Santa Clara, pobre dama da querida Amazônia

Foto: Missão São Francisco do Cururu – Maribeth Joeright, 2016

A vida de Clara, como o nome nos permite dizer é um cadeeiro aceso na Igreja e no mundo. A virgem Clara ilumina igualmente o chão amazônico e é nisto que queremos agora centrar a nossa reflexão. Pois vemos na santa uma mulher humilde, orante e servidora que clareia os passos dos amazônidas para a busca da terra sem males. Observamos que um primeiro traço de Clara é ser uma moça sonhadora, encantada com a vida e com o projeto de Deus. A canoa da vida dela ganha novos rumos a partir de sua sede pessoal e do testemunho de Francisco. É o Divino Amor que move a Santa de Assis, como nas narrativas míticas da Lua e da Vitória-Régia. Seu Amado é um noivo crucificado-ressuscitado por quem ela suspira e age movida por uma força enorme.

O casamento de Clara com Cristo se dá em um processo de iniciação, de formação, como nas diversas culturas amazônicas. A plantinha de Assis é uma “moça nova”, transcende a casa paterna e tem seus cabelos cortados em sinal da sua mudança de estado de vida. Esse rito de passagem no existir de Clara é sinal de acolhida, de desprendimento e de união. Esse abando de Clara é gesto que educa para aprender a ter mais esse olhar para os ritmos do existir, celebrando cada conversão. Sair pela porta dos mortos e fugir de casa, na noite e ser recebida com luzes pelos frades, junto com Francisco é expressão do novo caminho de Clara, e quantos não andam na estrada do medo, da opressão, e precisam achar a caminhos novos, como nos indica ainda o sínodo para Amazônia.

(Foto das Irmãs SMIC na Missão São Francisco – Maribeth Joeright, 2016)

A união de Clara com Cristo é aliança, afeto dedicado que se desdobra em comunhão, uma procura com intenso ardor. O Cristo-Amado na Amazônia é, recordando a simbologia do Cântico dos Cânticos, aquele que se reencontra depois dos afazeres do dia. É que se espera retornar da pescaria, do roçado, ou dos seus serviços diversos e que novamente se encontra para com alegria comer juntos os frutos da Terra. Essa comunhão de Clara em Cristo que gera vida partilhada é que precisamos hoje no nosso solo amazônico para que seja fecundado por uma nova forma de relação. Os suspiros de Clara por Cristo devem nos inspirar hoje a desejar e trabalhar para que a presença de Cristo floresça mais ainda na Amazônia.

Outro aspecto luminoso da vida de Clara é sua coragem. A ousadia e o testemunho profético de Clara não se encerraram na casa da família e nem nos muros do convento em São Damião, mas se espelharam pelo mundo todo como sementes da vida de pobreza evangélica. Uma mulher firme no seu ideal de viver a pobreza. Nela o espelho que reflete Cristo é um amor que faz testemunhar a vida plena para todos e todas. O amoroso viver de Clara nos indica que partamos para uma evangelização com rosto amazônico, encarnada e libertadora. Vamos ao encontro e percebamos como são as luminosas as mulheres da Amazônia!

Na Amazônia, diversas mulheres são exemplos dessa força no amor expressa em Clara. E desse cuidado com as irmãs e filhas na pobreza, é que Clara se tornou uma mãe para os que dela se achegam. Com os conselhos sábios, com o exemplo e afeto, ela se apresenta como imagem da Amazônia que se doa. No entanto esses dons da Mãe Amazônia acabaram sendo alvos do ataque e da exploração dos que somente visam o lucro, e estamos em muitos momentos acuados e com medo, como quando ameaçaram invadiram Assis. Aqui se pode evoca novamente o destemor e a confiança de Clara em Cristo para que se possa seguir na luta.

Foto: Maribeth Joeright, 2016

Clara foi identificada como a “plantinha” que cresceu no solo de Assis e que se encantou com a vida iniciada por Francisco. Os dois, Francisco e Clara, são as duas faces de um mesmo testemunho de um modo de vida diferente e nos colocam no mesmo caminho do Cristo pobre. Ambos não ficaram sozinhos em seu projeto e começaram a viver como comunidade, no grupo dos frades menores e com as pobres damas, por isso, são também modelo de comunhão. Hoje, em meio dos gritos que ouvimos em nossa Amazônia, somos convidados e dar respostas como os de Clara e Francisco seguindo os rumos apontados pelo Sínodo para Pan-Amazônia. Como Clara reagiu diante das ameaças a vida do povo de Assis, assim precisamos despertar, e firmes em nossa fé, defender a nossa Casa Comum. No amor e na simplicidade, trabalhemos juntos pela vida em plenitude no coração da Terra. Desse modo, Santa Clara nos ilumina a viver em busca de Cristo como nosso grande amor, que pulsa no coração da Querida Amazônia.

Texto: Frei Fábio Vasconcelos, OFM

Share on facebook
Share on twitter
Share on whatsapp
Share on email
Share on print