Os Estigmas e a importância da contemplação e da vida orante de Francisco

Francisco, sempre buscou imitar aquele que escolheu seguir como mestre e senhor, Jesus Cristo, pobre e crucificado. Em seu processo de conversão, o pobrezinho de Assis, seguindo o exemplo de Jesus, retirava-se para lugares desertos e calmos, onde pudesse se conectar com Deus e contemplar suas maravilhas presente em todas as criaturas. Nesses lugares, Francisco podia sentir a presença do altíssimo mais de perto, seja como uma brisa suave a lhe tocar a face, ou como uma chama a incendiar seu coração.

Seduzido pelo Senhor e confiante na força da vida que brota de cruz de Cristo, Francisco se dirige ao Monte Alverne, no outono de 1224 e lá, no alto, entrega-se ao exercício da contemplação. Durante quarenta dias, jejuou e rezou em honra a São Miguel Arcanjo. Foi justamente em um desses momentos de profunda oração que fez um encontro pessoal com o crucificado. Francisco recebeu a graça de vê-lo na figura de um sagrado Serafim que apareceu a ele envolto em uma luz, numa manhã, a poucos dias da festa da Exaltação da Santa Cruz. Ao contemplar aquela imagem do crucificado, todo ser de Francisco foi invadido de alegria e ao mesmo tempo de dor. Imediatamente, foi tomado por um êxtase. Ao retomar a consciência, percebe que em seu corpo haviam sido impressos os estigmas de Jesus. Em suas mãos, seus pés, e em seu lado direito, ele podia ver e sentir em sua própria carne os sinais dos cravos e as feridas que marcaram do corpo de Cristo. Francisco sentiu a dor do amor invadir seu coração. Aquilo que sempre buscou, transformou-se finalmente em realidade, agora ele era um crucificado vivo. O verdadeiro amor de Cristo transformou o amante em sua própria imagem (LM, XIII, 5).

Como vemos, a contemplação possui um papel fundamental na vida de Francisco. Através dela, ele passou a ver além das aparências, a olhar o mundo com os olhos da fé, com os olhos de Jesus. Francisco fez de sua vida, uma vida de oração. Totalmente transformado não só em orante, mas também em oração, dirigia toda sua atenção e todo seu afeto a seu Senhor (2 Cel, LXI, 95). Assim conseguiu perceber com mais clareza o sofrimento das pessoas ao seu redor.

Quantas realidades em nosso mundo e de modo especial aqui na Amazônia não podem ser contempladas e transformadas pela força da fé e da Oração. Realidades de dor e sofrimento vividas por tantos homens e mulheres estigmatizados pelas mais diferentes formas de preconceitos, pela fome, pela exploração sexual e até mesmo pelo tráfico humano. Realidades de destruição dos recursos naturais em detrimento do lucro e do bem-estar de poucos, enquanto muitos expulsos de suas terras são literalmente abandonados a própria sorte.

O modo de vida orante assumido por Francisco tem muito a nos ensinar. Isso porque ele nasce do Evangelho. Viver segundo o Evangelho faz com que Francisco procure sempre carregar em seu coração os mesmos sentimentos que havia em Cristo Jesus (Fl 2, 5), a chamar todos de irmãos e sonhar com uma fraternidade universal. Seu exemplo é para o mundo de hoje uma chama ardente capaz aquecer os corações frios e insensíveis à dor dos outros e de modo especial, a dor sentida pela nossa mãe terra que continua a gemer como em dores de parto (Rm 8, 29-22).

O exemplo de vida de oração e contemplação de Francisco, nos ajuda também a tomar consciência de que vivemos em uma sociedade cada vez mais adoecida pelo espírito da indiferença e do egoísmo. Talvez seja por isso que sentimos tanto sua falta. Como escreveu São João Paulo II em sua oração dedicada a São Francisco, recitada na capela do Alverne por ocasião da festa dos Estigmas em 1983, “Ó São Francisco, estigmatizado do Monte Alverne, o mundo tem saudades de ti como imagem de Jesus Crucificado. Tem necessidade do teu coração aberto para Deus e para o homem, dos teus pés descalços e feridos, das tuas mãos trespassadas e implorantes…Aos ofendidos por toda espécie de maldade, comunica, Francisco, a tua alegria de saber perdoar. A todos os crucificados pelo sofrimento, pela fome e pela guerra, reabre as portas da esperança”.

Este ano em que temos a graça de celebrarmos os 800 anos da impressão dos estigmas no corpo de São Francisco, elevemos nossos olhos aos céus e sejamos gratos pelo seu exemplo de vida e peçamos ao Deus que nos ajude a valorizar a contemplação e da oração em nossa vida de fé. Que inspirados pelo pobrezinho de Assis jamais fechemos nossos olhos a dor e ao sofrimento de nossos irmãos e irmãs.

Fraternalmente,

Frei Vagner Sena, OFM

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