Neste dia da festa de Santa Clara, ao celebrar a Eucaristia matinal com a fraternidade, em casa, eu lembrava aos confrades da importância de Santa Clara em toda história do movimento franciscano. Lembrava que o carisma franciscano e todo o movimento franciscano não seria o que foi, ao longo destes mais de 800 anos, sem a presença de Clara de Assis e tudo o que ela significa no carisma franciscano e clareano, sobretudo nos momentos mais difíceis e decisivos da vida do movimento iniciado pelo santo pobrezinho de Assis e fortalecido e animado por Santa Clara.
Tenho consciência de que não estou dizendo nada de novo ao me referir à “plantinha de São Francisco de Assis” como algo decisivo no caminho do carisma Franciscano/Clareana. Minha reflexão é despretensiosa em todos os sentidos. Mas quero compartilhar com vocês que leem este informativo semanal da Custódia São Benedito da Amazônia.
Neste dia de Santa Clara, ao pensar sobre o significado luminoso da existência desta santa na Igreja e no movimento franciscano, pus-me a folhear as fontes francisclarianas para percorrer algumas passagens da vida de Santa Clara e encontrar aqueles acontecimentos que envolvem a santa e os frades, especialmente o seu grande amigo e inspirador vocacional São Francisco de Assis. Lembrei-me de algumas passagens em que São Francisco pediu orações e mesmo conselhos a Santa Clara, para si e para os seus confrades. Um desses episódios é quando Francisco teve uma dúvida atroz sobre que estilo de vida escolher: se ficar no eremitério, em oração, ou se sair a pregar pelo mundo. Santa Clara não só rezava, mas dava dicas preciosas para o amigo espiritual (LM 12, 2).
Nesta busca de “momentos decisivos” e do apoio e amizade de Clara, lembrei-me de um capítulo da obra de Eloi Leclerc, Sabedoria dum Pobre (Tipografia Editorial Franciscana, Braga 1968), em que o autor trata justamente de um momento de profunda crise (hoje dizemos “depressão”) na vida do pobrezinho de Assis. Como dizemos hoje, Francisco estava muito “pra baixo”, muito desanimado e sua situação estava preocupando especialmente os irmãos mais chegados a ele, como o companheiro amigo e fiel Frei Leão. O Capítulo VI, do poético texto “Sabedoria dum pobre”, intitulado “Será a aurora que desponta?”, nos conta que Frei Leão conseguiu convencer São Francisco a sair do seu isolamento e tristeza para fazer uma visita a Santa Clara, no Mosteiro de São Damião. Nos comentários de sua narrativa e nos diálogos imaginados pelo autor neste encontro entre Santa Clara e São Francisco, podemos ver uma síntese do que as fontes nos narram a respeito da amizade espiritual e de tantos encontros e diálogos que revelam a maturidade da experiência de Deus, vivida por estes dois santos contemporâneos e do amadurecimento de uma amizade que se estendeu a toda a família franciscana, desde os seus primórdios. Depois de alguns dias passados numa cabana anexa a São Damião, tendo a companhia de Frei Leão e sendo cuidado pela amiga para recuperar a saúde e as forças, Francisco, também reconfortado pelos santos diálogos com Clara, recuperou a saúde do corpo e a paz de espírito. Assim, ele sentiu-se forte para retomar o caminho de volta para casa e recomeçar a vida, vista com outro olhar. No conteúdo dos diálogos entre os dois santos, pode-se perceber como os sábios conselhos de Santa Clara iluminam e ajudam o amigo a reencontrar a paz e confiar mais no “tempo de Deus”.
O que podemos aprender da história de amizade entre Santa Clara e São Francisco? Poderíamos acrescentar aqui também a amizade de Frei Leão, certamente decisiva para a vocação de Francisco. Penso que podemos aprender que nossos amigos espirituais nos fortalecem em nossa vocação. Mais: eles e elas nos apoiam e sustentam e não nos deixam sucumbir quando as crises e o desânimo batem às portas do nosso coração. Como Santa Clara e São Francisco se apoiaram e se ajudaram na perseverança e fidelidade à vocação pessoal, assim também nós, na família franciscana e clareana, em nossas comunidades e fraternidades, possamos crescer e amadurecer em nossas amizades espirituais.
Por: Frei Edilson Rocha, OFM