Igreja de Santa Maria de Jesus, anexa ao Convento dos Frades Menores, na cidade italiana de Palermo (Sicília), viveu e morreu São Benedito.
Neste ano de 2024, além de celebrar os oitocentos anos dos estigmas de São Francisco de Assis, a Família Franciscana também celebra os quinhentos anos do nascimento de São Benedito, o negro, filhos de africanos, mas nascido em San Fratello, Messina, em 1524, e falecido em Palermo, em 04 de abril de 1589.
Os restos mortais – a relíquia de São Benedito – que eram conservados na igreja de Santa Maria de Jesus, anexa ao convento dos frades menores, na cidade de Palermo (Sicília, Itália), foram destruídos quase completamente, quando a igreja em que eram conservados, foi completamente destruída por um incêndio. O sinistro aconteceu no dia 25 de julho de 2023, quando a Itália meridional sofria com ondas insuportáveis de calor, resultado das mudanças climáticas. Na mesma região, casas foram destruídas pelo fogo e dezenas de pessoas morreram queimadas. Os bombeiros não deram conta das demandas de chamadas para apagar focos de incêndio na região e não conseguiram chegar à Igreja de Santa Maria, que foi totalmente destruída, incluindo nesta destruição as relíquias de seu construtor, o Beato Mateus Guimerà e as de São Benedito, do qual restaram alguns poucos fragmentos de ossos queimados. Escutei de um frade menor da região que as pessoas no local sentiram que São Benedito se solidarizou com as outras vítimas das queimadas, sendo ele próprio uma das vítimas do fogo. Não há dúvida de que o fogo foi favorecido em sua propagação pela estiagem e pelo calor excessivo, resultado do aquecimento global.
Quem poderia imaginar que, pouco antes da celebração do quinto centenário de seu nascimento, uma tragédia ambiental causasse a perda quase completa das relíquias de um dos santos mais populares do mundo católico, sobretudo na América Latina? São Benedito foi vítima de um dos eventos climáticos cada vez mais frequentes e devastadores que são as queimadas, que assumem em algumas áreas do planeta dimensões cada vez mais catastróficas, como no Brasil, onde os focos de queimadas neste ano de 2024 afetaram 80% do território nacional, com fumaça tóxica e destruição de grandes partes de biomas, de milhões de vidas pequenas e grandes, que são perdidas de modo irreversível. Perda da biodiversidade, em que toda forma de vida é importante. Em cada pequena vida que se acaba, em cada árvore derrubada, em cada curso d’água que seca, é um pedaço importante da humanidade que morre e abrevia o seu fim. Como dizia a Ir. Dorothy Stang: “o fim da floresta é o fim da humanidade”. São Benedito, que descansava inocentemente na Igreja de Santa Maria de Jesus desde 1589, foi mais uma vítima da insanidade do ser humano, nos tempos em que alcançou os mais altos níveis de conhecimento científico, desenvolvimento material, acúmulo de riquezas, tecnologia e desigualdades sociais, pautando-se num paradigma tecnocrático que conduz à desumanização e a um suicídio coletivo em dimensões globais! Será que esta humanidade ainda tem jeito, querido São Benedito?
Por: Frei Edilson Rocha, OFM