O Santo de Assis

Arte: Reprodução Internet

Francisco atraído pelo “Amor que não é amado” tornou-se, na Igreja, São Francisco. Nascido na cidade de Assis, numa família de comerciante abastado, tornou-se um jovem de sonhos: ser lutador, cavaleiro! Jovem generoso, quase desmedido, sabia acolher e ajudar os pobres. Apesar de acolhedor e amigo, faltava-lhe a liberdade, a gratuidade do cuidado.

A mudança de vida aconteceu diante de uma cruz, na igrejinha semiabandonada de São Damião. O Crucificado o tocou, o encontrou. Os textos antigos dizem que o Crucificado falou com ele: pediu que restaurasse a igreja em ruínas. Foi o que ele fez. A atração que sentiu pelo Crucificado levou a uma mudança: mudou as vestes, o estilo de vida. Ao encontrar o leproso e ser abraçado pela fragilidade humano-divina, buscou em tudo ser como Aquele que da cruz pendia: menor. Tornou-se um Menor entre os menores, servindo e cuidando dos menores.

Encantado e enamorado pelo Deus Menor, percebeu o quanto era amado por Deus, quanto todos eram amados e desejados por Deus. Viu que o Amor era tão extraordinário e admirável que se fez Menor, dando a vida pela salvação de todos. O encantamento o levava a gemer e a lamentar nos bosques: “O Amor não é amado, o Amor não é amado!”. O Amor não é correspondido! Na sua pregação, havia um desejo: que as pessoas amassem a Deus assim como Deus ama. Um anúncio que despertasse a todos para corresponder ao amor manifestado, revelado: o Crucificado. Um amor generoso, gratuito!

Os frades fossem menores! A minoridade que faz e deixa ser irmãos: a fraternidade! A palavra fraternidade é composta por duas: frater–idade. Frater vem de frater, irmão no latim. Idade vem de id no sânscrito que significa força, energia. A força que faz ser irmão, a força que deixa ser irmão, a força do irmão. A força, o vigor, a energia de irmão, o que faz ser irmão é a minoridade: “frades menores”. A minoridade faz e deixa ser irmão, irmã. Irmãos, porque menores; menores, porque irmãos, irmãs.

O encontro com o Crucificado o despertou para a fraternidade com as criaturas: irmão sol, irmã lua, irmã água, irmão vento…. Tudo advindo de um mesmo amor! Tudo na irmandade de uma mesma pertença, de uma mesma fonte e origem! Por isso, tudo no cuidado e acolhimento da familiaridade. As criaturas cuidas, não depredadas, comercializadas.

Papa Francisco, na sua Encíclica sobre o meio ambiente, recordou a necessidade do cuidado fraternal: “Louvado sejas, meu Senhor”, cantava São Francisco de Assis. Neste belíssimo cântico, nos recordava que a nossa casa comum é também como uma irmã com a qual condividimos a existência, e como uma mãe bonita que nos acolhe e abraça. «Laudato si´, ‘mi’ Signore, por nossa irmã, a mãe terra, que nos sustenta e governa e produz frutos diversos e coloridas flores e ervas” (Laudato Si´, 1). Tudo se irmana; tudo se torna irmão e irmã, pois obra das mãos paternas-maternas de Deus.

Francisco a anunciar a paz e o bem! O guerreiro, transformado em anunciador da paz, da convivência digna e justa. Segundo um pesquisador, aos casais que o buscavam para viver como ele e os frades, desaconselhou deixar a casa, a família. Um dos ensinamentos, num tempo de violência, que eles vivessem desarmados, sem armas. Estamos necessitados: desarmar, cuidar da casa comum, viver em fraternidade, viver a fé como admiração!

Francisco é um homem tomado pela admiração, quase êxtase. Admiração, encanto, gratuidade que o levam ao louvor, à ação de graças! Francisco não sabe pedir, apenas agradecer e louvar. No bendizer é conduzido ainda mais à suavidade do cuidado. Torna-se um com tudo e com todos, um outro Cristo!

Cardeal Leonardo Steiner
Arcebispo de Manaus

*Artigo publicado no Jornal Em Tempo, 8 e 9/10/2022

Fonte: arquidiocesedemanaus.org.br

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