Segundo Domingo do Advento

Todos nós já tivemos a experiência de andar por um caminho e são vários os tipos de caminho. Aqui na Amazônia há muitos caminhos: há caminhos fechados por meio da mata, que só dá para andar em fila indiana; há o caminho do rio que é largo, mas no tempo da seca é preciso conhecer o canal, senão pode encalhar; há caminhos na cidade que normalmente são as praças e onde não tem grama, pois o povo faz atalhos e assim cria caminhos. Toda caminhada exige decisões por onde vamos andar. É sempre preciso escolher nossos caminhos com cuidado, pois pode ser um caminho mais curto, mas cheio de buracos e, por isso, às vezes é melhor o caminho mais longo, pois teremos a garantia de chegar. Podemos dizer que a vida é um caminho, pois todos os dias temos diante de nós vários caminhos à nossa disposição e é preciso escolher qual vamos seguir.

Advento, por exemplo, é um caminho em preparação para o Natal. Nas notícias falam já sobre as previsões do Natal. Será bom ou ruim conforme as vendas no comércio. O Natal se torna uma grande festa do consumo e se perde o verdadeiro sentido do nascimento de Jesus. O Evangelho apresenta um outro caminho. A figura de João Batista representa o caminho do anticonsumo, pois vestia roupa de pele de camelo, comia gafanhotos e andava no deserto. A pregação de João é mudança de vida e transformação: “Raça de cobras venenosas, quem vos ensinou a fugir da ira que vai chegar? Produzi frutos que provem a vossa conversão” (Mt 3, 7-8). Para João não basta ser “filho de Abraão”, é preciso a mudança de mentalidade e da maneira de pensar e agir. Em outras palavras, não basta ser batizado, nós como cristãos precisamos trilhar o caminho do bem, praticar os valores do evangelho e viver de acordo com os dons do Espírito que recebemos no batismo: “Eu vos batizo com água para a conversão, mas aquele que vem depois de mim é mais forte do que eu. Eu nem sou digno de carregar suas sandálias. Ele vos batizará com Espírito Santo e com fogo” (Mt 3, 11). 

Esta mudança de vida e de ação nos traz uma grande esperança. O profeta Isaías fala da vinda do Messias que vai reavivar nossa esperança: “Naqueles dias, nascerá uma haste do tronco de Jessé, surgirá um rebento de uma flor” (Is 11, 1). É desta esperança que nascerá também um novo mundo e a criação retornará à sua origem como desejada por Deus: “A vaca e o urso pastarão lado a lado, enquanto suas crias descansam juntas; o leão comerá palha como o boi; a criança de peito vai brincar em cima do buraco da cobra venenosa; e o menino desmamado não temerá pôr a mão na toca da serpente” (Is 11, 7-8). O profeta ainda confirma que “não haverá danos e nem morte”. Será uma nova criação.

Qual o caminho que vamos escolher neste Natal? Advento não é o tempo de preparar os presentes, a comida e as festas, mas é o tempo de caminhar no encontro pessoal e comunitário com Jesus. E esta caminhada exige mudança de mentalidade, de pensamentos e ações.

É uma mudança que nos leva a nadar contra a correnteza, embora seja mais forte que a do Rio Amazonas. Significa produzir os frutos de justiça e paz diante de um mundo de ódio e injustiça, pois “o machado já está na raiz das árvores”.  Natal é escolher o caminho da transformação e não de consumo e festas. Escolher este caminho significa: praticar a partilha através do Natal Solidário cujo objetivo é dar às famílias mais necessitadas cestas básicas; reconhecer nossa responsabilidade na missão de evangelizar pela nossa oferta na Campanha da Evangelização promovida pela CNNB todos os anos neste tempo de Advento; é celebrar junta a Eucaristia onde pelo compromisso de fé não somente relembramos o nascimento de Jesus, mas fazemos com que este mesmo Jesus continue nascendo entre nós para nos devolver a nossa esperança do Reino de acordo como o plano criador de Deus nosso Pai. 

São muitos os caminhos na nossa frente e com muitos perigos, alguns são estreitos, outros tortos e outros largos, mas neste Advento precisamos trilhar um novo caminho de conversão e transformação, pois “Ele está com a pá na mão; ele vai limpar sua eira e recolher seu trigo no celeiro; mas a palha ele a queimará no fogo que não se apaga” (Mt 3, 12).

 

Frei Gregório Joerigth, OFM

 


Referências:

BORTOLINI, Padre José. Roteiros Homiléticos: Anos A, B, C, Festas e Solenidades. Brasil: Paulus Editora, 2014.

COSTA, Padre Antônio Geraldo Dalla. Buscando Novas Águas. Disponível em: https://www.buscandonovasaguas.com/index.php?menu=home. Acesso em: 03 fev. 2022.

A Fé Compartilhada – Pe. Luis Pinto Azevedo

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