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São dois relatos sobre a vinda do Espírito Santo. Primeiro, no Evangelho de São João, quando os discípulos receberam o Espírito Santo no dia da ressurreição, no primeiro dia da semana, significando uma nova criação. O sopro do Espírito Santo é o sopro de vida nova. É o mesmo sopro que impulsiona os discípulos para a missão: “Como o Pai me enviou, também vos envio. Depois de ter dito isso, soprou sobre eles e disse: Recebei o Espírito Santo” (Jo 20, 21-22). De medrosos, passam a ter coragem; de parados, a agir; de calados, a anunciar. Como o Espírito Santo estava com Jesus no início da sua missão, agora está com os discípulos no início da sua missão. É Jesus que garante a paz, pois venceu o mundo e está vivo.

No livro dos Atos, São Lucas coloca a vinda do Espírito Santo 50 dias depois da ressurreição. Na primeira leitura da liturgia de hoje, que relata esta vinda, há três momentos que relembram o Primeiro Testamento:

Primeiro, no livro de Êxodo, 50 dias após a saída do Egito, Moisés recebeu os dez mandamentos no meio de trovões, relâmpagos e vento. Foi a aliança que Deus faz com seu povo. Agora nos Atos, são línguas de fogo e barulho de vento, sinal de uma nova aliança e um novo povo de Deus, reunido na mesma fé e vivendo uma nova lei.

Depois, no livro de Números, o Espírito foi derramado sobre 72 anciãos. Moisés, diante de um questionamento, quer que o Espírito seja derramado sobre todo o povo. Nos Atos é o cumprimento deste fato, pois o Espírito é derramado sobre todos e todos são um só corpo, mas cada um com seu dom. É a imagem da comunidade que vive os dons e serviços e o Espírito é derramado em benefício de todos.

Finalmente, no livro de Gênesis, na estória da torre de Babel. Cada qual queria ser maior e alcançar a fama, e diante disto, há uma grande confusão, ninguém fala mais a mesma linguagem. É a linguagem da ganância e do poder para dominar. Agora, no livro de Atos, todos podem compreender. A nova linguagem do amor manifesta a unidade do corpo, e todos podem compreender esta linguagem da fraternidade, paz e amor que vence o egoísmo e a dominação pelo poder.

Podemos dizer que é com a força do Espírito Santo que formamos a Igreja e pelo mesmo Espírito somos transformados e começamos a viver uma unidade em comunidade. Hoje, então, podemos perguntar o que significa o Pentecostes para nós?

Primeiro, podemos dizer que o Pentecostes continua hoje. Todos nós, como batizados e crismados, recebemos a luz e a força do Espírito para vivermos os dons derramados sobre nós para o bem da comunidade e para o compromisso com a missão da Igreja. É esta Igreja que continua hoje a missão de Jesus. As palavras de Jesus continuam atuais para nós: “Como o Pai me enviou, também vos envio”.

Somos também enviados para promover a paz. É um dom precioso que muitas vezes está ausente no mundo e na família. Cristo é a fonte da paz e o Espírito nos dá a força para recriar a vida pela vivência da paz.

Jesus também dá à Igreja o poder de perdoar os pecados. É preciso experimentar a misericórdia e o perdão que são o caminho para recriar novos relacionamentos baseados no amor e na paz. O Papa Francisco nos lembra da importância da misericórdia e que todos sejamos missionários da misericórdia, da reconciliação e do perdão.

Também, o Espírito está presente na comunidade para nos ensinar os caminhos da partilha e da solidariedade. São Paulo nos lembra que no Espírito formamos um só corpo – o Corpo de Cristo. Por isso, não há mais divisão e diferenças entre nós, pois em Cristo somos membros da comunidade que se torna o lugar de vida nova, colocando os nossos dons em benefício de todos.

É o Espírito Santo que está dentro de nós e que faz com que sejamos unidos no mesmo amor. Como o fogo purifica todas as coisas, é o fogo do Espírito que faz arder os nossos corações para que sejamos apaixonados pela vida de fé, pelo compromisso em comunidade e pela vivência do amor. Podemos nos perguntar: somos o Babel da confusão ou o Pentecostes para falarmos uma só linguagem? Queremos ser o novo povo de Deus, iluminado pelo Espírito que faz arder o coração de cada um, crianças, jovens e adultos. Cantemos: Vem, vem, vem, vem Espírito Santo de Amor, vem a nós, traz à Igreja um novo vigor.

Por: Frei Joeright, OFM