São Benedito é, de certo, uma presença no coração dos amazônidas. Para atestar esse fato não faltam manifestações de piedade popular. Apenas para citar uns exemplos paraenses podemos ver a Marujada de Bragança, o gambá de Pinhel e o Marambiré de Alenquer. A memória deste santo é um sinônimo de minoridade e alegria franciscana. Benedito é um santo que irmana, que congrega e gera fraternidade, por esse motivo surgiram e surgem muitas irmandades tendo como patrono o santo.
O nome Benedito tem relação com bendizer, ou seja, falar bem de alguém, abençoar. Ao bendizer Benedito agradecemos também os dons da bondade divina. As pessoas que vivem na Amazônia com toda certeza podem proclamar a bênção de Deus que é habitar essa região. Benditos também são os que se empenham pelo cuidado da casa comum. Por inspiração de Francisco e de São Benedito podemos louvar a santa simplicidade e o amor pelos irmãos e irmãs.
Frei Benedito de San Fratello exerceu trabalhos ligados à vida do convento onde viveu. Ele ficou conhecido, entre muitas coisas, por ser um santo cozinheiro. Um verso popular assim o reconhece: “Meu São Benedito já foi cozinheiro e hoje ele é santo do Deus do verdadeiro”. De fato, cozinhar é um dom ou uma arte, tem a ver com dedicação, conhecimento, transformação e serviço. Entre as panelas de São Benedito com certeza não faltavam o selo e a preocupação com a sua fraternidade.
Um sinal também da sua proximidade com os pobres está contido em algumas esculturas do santo que o retrata no gesto da distribuição dos pães. Em nossos tempos de insegurança alimentar, em que muitos passam fome, a partilha e amor de Benedito devem nos inspirar. E entre os povos da Amazônia essa triste realidade é dolorosamente presente. Em entrevista ao Site IHU, o professor Mário Tito Barros Almeida afirma que: “A Amazônia é rica, mas ela não produz riqueza; ela produz ricos” e com base em dados de 2022, 18% das famílias da região norte do Brasil estão na insegurança alimentar, a maior taxa entre outras partes do país.
Outra característica de São Benedito é a sua afrodescendência, seus pais foram escravizados e foram levados da Etiópia para a Sicília, onde o santo nasceu. A Amazônia abriga diversas comunidades quilombolas. Essas raízes negras muitas vezes parecem ser esquecidas, e por isso muitas lideranças fortemente afirmam: “A Amazônia também é negra”. Unidos ao Santo Negro possamos cultivar uma atitude antirracista neste solo amazônico. Ecoemos os tambores de São Benedito ressoando os cantos de libertação dos povos da querida Amazônia.
Benedito é então uma fraterna inspiração para seguirmos o evangelho no encantador e desafiante ambiente amazônico. Sua santidade que floresce na cultura popular, cheia de alegria e cores, nos ajude a festejar os dons diversos que se unem em harmonia. Caminhando com São Benedito por entre as cidades, matas e rios possamos testemunhar a vida de irmãos e menores. O cercar de flores e fitas o andor de Benedito, impulsiona a trabalhar pela alegria e o bem viver de todos e todas.
Comunicação Custodial
Referências
INSTITUTO HUMANITAS UNISINOS. Fome na Amazônia: ela é rica, mas não produz riqueza; produz ricos. Entrevista especial com Mário Tito Barros Almeida: “O reaparecimento da fome no Brasil significa o retorno de pessoas para classes sociais mais baixas”, alerta o pesquisador. Disponível em: <https://www.ihu.unisinos.br/categorias/159-entrevistas/610695-fome-na-amazonia-ela-e-rica-mas-nao-produz-riqueza-produz-ricos-entrevista-especial-com-mario-tito-barros-almeida>. Acesso em: 01 out. 2022.
OLIVEIRA, Joana. A Amazônia também é negra. Disponível em: https://brasil.elpais.com /brasil/2019/11/19/politica/1574164761_425337.html. Acesso em: 01 out. 2022.