Os Frades Menores na Amazônia e o Sagrado Coração de Jesus

Foto: Arquivo Custodial

Os Frades Menores na Amazônia brasileira, neste ano de 2023, comemoram um dos eventos importantes da sua presença: a chegada dos primeiros frades norte-americanos em terras amazônicas. A chegada que se deu em 25 de junho de 1943 marca o início de uma etapa da vida e missão franciscana na região, especialmente no Oeste Paraense. E essa comemoração se vincula especialmente ao Sagrado Coração de Jesus, visto que a província de origem dos frades nos Estados Unidos, com sede em St. Louis, Missouri, tinha como patrono o Coração de Jesus (Sacred Heart). 

Como um coração que se impulsiona para fluir vida no corpo, os missionários sentiram-se impelidos para testemunhar com amor o evangelho de Cristo. De fato, os missionários foram aos poucos “ganhando o coração” das pessoas da região, tanto que muitos lembram com carinho histórias dos frades norte-americanos. E o coração de Jesus os levou a navegar pelos rios e cidades da Amazônia. E não só de forma simbólica, mas dizemos que o Coração de Jesus os levou porque o “Cor Jesu” (I e II) foi o nome dado à embarcação que serviu a missão na então prelazia de Santarém desde a década de 1960 até inícios dos anos 80. 

A Província do Sagrado Coração teve a sua fundação a partir do trabalho dos frades alemães nas décadas de 1858. Setenta e cinco anos depois das bases lançadas pelos frades germânicos, os quatro primeiros norte-americanos chegaram ao Oeste do Pará. O provincial que enviou os quatro missionários para a Amazônia, Frei Wenceslaus Krzycki, recebendo a carta do frade Delegado Geral da Ordem para a América Latina, Frei Mathias Faust, tratou de fazer uma consulta entre os frades daquela Província, perguntando quem gostaria de ser missionário no Brasil, em seguida escolhendo e enviando imediatamente quatro frades para Santarém: Junípero Freitag (comissário), Severino Nelles, Tiago Ryan e Tadeu Prost. Saindo de Chicago em 26 de maio de 1943 e chegando em Santarém em 25 de junho do mesmo ano.  

Foto: Arquivo Custodial

O desejo do coração os frades para a missão e não somente no Brasil, mas vale recordar que Província do centro-oeste dos Estados Unidos. enviou também missionários para diversas partes do mundo (China, Bolívia, Colômbia, Nicarágua, República Democrática do Congo, Marrocos, Uganda, Filipinas, Rússia, Cingapura, Coreia do Sul, Hong Kong, Japão e Vietnã…). Esses missionários se apresentaram para partir em missão e abraçaram de coração a vida no Brasil. Particularmente chama a atenção em muitos deles o seu amor pelas culturas locais. Igualmente em resposta ao contexto deixaram inflamar-se de amor e foram ardorosos na defesa do povo. 

Em muitas cidades da Amazônia se encontram igrejas dedicadas ao Coração de Jesus, entre elas se destaca Fordlândia, justamente o lugar onde os frades norte-americanos atuaram pastoralmente. Logo em setembro do ano da chegada (1943) Frei Junipero Freitag e Frei Tiago Ryan foram atuar no cuidado daquela paróquia. Em 1949 a igreja do Sagrado Coração de Jesus se tornou oficialmente a “matriz” da localidade. A igreja começou a ser construída em 1947 e concluída em 1950 com os esforços de muitos, mas em especial de Frei Tiago, Frei Caetano (Cajetano) e do senhor Nogueira. Uma edificação bela às margens do belo Tapajós.      

Outro fato curioso que liga os frades norte-americanos na Amazônia e o Sagrado Coração de Jesus é que alguns deles estudaram teologia em Petrópolis (RJ) na fraternidade que também tem como padroeiro o Sagrado Coração de Jesus. Entre eles estão: Frei Alexandre Dowey, Frei Rainério Dolesh, Frei Leão Brune, Frei Paulo Zoderer, Frei Roberto Mizicko, Frei Miguel Kellet, Frei Fred Radtke. A fraternidade do Sagrado e a Província Franciscana da Imaculada Conceição, assim como acolheu os missionários daquele tempo, hoje acolhe os frades, amazônidas, da Custódia São Benedito para os estudos da teologia. 

Seguidores de um coração libertador e compassivo, os frades em sua presença na Amazônia deixaram um legado na vida do povo. A abertura de coração dos missionários os permitiu trabalhar já naquele período com uma Igreja de rosto amazônico. As marcas dessa atuação franciscana, muito atenta aos sinais dos tempos e preocupada com a realidade amazônica podem ser descritas em vários testemunhos. O trabalho social dos frades na área da saúde foi visto desde as primeiras décadas, na distribuição de medicamentos anti-malária e contra infecções, na educação infantil e de professores, no desenvolvimento de cooperativas e outras atividades.     

Fundação de comunidades, edificações, organização e formação popular são só alguns pontos que se pode destacar ao longo dessas oito décadas. E isso faz recordar a antífona de entrada da solenidade do Sagrado Coração de Jesus que, toma as palavras do Salmo 32 (11;19): Eis os pensamentos do seu coração, que permanecem ao longo das gerações: libertar da morte todos os homens e conservar-lhes a vida em tempo de penúria.  

Por: Frei Fábio Vasconcelos, OFM

Referência

HABIG, Marion Alphonse. Heralds of the King: the Franciscans of the St. Louis-Chicago Province (1858-1958). Chicago: Franciscan Herald, 1958. 856 p.

Share on facebook
Share on twitter
Share on whatsapp
Share on email
Share on print