Uma profissão que quase não existe mais é a de oleiro. Mesmo assim, ainda se encontra pessoas que fazem vasos de barro usando métodos antigos. Alguns anos atrás encontrei um oleiro numa feira de artesãos. Fiquei observando enquanto o oleiro fazia um vaso de barro. Ele pegou uma bola de barro e colocou num torno, uma roda que girava com a força dos seus pés. Em pouco minutos, o oleiro moldava aquele barro e com os dedos de artista, transformava o barro num vaso. Ele metia a mão no meio do barro para fazer um buraco e aos poucos o vaso ia tomando forma. Depois, com um instrumento chato, fazia desenhos no vaso. Cada vaso era diferente conforme a criatividade do oleiro e a maneira que ele trabalhava o barro.
Ao escutar as palavras do profeta Isaías, me lembrei do oleiro que fazia vasos de barro: “Senhor, tu és nosso Pai, nós somos barro; tu nosso oleiro, e nós todos, obra de tuas mãos” (Is 64, 7). É Deus, com seus dedos de artista, que nos molda. Mas há uma diferença entre o barro nas mãos do oleiro e nós, nas mãos de Deus. Enquanto o barro não tem vontade própria e é moldado sem resistência, nós precisamos nos deixar moldar.
O tempo de Advento, que iniciamos hoje, é esta grande oportunidade para deixar que sejamos moldados por Deus. A primeira coisa é lembrar que o Advento é tempo de espera. Mas nossa espera não é de ficar de braços cruzados aguardando que algo aconteça. Pelo contrário, nossa espera precisa ser de ação e não de acomodação. Para isto é preciso a vigilância, como disse Jesus no evangelho: “O que vos digo, digo a todos: vigiai” (Mc 13, 37).
Para sermos moldados por Deus, precisamos ficar atentos, porque não sabemos quando chegará o momento. Vigiar é lembrar que toda a vida cristã é um caminho no qual precisamos nos converter para as ações de bondade e solidariedade sendo sinais do amor de Deus no mundo.
Vigiar também é reconhecer que como cristãos enfrentamos muitas dificuldades e somos pressionados por propostas atraentes e enganosas. Nós, como servos vigilantes, precisamos vencer o egoísmo pela prática do amor e do serviço. É na vivência da comunhão fraterna em comunidade que somos moldados por Deus.
Vigiar é também lembrar que precisamos ser responsáveis pela casa de Deus que é o nosso mundo. Estamos diante de uma situação em que se usa muitos agrotóxicos, veneno na agricultura e nestes últimos tempos o fogo com muita fumaça no ar. Tudo isso causa muitos danos à natureza e à vida da humanidade. Cuidar da vida, respeitar a natureza, defender os direitos dos povos originários e das suas culturas é ser moldado por Deus.
São Paulo nos lembra que é Deus que nos dá perseverança em nosso procedimento irrepreensível até o dia de nosso Senhor. Ter um procedimento de diálogo e entendimento na família, agir com honestidade e ética no trabalho e praticar a partilha com os necessitados é ser o empregado responsável e cumprir a tarefa confiado. É este servo que espera o Senhor dando testemunho dos dons recebidos. Pela perseverança no testemunho e na vivência da fé que o cristão é vigilante e é moldado por Deus.
Então Advento é o tempo para sermos moldados por Deus e, assim, nos tornemos obras de Deus. Para isto lembramos que o tempo de Advento tem dois sentidos. Nas primeiras duas semanas, vigilantes e alertas, somos lembrados a esperar a segunda vinda de Jesus no final dos tempos; e nas últimas duas semanas, lembrando a espera dos profetas e Maria, preparamos mais especialmente o nascimento de Jesus em Belém.
Durante todo este tempo de Advento ficamos então na espera, não parados ou despreparados, mas pelo nosso compromisso de fé, na vigilância e na ação. Como o barro é moldado nas mãos do oleiro sem resistência, nós também queremos ser moldados por Deus como servos atentos e vigilantes. Através da criatividade de Deus, somos vasos que carregam um tesouro de valor inestimável, continuamos nossas tarefas e trabalhos como de sempre, mas agora de uma maneira diferente, com o nosso procedimento irrepreensível, confirmados pela graça de Deus e chamados à comunhão com Jesus Cristo, nosso Senhor.
Por: Frei Gregório Joeright, OFM
Referências:
BORTOLINI, Padre José. Roteiros Homiléticos: Anos A, B, C, Festas e Solenidades. Brasil: Paulus Editora, 2014.
COSTA, Padre Antônio Geraldo Dalla. Buscando Novas Águas. Disponível em: https://www.buscandonovasaguas.com/index.php?menu=home.
A Fé Compartilhada – Pe. Luís Pinto Azevedo