Os aprendizados franciscanos do Professor Ivan Sadeck

Professor Ivan celebrando 70 anos na Capela do Convento São Francisco (Santarém – PA). Foto: Sabrina Gonçalves.

 

Durante toda minha caminhada de vida, os Franciscanos sempre estiveram me ajudando e orientando. Essa história começa na minha infância em Monte Alegre (PA). Conheci os frades que estavam por lá, Frei Roberto, Frei Benjamim e depois veio o Frei Anastácio. Todos esses frades, de uma forma ou de outra, contribuíram muito na minha formação pois eles tinham uma vivência muito próxima com a minha família. Me lembro bem de vê-los descendo para celebrar lá na igreja de Santa Luzia após a missa, iam sempre em casa tomar um café. Foi a partir dessa convivência e experiência, de sempre ter frades por perto, que foi despertando em mim o sentido da vocação. 

Em 1963, comecei a estudar no seminário São Pio X, buscando uma formação mais especializada almejando ser um sacerdote e meu desejo maior era ser sacerdote franciscano. O sentimento de Francisco de Assis, fez parte muito forte da minha vida; eu gostava muito de ler sobre os testemunhos e também de ver a presença dos frades. Não posso esquecer de citar duas pessoas que foram essenciais: Dom Tiago e Frei Osmundo, eles trabalharam bastante até que conseguiram que meu pai fosse transferido para Santarém, pois ele era funcionário público do IBGE. Assim, meu pai ficou mais próximo e trabalhando com os frades aqui em Santarém. 

No Seminário, convivi com vários frades que tiveram uma marca muito importante na minha formação, posso citar alguns (mas sei que não serão todos) como: Frei Alexandre, Frei Mauro, Frei Juvenal, Frei Vianney, Frei Bartolomeu e tantos outros que só engrandeceram nossa formação. Já terminando a quarta série ginasial a começar o primeiro colegial, começamos a fazer uma experiência, com a orientação de Frei Juvenal. Uma vez na semana, nós ministrávamos a aula de Religião nas escolas públicas. Aparecida, Barão do Rio Branco e São Raimundo Nonato foram as escolas que na época nós seminaristas fazíamos esse serviço. Foi aí que me despertou também o sentido de ser um instrumento também dentro do magistério. O mais interessante é que em 1968, o professor Francisco Gonçalves Pereira veio pedir “socorro”, no sentido de apresentar alguns nomes possíveis que pudessem ajudar a ministrar aulas na Escola Álvaro Adolfo da Silveira. Frei Juvenal então, foi às escolhas de alguns nomes que atendessem esse pedido do professor, entre os nomes, estava o meu e em pouco tempo eu estava sendo apresentado para ser professor no Álvaro Adolfo da Silveira. Neste momento começava uma nova experiência na minha vida, pois lecionei para a turma do primeiro ano ginasial, na época era ginásio e colegial e não fundamental e ensino médio como funciona atualmente.

 

Foto de fundo: Dom Tiago Ryan, Frades e turma de estudantes do Seminário São Pio X. Foto em destaque: Recorte de Jornal noticiando santarenos que participaram da formação de educadores em Belém (1979). Fonte: Pe. Sidney Canto (https://sidcanto.blogspot.com/)

 

A primeira vez que entrei em uma sala de aula do Álvaro Adolfo da Silveira eu me espantei porque tinha mais ou menos 70 alunos em uma única sala. Eu era muito jovem, com 18 anos, e tendo que saber o que fazer ali na frente de todos aqueles estudantes. Naquele momento eu pensei duas vezes e pedi a Deus que pudesse me dizer se era aquilo mesmo. O certo é que quando iniciei essa atividade no magistério, eu acabei gostando e gostando muito, até porque Frei Juvenal nos incentivava para que a gente contribuísse dessa maneira e a gente foi fazendo. Eu levei comigo, para implementar as minhas aulas na sala, um pouco o que via e que tinha aprendido pelo que ensinavam os meus professores franciscanos. 

A obediência, a disciplina, a ordem, essas coisas que são importantes para o bom andamento da atividade educacional, foi inserido em mim pelos frades e acabei levando para dentro da sala de aula. Eu confesso que me tornei um professor muito exigente, quem estudou e conviveu comigo em sala de aula, sabe um pouco dessas minhas características. Eu sempre primei pela questão da disciplina, obediência. Sempre fui de uma exigência muito grande, mas fazia isso como uma maneira de melhorar a educação, pois sempre acreditei que a educação precisa ter uns pilares, uns suportes para ajudar acontecer. Embora os alunos do turno noturno do Álvaro Adolfo já fossem senhoras e senhores, e eu sendo o mais jovem dentro da sala, mesmo assim eu prezava sempre pelos bons princípios de ensinar e isso foi uma experiência fantástica. 

Por volta de 1968, saí do seminário, mas não perdi o convívio com os frades. Mesmo saindo continuei no magistério, fui fazendo cursos, fui me capacitando, me aprimorando e isso ampliou minha atividade profissional. Lecionei no Santa Clara, São Raimundo Nonato, e mais tarde, nas Escola Frei Othmar e Dom Amando. Tive uma experiência fantástica na Escola Plácido de Castro, essa escola fazia parte de um programa chamado Expansão e Melhoria do Ensino Médio, um programa muito interessante que veio atender as necessidades da reforma da 5692 implantada no país daquela época. Naquele período todo estávamos vivendo no Brasil a Ditadura Militar, então, veio essa reforma para que tivesse uma atenção especial e correspondesse às exigências da lei. No estado do Pará, assim como no país todo, foram criadas várias escolas com essa experiência fantástica que foi esse programa em que o professor ficava oito horas na escola. 

Uma parte importantíssima da minha vida também aconteceu enquanto lecionava, encontrei a minha esposa, Deusa, em 1970. Ela era minha aluna e, depois de um tempo de namoro, noivamos e depois celebramos o nosso enlace matrimonial em dezembro de 1974. Mesmo meu caminho não indo para o lado do sacerdócio, eu jamais perdi o contato com os frades e eu recordo muito bem que no meu casamento foi o Frei João que ajudou na preparação e fiz questão de casar na igreja do Seminário São Pio X, porque minha vida sempre esteve entrelaçada com os franciscanos, Graças a Deus! 

Sempre estive muito envolvido com os franciscanos, ao longo dos anos desenvolvi uma porção de atividades não só dentro das escolas, mas também fora. Colaborei com um projeto desenvolvido na então Diocese de Santarém. Um trabalho realizado por Frei Paulo, que era um treinamento de liderança cristã, onde essas lideranças atuavam nas comunidades a partir desses treinamentos. Essa era mais uma maneira de ajudar, a participar e passar conhecimento. Mais tarde, ainda desenvolvi alguns trabalhos a convite de Frei Miguel, o Miguelão. E desta forma foi acontecendo na minha vida a contribuição na educação, mas sempre envolvido e entrelaçado como cidadão do reino, influenciado fortemente pelos franciscanos, sempre comprometido com a questão da evangelização. 

Sempre me senti um missionário. Sem dúvidas reconheço que aqui e ali, cometi falhas e erros, mas nós somos seres humanos. De certa maneira sempre me dediquei a levar e doar o melhor que tenho, e sempre estabelecendo dentro dos princípios da educação, os valores que de fato pudessem respeitar, priorizar e promover o desenvolvimento dos meus alunos e alunas. Sempre carreguei comigo a seriedade, dedicação e respeito dentro do trabalho do magistério. 

Eu entendo que não podemos fazer educação sem estabelecer princípios e valores para que possamos conduzir o nosso trabalho. Uma característica importante que ainda não citei é o amor pelo que você faz, e eu sempre me identifiquei desse jeito. Eu sempre demonstrei muito carinho e respeito para os meus alunos, sempre procurei felicitar eles nos aniversários, pois assim via que era uma forma de eles se sentirem queridos. Levei comigo essa demonstração de pertencimento que aprendi com os frades, que sempre me trataram muito bem e com certeza eles sempre estiveram presentes no meu trabalho na educação.

Foi assim que trilhei meu caminho como professor, sempre acompanhando os princípios que aprendi com meus irmãos franciscanos. Eu sou o que sou pela Graça do Senhor, como diz o Apóstolo Paulo, mas também pelo que os frades me proporcionaram. Sou um pouco, o produto de todo o trabalho dos franciscanos desenvolvido na nossa região. Só tenho de agradecer muito a Deus e todos que colaboraram, incentivaram e ajudaram a construir a minha história no magistério. Deixo meus agradecimentos sobretudo pelas bênçãos e as graças de Deus, a minha família que sempre me apoiou, meus pais, irmãos, a minha esposa, meu filho Bruno Ricardo, a Carlinha que já não está conosco, a Mayra. Sobretudo agradeço a essa presença franciscana na nossa história, na nossa vida e na nossa caminhada.

Depois de tantos anos como professor, posso dizer que me sinto feliz e contente por ter feito o que deveria ter feito! 

Feliz dia do Professor!

 

Ivan Sadeck dos Santos

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