O Tríduo Pascal é celebrado vivamente todos os anos pelas comunidades em muitos lugares do mundo. Muitos escritores de muitas épocas já escreveram sobre essas liturgias, mas nossa intenção neste texto é mostrar o “olhar das comunidades” e captar os sentimentos que a celebração anual da páscoa desperta no povo, especialmente entre os mais simples.
Este tríduo celebra o centro de toda a vida do Senhor Jesus, pela salvação e libertação da humanidade. Ele é o ponto alto da vida das comunidades. Mas, nem sempre detemos o olhar naquilo que esses ritos nos dizem, muitas das vezes estamos mais preocupados em “fazer acontecer” do que em “aproveitar o momento”.
Ao falar do tríduo pascal recordamos o empenho que sempre os grupos dedicam para celebrar bem esse momento de fé. São pessoas que muitas vezes enfrentam distâncias para participar dessas liturgias e reavivar a sua caminhada como membro da Igreja. São dias intensos de orações, reflexões, recolhimento, memória e participação do povo de Deus, que caminha, celebra e segue os passos de Jesus. É importante conhecer cada dia do Tríduo pascal, pois é fundamental para nós discípulos-missionários, conhecer os passos, as ações e a presença libertadora de Deus, na vida de Jesus e das comunidades.
O Tríduo Pascal revela a intensidade do amor de Deus, que se encarna entre nós na pessoa de Jesus, e se resume nesses três abençoados dias celebrativos, como ensinamentos, memória para nunca ser esquecida, vitória sobre a morte e prosseguimento da missão. Nós somos convidados a passar da paixão, morte e assumir corajosamente a ressurreição de Jesus, na vida particular e na comunhão da comunidade em favor dos pequenos. Cada dia, traz ensinamentos, ações e compromissos, pois o Tríduo Pascal possibilita uma conversão:
Quinta feira Santa – Na manhã da quinta-feira santa (ou em outra ocasião conforme necessidades pastorais) nas catedrais do mundo todo é celebrada a missa do Crisma. Nesta liturgia ocorre a consagração do crisma e a bênção dos óleos dos enfermos, dos catecúmenos. Após a homilia, os presbíteros fazem a renovação das promessas feitas no dia da ordenação. Em unidade, o povo de Deus celebra a eucaristia e recorda a importância do sacerdócio ministerial como dons de Cristo, o ungido de Deus Pai.
Mas o Tríduo Pascal começa mesmo na parte da noite, com a missa da Ceia do Senhor, conhecida como “Missa do lava-pés”. Estão bem presentes o memorial da Páscoa, tanto a passagem para libertação vivida pelos judeus como a entrega de Jesus e sua passagem da morte para a ressurreição. Nessa liturgia as comunidades se reúnem para a Ceia com Jesus. Juntos escutam o relato de Paulo sobre a instituição da eucaristia, presente na Carta aos Coríntios. Nesta celebração, temos também o rito do lava-pés, que apresenta o gesto de Jesus que ensina a importância do serviço. Para as comunidades, esta celebração é um verdadeiro testemunho e ensinamentos de Jesus, que se doa, que serve, que se torna igual, que desce para lavar os pés.
Sexta-feira Santa – É o segundo dia do tríduo pascal. É o dia da Páscoa da Cruz. É um dia em que muitas pessoas se unem para celebrar em comunidade a Paixão do Senhor, a sua morte de cruz em favor da libertação integral do gênero humano. O silêncio já chama a atenção das pessoas. Dá de sentir a simplicidade e despojamento que mexem com cada comunidade resgatando o sentido de dar a vida em favor dos irmãos e irmãs. Para muitos pode ser o dia de fazer um gesto de carinho em direção da cruz, mas essa simples atitude exige muito de nós diante de todos os sofredores da terra.
A entrega de Jesus é redentora, e seu sofrimento na Cruz grita aos ouvidos das comunidades que contemplam o Bom Jesus, que padeceu por nosso amor. Ele de fato, amou até o fim (Jo 13) e nós ficamos sem palavras diante desse grande mistério. Nesse dia, não se celebram os sacramentos, nesta “pausa” a Igreja realiza a ação litúrgica da Paixão do Senhor. Celebramos a sua palavra, contemplamos a cruz e recebemos a eucaristia (com as hóstias da missa da ceia do Senhor). Nas partes dessa liturgia Na cruz libertadora recebemos e aprendemos que Jesus sofreu a paixão do amor de uma forma intensa, infinita, doando sua própria vida pela vida dos seres humanos e o sangue derramado na cruz purifica é o sangue salvador.
Sábado Santo – A manhã desse dia é marcada pelo “profundo silêncio” e tarde pelo clima da espera. À noite o povo se reúne para a celebração da grande Vigília, como as antigas comunidades chamavam: “a mãe de todas as celebrações”. É o dia da vigília pascal, na espera da ressurreição de Jesus Cristo, comemoração da ressurreição do Cristo, a renovação da esperança das comunidades que acreditam na vitória de Jesus sobre a morte. É a celebração da luz que vence as trevas, por isso, começa com o acendimento do fogo novo. Essa vigília é um louvor ao Deus da vida e um canto de exultação com Cristo que ressuscitou dos mortos.
A liturgia contém várias simbologias e significados profundos, que traz presente à Páscoa do Senhor, a sua passagem da morte para a vida. A Vígilia é celebra ao redor da luz, da Palavra, da água e da Eucaristia. É uma liturgia repleta de comunicação e onde podemos beber da Páscoa a grande fonte da fé e da vida das comunidades.
Esta celebração faz memória de toda a caminhada do povo de Deus guiada e acompanhada pelo poder de Deus. Na liturgia da Palavra, vemos como uma visão geral dos acontecimentos salvífico que começa apresentando a criação (Gênesis), a saída da escravidão para a libertação (êxodo), a animação da fé e da esperança que é renovada e alimentada pelos profetas, chegando ao Novo Testamento que nos presenteia com a leitura de Romanos 6, 3-11, dizendo que somos Batizados e com o Batismo morremos para o pecado e ressuscitamos com Jesus para a vida nova. Esta caminhada de sofrimentos, lutas, resistências e Vitórias, é motivação para reanimar nossas comunidades a se manterem fiéis diante das dificuldades, na certeza da vitória de Cristo Jesus.
É a noite da certeza, da confirmação suprema da Vitória de Jesus, vencedor das trevas, de todo mal, de toda dominação, de todo tipo de morte. A vida triunfou, aleluia!. Nos domingos seguintes, vamos fazer a festa da Páscoa do Senhor, através das celebrações do ciclo pascal. Pois Cristo está vivo e caminha conosco, com nossa Igreja, com nossas comunidades, abrindo os olhos e indicando o caminho para os discípulos missionários dos dias atuais.
Celebrar em comunidade o Tríduo Pascal é lembrar que não vivemos nossa fé isolados, mas como pessoas que se unem ao redor da memória viva de Jesus. A liturgia do Tríduo reaviva ainda em nós o compromisso com o Reino, a busca da profecia e o ardor missionário. Ao celebrar Jesus que passa da morte para vida e que caminha conosco, recordemos aquelas realidades ainda sem “Páscoa” e a nossa tarefa de construirmos um mundo mais fraterno. Especialmente neste ano, rezemos pela paz entre os povos e pela amizade social.
Ao festejarmos Cristo, nossa Páscoa recordamos e fazemos presente a sua doação total, seu corpo entregue e seu sangue derramado. O memorial do Mistério Pascal marca a cada um de nós particularmente e em coletivo como pessoas que buscam em Cristo o sentido das suas vidas. E essa memória do Senhor se associa com tantas pessoas que também deram sua vida para o bem comum, daqueles que em nossos bairros defendem os direitos de todos, dos que se preocupam com a natureza. O Tríduo Pascal é uma celebração que ilumina a existência concreta que toca cada um de nós. Que esse Tríduo, nos olhos das comunidades, seja possibilidade de vida nova, de celebrar o reflorescimento da esperança que vence toda dor e exclusão.
Ângela Tereza Corrêa