento de oração pela paz se realiza na esteira dos 60 anos do Vaticano II e dos 36 anos do encontro de Assis promovido por João Paulo II.
O Papa Francisco afirmou em seu discurso que “neste ano a nossa oração se faz um grito”. A violação da paz nos leva a bradar ao Deus da vida, que escuta a angústia dos seus filhos e filhas. No silêncio da oração, na contemplação da realidade, se sente o grito da paz. E nós devemos fazer ecoar esse clamor. Cada um pode empenhar-se para “semear reconciliação” e lutar para que a desejada paz possa florescer. Essa paz que é fruto da justiça (cf. Isaías 32, 17). E como é belo poder ver a Justiça e paz a se abraçar.
São João XXIII (Angelo Giuseppe Roncalli), além de convocar o Vaticano II, foi um anunciador da paz em tempos sombrios. Em seu escrito “A paz na terra” (JOÃO XXIII, 1963), o Papa, bom, destacou que devemos pedir a Deus a graça de ser “testemunhas da verdade, da justiça e do amor fraterno”. “Salvar a paz”, como pediu João XXII, como é uma tarefa muito atual, por esse motivo o Papa Francisco recorda as palavras de Roncalli. O anseio pela paz é algo comum a todo o gênero humano, ele emerge como um grito das entranhas em meio às atordoantes vozes do conflito. As religiões irmanadas para bradar pela paz são um belo sinal.
O Vaticano II fortaleceu o espírito de diálogo com as outras religiões. Esse espírito de abertura para o encontro com a diversidade religiosa foi uma inspiração que emergiu desse importante acontecimento eclesial do século XX. Entre os textos que mudaram a perspectiva da Igreja diante das mais religiões está o decreto Nostra Aetate (1965). Exercitar a compreensão mútua e a promoção da paz e da justiça social (cf. NA 3) são passos que as religiões precisam percorrer. E embalado por esse Espírito Conciliar é que contemplamos o bonito gesto de São João Paulo II, quando em 27 de outubro de 1986, convidou líderes religiosos para se encontrarem em Assis.
Diante desses gestos concretos podemos sentir-nos impelidos para abraçar o espírito de Assis. Podemos ver como a paz se faz necessária em nosso tempo, e particularmente em nosso contexto brasileiro. Discursos de ódio acabam por minar e ferir nosso desejo de um país melhor. Anunciar a Paz e o Bem no estilo do Pobrezinho de Assis significa buscar ser portador de um coração pacífico que se preocupa com a realidade dos sofredores e sofredoras. O Espírito de diálogo e encontro que vem de Assis alcance a nossa realidade brasileira. Que tenhamos um segundo turno de eleição que transcorra no respeito e no amor e que façamos do nosso voto um instrumento de paz.
Frei Fábio Vasconcelos, OFM