Criação da REPAM
“A Igreja Católica na Amazônia Legal busca ser sinal de vida e esperança junto aos povos indígenas, ribeirinhos, quilombolas, extrativistas, povos das florestas, moradores das cidades e na defesa da biodiversidade”. REPAM.
A REPAM, Rede Eclesial Pan-Amazônica, foi fundada no dia 12 de setembro de 2014, em Brasília-DF, pelo Conselho Episcopal Latino-americano (CELAM), Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Secretariado da América Latina e Caribe de Cáritas (SELACC) e a Confederação Latino-americana e Caribenha de Religiosos e Religiosas (CLAR). Ela foi criada com objetivo de construir e fortalecer a rede em defesa da vida – povos e bioma – na Amazônia (Declaração da Criação da Rede Eclesial Pan-Amazônica – REPAM. “Pan-Amazônia: Fonte de vida no coração da Igreja”. Brasília, 12 de setembro de 2014).
A REPAM nasceu a partir de uma provocação da V Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e do Caribe, em Aparecida (SP), em que sugeriu “criar nas Américas a consciência sobre a importância da Amazônia para toda humanidade. Estabelecer entre as Igrejas locais de diversos países sul-americanos, que estão na bacia amazônica, uma pastoral de conjunto com prioridades diferenciadas para criar um modelo de desenvolvimento que privilegie os pobres e sirva ao bem comum” (DAp 475).
Esta provocação da Conferência de Aparecida foi precedida por dinâmicas que ajudaram a criar na Igreja uma consciência Pan-Amazônica.
Os Antecedentes da REPAM.
Alguns destes Encontros Eclesiais na Amazônia marcaram esse itinerário:
Em Santarém – PA, de 24 a 30 de maio de 1972, o “IV Encontro Pastoral da Amazônia. Linha prioritária da Pastoral da Amazônia”. Foi o evento fundamental para pensar a Amazônia. Assim como Medellín foi a aplicação do Concílio Vaticano II para América Latina, Santarém foi a aplicação do Concílio e Medellín para a Amazônia. (Veja-se CNBB, Desafio Missionário, Coletânea de Documentos da Igreja na Amazônia, 2014. P. 9-28).
Em Belém – PA, de 03 a 05 de fevereiro de 1990, em Belém – PA. Documento de Icoaraci. Em Defesa da Vida na Amazônia. III Encontro Inter-regional, Norte 1 e Norte 2. Preocupados pela destruição da Amazônia. (Ibidem, p 59-65).
Em 2003 a CNBB constitui a Comissão Episcopal para a Amazônia no Brasil, para cuidar especialmente da evangelização na Região.
Em Manaus – AM, de 07 a 09 de outubro de 2004. Documento das Conclusões do Encontro com os Bispos da Região da Amazônia Continental, onde se solicita ao CELAM criar um serviço para atender a Amazônia Continental e a V Conferência de Aparecida incluir um núcleo temático sobre o assunto da Amazônia.
Em Brasília – DF, de 09 a 11 de junho de 2005 se realiza o Seminário “Amazônia, Desafios e Perspectivas para a Missão” (Veja-se as memórias do seminário: Amazônia, Desafios e Perspectivas para a Missão”. Edições Paulinas, 2005, 343 p).
Em Aparecida – SP, de 13 a 31 de maio de 2007, a V Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e do Caribe. A partir de Aparecida inicia-se um “diálogo de maturação”.
Em Manaus, de 11 a 13 de setembro de 2007, se realiza o IX Encontro dos Bispos da Amazônia, para rever a evangelização que se está realizando na Amazônia à luz da V Conferência Episcopal Latinoamericana de Aparecida.
E se deram múltiplas e valiosas experiências e reflexões eclesiais sobre Panamazônia e também encontros internacionais de intercâmbio de experiências como: Encontro Regional sobre Amazônia, em outubro de 2009; Seminário de Espiritualidade Cristiana e Ecologia, CELAM, em agosto de 2010; Seminário de Amazonia: Inter-Congrecionalidad e Inter-Institucionalidad, em outubro de 2011.
Em Santarém, de 02 a 06 de julho de 2012: “Igreja na Amazônia: Memória e Compromisso”, celebrando os 40 anos de Santarém-1972, se optou por fortalecer o compromisso profético e a formação a partir do seguimento de Jesus.
Somados a essas experiências se deram encontros próximos à criação da REPAM com um olhar eclesial e pastoral de conjunto mais amplo: Encontro Pan-Amazônico em Puyo, abril de 2013; Encontro Pan-Amazônico, “Desafios, Estratégias e Ações, em Lima, julho de 2013, Primeiro Encontro da Igreja Católica na Amazônia Legal, em Manaus, outubro de 2013. Assim se chegou à fundação, no dia 12 de setembro de 2014 (Veja-se Informe ejecutivo del Encuentro Fundacional de la Red Eclesial Pan-Amazónica, 9 al 12 de Septiembre de 2014).
Abrangência da REPAM, Rede Eclesial Pan-Amazônica
A Rede abrange os nove países que têm a floresta amazônica em seu território: Brasil, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, Guiana, Guiana Francesa e Suriname.
O movimento social se apropriou do conceito “Pan-Amazônico” como sendo um conceito de luta dos povos e comunidades tradicionais, porque a Amazônia não é só uma questão física e geográfica, mas são povos que enfrentam os mesmos problemas de viverem e sobreviverem numa das últimas reservas de floresta tropical úmida do mundo, e também uma das últimas reservas de biodiversidade. Os países da Pan-amazônia sofrem grandes pressões de setores empresariais e estatais, uma série de interesses econômicos pelas riquezas materiais do lugar: minerais, madeira, água e biodiversidade. A Pan-amazônia é uma categoria de luta e a construção de uma identidade para a luta.
A missão da REPAM
Desde uma plataforma de intercâmbio e enriquecimento mútuo e uma confluência de esforços das Igrejas locais, congregações religiosas, instituições eclesiais e de leigos, e organizações afins, com voz profética e ao serviço da vida, da criação, dos pobres e do bem comum, nos propomos como Rede Eclesial Pan-amazônica, REPAM, potenciar de maneira articulada, a ação que realiza a Igreja em território Pan-Amazônico, atualizando e concretando opções apostólicas conjuntas, integrais e multi escalares, no marco da doutrina e das orientações da Igreja. Os sujeitos prioritários da Missão da REPAM são os povos indígenas da Pan-Amazônia com sua riqueza e diversidade cultural, e os grupos mais vulneráveis no seu território.
Organização da REPAM
O dinamismo da Rede Eclesial Pan-Amazônica, requer da participação ativa de cada uma das instâncias eclesiais, sejam elas organismos ou Igrejas locais, através das diversas iniciativas, ações, propostas, projetos e programas definidos pela Rede. Para garantir esse dinamismo a Rede conta com a seguinte estrutura de funcionamento e seus órgãos:
A Assembleia constituída pelas diversas instâncias eclesiais, se reunirá a cada dois anos de forma ordinária. O Comité Diretivo integrado por membros das instâncias que convocam e coordenam a Rede: Conselho Episcopal Latinoamericano e do Caribe, CELAM; Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, CNBB; Secretariado da América Latina e Caribe de Caritas (SELACC); e Conferencia Latino-americana dos Religiosos/as, CLAR.
Existe a secretaria executiva pan-amazônica e as secretarias executivas nacionais. E em cada arquidiocese, diocese ou prelazia estão os Comitês Locais REPAM, quem coordena as atividades.
Os eixos da REPAM se constituem a nível nacional e local, como organização estratégica que busca executar os objetivos específicos da REPAM e estar em contínuo diálogo com as lideranças nos territórios e com organismos parceiros na defesa da vida na Amazônia. Os eixos em que se distribuem as propostas de atuação da REPAM – Brasil são:
- Povos originários e comunidades tradicionais da Amazônia
- Igreja em Fronteiras
- Direitos Humanos – Incidência Internacional
- Formação e Métodos Pastorais
- Justiça socioambiental e Bem Viver
- Comunicação para a Transformação Social
Atuação da REPAM-Brasil
A atuação da REPAM-Brasil abrange os nove Estados que compõem a Amazônia Legal. O conceito de Amazônia Legal foi instituído pelo governo brasileiro como forma de planejar e promover o desenvolvimento social e econômico dos estados da região amazônica, que historicamente compartilham os mesmos desafios econômicos, políticos e sociais. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a Amazônia Legal corresponde a 61% do território brasileiro e engloba nove estados: Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins e parte do Estado do Maranhão, ocupando uma área de 5.217.423 km².
A REPAM-Brasil se consolidou a partir dos Seminários Laudato Si’, realizados entre 2016 e 2017, em 15 dioceses e prelazias da Amazônia brasileira, e concluindo com o Seminário Geral, em novembro de 2017. A Rede Eclesial Pan-Amazônica – REPAM-Brasil e a Comissão Especial para Amazônia da CNBB vêm acompanhando os Comitês que se formaram após a realização destes seminários. Cada “Comitê local REPAM”, caminha com as características próprias da Igreja particular na qual está inserido, em sintonia com o bispo e seu Conselho Diocesano de Evangelização.
Também se tratou neste ano de 2017 de organizar os diversos eixos a nível nacional e a nível local.
No dia 15 de outubro de 2017, foi convocado o Sínodo para Novos Caminhos para a Amazônia e para uma Ecologia Integral. A REPAM foi encarregada de organizar a animação e organização da escuta sinodal em toda a Pan-Amazônia. O êxito do Sínodo se deve em parte à colaboração da REPAM em cada um dos países e igrejas locais.
Em 2018, se iniciam os Encontros de Escuta para preparar o Sínodo. Foram escutadas umas 87.000 pessoas em toda a Pan-amazônia. Com esse material foi realizado o “instrumento de trabalho” que foi estudado em 2019 antes do Sínodo, nas igrejas locais.
De 21 a 23 de agosto de 2019 se realiza em Manaus o III Encontro da Igreja Católica na Amazônia Legal como preparação para o Sínodo da Amazônia.
De 28 a 30 de agosto de 2019, se realiza em Belém o Encontro de Bispos Sinodais, Peritos e Auditores do Sínodo.
Sínodo
Realizado em Roma de 05 à 26 de outubro de 2019. Onde foi elaborado o Documento Final do Sínodo.
02 a 05 de dezembro de 2019. Encontro dos Comités e Eixos da REPÁM-Brasil em Brasília. Para avaliação e planejamento de atividades após o Sínodo, com o encarrego de colaborar na divulgação das conclusões do Sínodo.
Em fevereiro de 2020 houve um fato muito significativo: a promulgação da Exortação Apostólica do Papa Francisco “Querida Amazônia”.
Em 2020 foram realizados grandes eventos virtuais internacionais para lançar o grito em defesa da Panamazônia. Se iniciaram a “Campanha Amazoníza-te”, para aprofundar nas raízes e na identidade amazônidas, e a “Campanha A Vida por um Fío”, de proteção comunitária de defensores de direitos humanos ameaçados. Se cria o “Fórum pelos direitos da natureza” para trabalhar numa conscientização que leve a leis ou uma lei que proteja os direitos da natureza. Se fez presente no monitoramento da pandemia da Covid-19 na Pan-amazônia.
Com a criação pelo Papa Francisco da CEAMA, Conferência Eclesial Amazônia, pedida pelo Sínodo para Amazônia, a REPAM fica vinculada à CEAMA como órgão articulador dela.
Em 2021 se lança uma proposta de formação com as Caravanas Formativas para tratar das cinco conversões de que trata o Documento Final do Francisco Sínodo e os quatro sonhos de que trata a exortação Querida Amazônia.
Pe. Guillermo Cardona Grisales, SJ