Porciúncula, o lugar da misericórdia e perdão

Fonte: www.saralessandrini.it

Qualquer pessoa que se proponha peregrinar até Assis, na Itália, para colocar seus passos nas mesmas pegadas de São Francisco, certamente ficará impressionado com a grande Basílica de Nossa Senhora dos Anjos, que, se adentrando ao edifício, se contrasta com a pequena capelinha em estilo românico em seu interior, a Porciúncula. A pequena igrejinha não é só o centro de todo o imenso edifício, mas o coração espiritual de todo o Santuário.

A Porciúncula é o lugar da vida evangélica e fraterna de São Francisco de Assis: foi ali que o jovem Francisco, escutando o Evangelho, com

Reprodução: romansacristan.blogspot.com

preendeu toda a sua vocação, renunciando tudo para viver em radical pobreza, e missão itinerante. Ali naquele local, Francisco recebeu também os primeiros companheiros e fundou a Ordem dos Frades Menores; foi ali, ainda, que com a vestição de Santa Clara, deu-se início a vida das damas pobres – às Clarissas. Foi naquele lugar, que na noite de 3 de outubro de 1226, Francisco acolheu a irmã morte com serenidade.

A Porciúncula, é o lugar da alma, que parece vir de longe, e em Francisco se faz revelar como nostalgia do paraíso, não aquele distante, mas aquele verdadeiro, que começa aqui mesmo na terra, com um chamado extraordinário à santidade. Santo João Paulo II, por ocasião da reabertura da Basílica da Porciúncula, após o grande terremoto de 1997¹, reafirmando a santidade do lugar, menciona uma não cristã, e sua experiência de encontro com o sagrado, ali mesmo, naquele lugar. Simone Weil, filósofa judia, mas fascinada por Cristo, escreveu em uma carta intitulada Autobiografia Espiritual: “Em 1937, passei dois dias maravilhosos em Assis. Lá, estando sozinha na pequena capela românica do século XII de Santa Maria dos Anjos, maravilha incomparável de pureza, onde São Francisco rezou muitas vezes, algo mais forte do que eu, me obrigou, pela primeira vez na minha vida a ficar de joelhos ².”

De fato, quem se ajoelha naquele pequeno pedaço do paraíso, junto à porta da pequena capela, poderá ler palavras extraordinárias como essa: “Este lugar é santo” (hic locus sanctus est). É santo, pois foi ali que o próprio Deus dialogou tantas vezes com Francisco em oração, assim como fez com Jacó, com Moisés, com Maria… e ainda, se levantar os olhos para o alto poderá ler ainda: “Esta é a porta para a vida eterna” (haec est porta vitae aeternae). Palavras que devem ser tomadas a sério porque revelam muito sobre o mistério guardado nesse pequeno e tão simples lugar: “Te louvo o Pai porque escondestes essas coisas aos sábios e entendidos, e revelastes aos pequeninos” (Mt 11,25).

Fonte: www.intemirifugio.it

Nos fundos da pequena igrejinha, se pode ver ainda um dos seus grandes tesouros: trata-se de um pequeno resto de afrescos (acima da abside) de uma grande pintura da crucificação, onde ainda se pode ver Maria junto à cruz e outras mulheres que a amparam e a consolam. Francisco parece abraçado aos pés da cruz, e ao centro – certamente, não por acaso -, a parte inferior do corpo do “bom ladrão”, o primeiro a ser resgatado pelo perdão de Cristo na Cruz, o primeiro a passar como santo por aquela porta, a definitiva, a da vida eterna, “Em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso (Lc 23,43). Uma perfeita combinação de mistério, de espiritualidade e arte.

Fonte: www.unistrapg.it

Foi o próprio Francisco que naquela igrejinha fez eco ao perdão de Deus para todos os arrependidos de todos os tempos. Foi ali também, em trono à sua Porciúncula que ele proclamou aquele dia do mês de agosto como o dia do perdão a todo aquele que ali, naquela igrejinha, fosse pedir a misericórdia e perdão de Deus: “Quero mandá-los todos ao paraíso e vos anuncio a indulgência que recebi da boca do Sumo Pontífice” (FF 2706/11)³. É a indulgência do perdão, é o Perdão de Assis, o tesouro da Porciúncula.

Descobrir este imenso tesouro, guardado naquela pequena porção (Porciúncula) da imensa igreja, nos faz viajar no tempo, e ouvir a voz de Francisco ecoando naquelas paredes da pequena capela. Ali Francisco condensou todas as suas experiências, que parecem atualizar-se agora em cada um que vive ali a experiência de um retorno para o caminho do Pai. Ali Francisco revela a nostalgia da pureza, do primeiro homem, no jardim, e parece convidar a cada um a retornar ao primeiro amor, aquele que já não é amado; Ali ecoa a voz de Francisco que nos diz que não se pode levar uma vida toda na superfície de uma vida vã, mas que somente o Evangelho escrito no coração e na alma de cada homem é que podem guiá-lo para Deus; É ali, por fim, que Francisco ensina a humanidade toda que o mal é um duro mistério, presente na humanidade, como na parábola do joio e do trigo (Mt 13,24-30), e que todos têm necessidade de arrepender-se e serem perdoados para então serem vencedores. A celebração do “Perdão de Assis” é meta de quem peregrina, mas não apenas isso, e sim o início de uma vida nova.

Como receber a graça da “Indulgência Plenária de Assis”?

Ao início, se fazia necessário peregrinar até Assis para receber a indulgência plenária da Porciúncula. Hoje, é concedido a todo fiel que se dirigir com o coração arrependido, e o desejo de reconciliar-se com Deus e os irmãos, a graça da indulgência em qualquer igreja franciscana ou igreja paroquial. Assim, das 12h do dia 01 de agosto, até a meia noite do dia 02 de agosto, pode-se adquirir a indulgência, sob as seguintes condições: 

Visitar a igreja e procurar pelo sacramento da reconciliação, participando da missa e da mesa da Eucaristia. Além disso, se faz necessário professar a própria fé, através da oração do Creio; a oração do Pai Nosso, para reafirmar a dignidade de filho de Deus; uma terceira oração (Pai Nosso, ou o Creio, ou ainda a Ave Maria, ou outra oração) na intenção do Papa Francisco, e que reafirma nossa pertença à igreja de Cristo⁴.

Por: Frei Rômulo Monte Canto, OFM


¹https://www.vatican.va/content/john-paul-ii/it/letters/1999/documents/hf_jp-ii_let_02081999_portiuncola.html

²http://classiques.uqac.ca/classiques/weil_simone/attente_de_dieu/attente_de_dieu_1966.pdf . Traduzido por Rômulo Monte Canto. Acesso: 18/07/2023.

³Fonti Francescane: terza edizione revista e aggiornata. Editrici Francescane: Padova, 2018.

⁴Cf: https://franciscanos.org.br/carisma/especiais/perdaoassis#gsc.tab=0 . Acesso: 24/07/2023.

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