Solidariedade: um ato de amor desinteressado

Foto: Maribeth Joeright

No dia 10 de agosto comemora-se mundialmente o dia da Solidariedade Cristã. Em uma sociedade, cada vez mais dilacerada pelas injustiças, pela ganância, pela divisão, pelo preconceito, pelo egoísmo, pela falta de amor, boa parte das pessoas tornam-se apáticas e insensíveis a dor dos outros – características estas da globalização da indiferença, como nos alerta o Papa Francisco. A fim de combater essa onda crescente, que é conhecida também como cultura da indiferença, todo ser humano é convidado a ir de encontro a essa cultura.

Os cristãos, de modo particular, devemos viver a solidariedade como sendo seguidores daquEle que muito amou e se fez solidário para com todos os que necessitavam de alguém que lhes estendesse a mão e lhes olhasse nos olhos. Nas Sagradas Escrituras, há várias passagens nas quais o Mestre tem atitudes de olhar o outro em suas necessidades. Atitudes estas totalmente desinteressadas, livres, tomadas em gratuidade; aliás, gratuidade é palavra tão cara para os nossos dias. Debrucemo-nos em alguns exemplos:

No Evangelho de João (Jo 8, 1 – 11), diante de Jesus, é apresentada uma mulher que havia sido surpreendida em flagrante adultério. Os escribas e fariseus esperavam do Messias uma atitude de reprovação em relação à acusação contra a mulher – com o intuito de pô-lo à prova e o acusarem, utilizando-se da Lei Mosaica.

Contrariando tais expectativas, Jesus a reconhece como um ser humano e, antes de tudo, sente compaixão dela e diz a eles: “Quem dentre vós estiver sem pecado, seja o primeiro a atirar-lhe a pedra”. E assim se segue, “Mulher, onde estão os que te acusavam? Ninguém te condenou? Nem eu te condeno.” Contudo, admoesta-a, “Vai e não tornes a pecar”. Desse modo, sendo solidário com a mulher pecadora, o Filho de Deus impede que ocorra uma injustiça, algo muito comum àquela época, quando as mulheres não tinham direitos assegurados.

Talvez um dos escritos sagrados mais utilizados para destacar a solidariedade esteja no Evangelho de Lucas (Lc 10, 25 – 37), no qual um mestre da Lei, querendo pôr Jesus em dificuldade, perguntou-lhe: “Quem é o meu próximo?” e o Nazareno responde-o a partir de uma narrativa: a conhecida “parábola do Bom Samaritano”. Nessa narrativa, ainda que o judeu (ferido à beira do caminho) e o samaritano tenham posições religiosas contrárias é este quem lhe estende os braços e sente misericórdia.

Essas atitudes de compaixão de Jesus, de um amor desinteressado e solidário a todos aqueles que se encontravam ao seu redor, são encontradas em várias outras passagens do Evangelho. Outro exemplo é visto, quando, na subida do Monte Calvário, o mestre é surpreendido por um certo Simão de Cirene, como nos é relatado no Evangelho de Mateus (Mt 32, 33). Dessa vez, o Cirineu é quem estende as mãos para Jesus, mesmo sendo obrigado a isso pelos algozes. Talvez tenha sido uma das poucas pessoas que sentiu, literalmente, o peso da Cruz do Salvador; o peso da humanidade, o peso do amor.

Divulgação: Fundação Matias Machline

A partir dos exemplos bíblicos apresentados, neste dia da Solidariedade Cristã, nós cristãos, seja qual for a nossa denominação religiosa, somos chamados à comunhão na busca por uma sociedade mais justa, solidária e fraterna, que não seja indiferente, mas que proporcione uma vida digna acolhendo a todas as pessoas; adotando, desse modo, o exemplo de solidariedade de Jesus em nossas vidas.

Não se deve esquecer de que o ato de estender a mão a alguém é um ato de amor, mas de um amor desinteressado, que não espera nada em troca. Ato esse que deveria partir do coração. De onde olhar o outro como pessoa, como irmão ou irmã, independe de credo, de cultura ou de qualquer outra perspectiva que possa construir um muro entre nós.

Enquanto escrevo sobre solidariedade, recordo-me de um trecho de uma oração que fiz enquanto estava no ano do noviciado, por ocasião da redação do meu projeto de vida naquele tempo, o trecho diz o seguinte: “que eu estenda a mão para levantar o caído e quando precisar, nunca me falte alguém que também a estenda para mim.”

Concluo esta breve reflexão para o Dia Mundial da Solidariedade Cristã com um pequeno pensamento do Papa Francisco por ocasião da Audiência Geral, de novembro de 2013, na qual ele disse: “Sem amor, a solidariedade é vã”.

Frei Walter Mendes de Almeida Neto, OFM

 

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