São Francisco de Assis e a Bíblia

Foto: Arquivo Custodial

A conexão de São Francisco com a Bíblia é algo que nos motiva a cada dia para viver esse jeito franciscano de ser, quando deixamos ser levados pelo evangelho de Cristo Jesus, Francisco viveu de  modo radical o evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo sendo tomado pela vida de Cristo. Radical no sentido de viver livre, ou seja, entregar sua vida para o Reino de Deus, acolhendo e servindo a todas as suas criaturas. 

Podemos observar quando Francisco ao ver os leprosos, sente compaixão e fez misericórdia com eles (cf. Test. 2), atitudes altamente evangélicas. Jesus Cristo torna-se alguém essencial para a vida de Francisco. Jesus viveu uma trajetória de dedicação e cuidado com os mais pobres, mostrou-se próximo daqueles que eram discriminados e desprezados pela sociedade.  

Francisco deixou que Cristo agisse em sua vida e, mudando o amargo em doçura, foi conduzido pelo Senhor até os excluídos. É esse o nosso dever enquanto Cristãos: encontrar o Cristo que se fez pobre (2Cor 8,9), que anunciou o Reino de Deus, e servi-lo, com misericórdia, nos irmãos e irmãs mais necessitados. 

Essa conexão com Deus que Francisco, a partir da bíblia e principalmente com o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, nos remete a  aspectos da vida do Santo de Assis que deixou  sua vida missionária viva pelas Sagradas Escrituras. Deus guiou e agiu na vida de Francisco. Ele pensava e atuava de um modo diferente com os fiéis e principalmente com os mais desfavorecidos. 

Ouvindo Frei Francisco que os discípulos de Cristo não deviam possuir ouro, prata ou dinheiro, nem levar pelo caminho bolsa, sacola, nem pão ou bastão, não ter calçado nem duas túnicas, mas pregar o reino de Deus e a penitência, ficou logo exultante e disse: “É isso que eu quero, é isso que eu procuro, é isso que eu desejo fazer com todo o meu coração”. (1 Celano 22). Francisco colocou em prática aquilo que ouvi e o que lhe fora explicado pelo sacerdote. 

“E depois que o Senhor me deu irmãos, ninguém me mostrou o que deveria fazer, mas o Altíssimo me revelou que eu deveria viver segundo a forma do santo Evangelho” (Test. 14). O evangelho estará presente em nossas vidas e Francisco sente ardentemente o desejo de viver com seus irmãos, que o Senhor lhe tinha concedido para conviver. O evangelho é o que nos mantém firmes em nossas caminhadas de Fé enquanto comunidade de irmãos e irmãs que pensam num mundo de Paz e Bem. No início de sua regra, a qual estamos celebrando os 800 anos da confirmação neste ano de 2023, Francisco deixa bem claro no primeiro capítulo o modo como o Frade deve viver: “Em nome do Senhor! Começa a vida dos Frades Menores: A regra e a vida dos Frades Menores é esta: observar o santo Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, vivendo em obediência, sem propriedade e em castidade” (Regra Bulada 1,1). Viver o Evangelho é o suficiente e ele traz em sua regra o viver em Cristo. Observar sempre esta vida e regra é algo que Francisco nos pede de todo o seu coração. 

Algo bonito em Francisco no ano de 1223, perto do Natal, era o seu desejo em preparar um presépio para celebrar o nascimento do menino Deus de uma forma diferente, ele queria um aspecto mais presente para contemplar naquela noite o nascer de Jesus Cristo. São Francisco reconhece o amor de Deus e tem esse gesto de preparar um presépio e isso parte de sua admiração do gesto de Deus: “Pois Deus amou tanto o mundo, que entregou seu Filho único, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Pois Deus não enviou o seu Filho ao mundo para julgar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele” (Jo 3, 16 -17).

Outra situação que Francisco opera com os seus irmãos e com as criaturas que o rodeavam, é o Cântico das Criaturas, que celebra a criação como  filiação de Deus. Francisco chama as criaturas de irmãs(ãos) porque são comunicação de Deus. Louvado seja, meu Senhor, por todas as tuas obras, pois elas nos sustentam e nos dão sentido de viver e servir. No antigo testamento, na profecia de Daniel, é nos apresentado um louvor, em honra as criaturas que Deus criou, que acontece numa fornalha ardente, onde três jovens, milagrosamente preservados das chamas, entoam esta canção. Este hino é semelhante a uma ladainha, repetitiva e, ao mesmo tempo, nova. As suas invocações elevam-se até Deus. São Francisco, no cântico das Criaturas, mais uma vez, torna o louvor dos três jovens algo bem atual e que seja sempre refletido e colocado em prática a preservação das obras de Deus. 

No entanto, essa afinidade de Francisco com a bíblia foi importante para ele mesmo que desejava as coisas do céu e deixou ser conduzido pelas coisas que o Altíssimo revelava nos seus momentos de intimidade com Deus. O jovem Francisco de Assis, enquanto descobria a sua vocação, rezava em meio a pequenas igrejas: “Senhor, que queres que eu faça?” Ele buscava ardentemente mais que uma resposta para a sua vida. Estava à procura de um modo novo para viver o amor de Deus. E foi importante para seus irmãos que continuaram esse projeto de vida e que mexe conosco até os dias atuais quando tratamos de assuntos como o cuidado com a casa comum, a paz e o amor em uma fraternidade universal onde todas as raças e línguas tenham o mesmo diálogo. 

 

Por: Frei Leandro Kamal, OFM

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