Presente e silencioso. Podíamos dizer que estas duas foram as marcas registradas de Frei Roberto Michael Mizicko, falecido às 5h30 do dia 1º de maio, passado. Seu corpo franzino e alvo, coberto pelo hábito franciscano dentro daquele féretro, não traduzia o tamanho e a grandeza da alma deste nosso irmão. Seu velório e exéquias, marcados pelo tempo chuvoso que se abateu sobre Santarém, também traduziu estas marcas que ele mesmo insistia em vivê-las. Apesar da chuva, não faltou o afeto e a solidariedade dos irmãos e irmãs de São Francisco na Amazônia, que participaram das cerimônias e liturgia de despedida. Descanse em paz, Frei Roberto!
Presidida por Dom Irineu Roman, arcebispo de Santarém, a celebração eucarística iniciou às 8 horas do dia 2 de maio, com a presença da maioria dos confrades residentes em Santarém, religiosas, membros do clero, seminaristas, OFS e muitos leigos e leigas das paróquias franciscanas da cidade de Santarém, onde trabalhamos: São Sebastião, Santíssimo e Cristo Libertador.
Dom Irineu, em sua homilia, manifestou publicamente seu agradecimento aos franciscanos pela vida de Frei Roberto dedicada à Arquidiocese de Santarém (antes prelazia e diocese), que passando por diversas paróquias, colaborou na evangelização das gentes, sobretudo com seu testemunho de amor aos pobres e necessitados. Por sua habilidade eletrônica, juntamente com Frei Nestor Windolph, colaborou grandemente na instalação da Rádio Rural de Santarém, projeto elaborado por Dom Tiago Ryan.
O arcebispo fez questão de salientar, em diversas ocasiões, o desprendimento e a pobreza de Frei Roberto, que deu aos pobres da Amazônia toda sua herança recebida da família nos Estados Unidos da América. Essa era outra marca muito conhecida de Frei Roberto: sensível aos apelos e choros dos pobres que lhe batiam à porta; era capaz de dar tudo que tivesse nos bolsos e nos bolsos dos irmãos…
Fui pupilo de Frei Roberto aos 12 anos, quando entrei no Seminário São Pio Décimo, na época, um seminário bem franciscano. Naquele primeiro ano era nosso professor de matemática e insistia em nos ensinar aquela ciência exata falando seu idioma natal, o inglês! Foi um sofrimento para os que não entendiam a matemática nem o inglês! Mas na sua paciência que não reprovava ninguém – a não ser por indisciplina! – sempre se saía dizendo: “ai ai ai rapaz, voxê apreende!” Depois, no Seminário, Fr. Roberto mantinha uma oficina de eletrônica. Todos os seminaristas passavam por lá, mas nem todos tinham o dom daquele ofício. Porém, muitos jovens fizeram desse conhecimento seu ganha pão e de sua família. Estes sempre foram agradecidos a Frei Roberto.
Frei Roberto é um dos frades que temos muitas histórias pra contar, mas o espaço aqui é pequeno. Só quero partilhar aquela lembrança que me vem à cabeça quando penso nele: é a sua silhueta trepada na torre da antena do Seminário ajustando alguma coisa que não deixava funcionar o telefone ou o rádio amador. Homem que gostava das alturas. Agora ele ganhou a altura maior. Está junto a Deus, no seio de Abraão. Descanse em paz, Frei Roberto!
Por Frei Francisco Paixão ofm