A Quarta-Feira de Cinzas abre o tempo litúrgico da Quaresma, com o forte símbolo de penitência que é a imposição das cinzas sobre as nossas frontes, em forma de cruz, lembrando-nos de que somos pó e que ao pó retornaremos, que a nossa vida deve ser um constante retorno ao Evangelho, mediante um caminho de conversão. “Convertei-vos e crede no Evangelho” é o grande chamado do início da Quaresma. Conversão do coração e não somente de aparências ou de palavras vãs. Penitência que se traduz em gestos de misericórdia e compaixão conosco mesmos e com os irmãos e irmãs mais necessitados de nossa presença e ajuda solidária e fraterna.
O Apóstolo São Paulo, na segunda leitura deste dia, exorta seus irmãs e irmãs a se reconciliarem com Deus: “Em nome de Cristo, nós vos suplicamos: deixai-vos reconciliar com Deus” (2Cor 5, 20). “Não recebei em vão a graça de Deus”… “É agora o momento favorável, é agora o dia da salvação” (2Cor 6, 2).
Deus nos convida a nos reconciliarmos com Ele a partir da interioridade do nosso coração. O coração simboliza o santuário mais interior de nós mesmos, lá onde Espírito habita e onde podemos fazer a experiência do encontro mais autêntico e verdadeiro com Deus. Desse encontro com a Fonte do amor e todo Bem é que podemos fazer o caminho missionário da saída de nós mesmos para irmos ao encontro do outro, com quem partilhamos o bem e a bondade de Deus que habita em nós. Neste sentido, toda a Palavra de Deus que escutamos na Quarta-Feira de Cinzas nos convida à coerência que une intimamente a nossa fé à nossa vida. “Rasgar o coração e não as vestes”, praticar as obras da justiça – a esmola, a oração e o jejum – de modo que só Deus saiba e mais ninguém, e para que estas obras, que são fruto da misericórdia e compaixão de Deus em nós, agradem somente a Deus e não se tornem vãs por causa da vaidade humana, que pode estar somente em busca de recompensas.
O tempo da Quaresma é sempre um convite à reconciliação com Deus, conosco mesmos e com as outras pessoas, nossos irmãos e irmãs. Buscar reconstruir a harmonia quebrada pelas situações de pecado, de afastamento de Deus e do próximo, que exigem de cada pessoa um esforço e uma luta pessoal que, frequentemente, é uma luta de auto superação. Uma luta conosco mesmos. Por esta razão, tal como nos convida a Palavra de Deus neste dia, o nosso propósito de penitência quaresmal deve permanecer no segredo do nosso coração: só Deus sabe com a gente qual é esse propósito. Na Quarta-feira de Cinzas, iniciando a Quaresma e no espírito deste tempo forte da liturgia, podemos fazer um propósito de penitência quaresmal, para lutar contra algo que precisamos superar ou vencer em nós mesmos. Quem sabe ao chegarmos à Páscoa, nos sintamos vitoriosos com o Ressuscitado por termos conseguido cumprir a penitência que nos propusemos no início da caminhada quaresmal?
Que o Senhor nos conceda um santo tempo quaresmal, nos dando a graça da Conversão!
Frei Edilson Rocha, OFM