Frei Vagner Sena, 38 anos, natural de Óbidos (PA), nasceu no dia 20 de abril de 1985. O frade será ordenado presbítero da Igreja Católica, no dia 24 de junho de 2023, dia de São João. A ordenação será realizada na Catedral Sant´Ana, em Óbidos, às 19h. O tema escolhido pelo frade, foi: “Tenham em vocês os mesmo sentimentos que havia em Cristo Jesus” (Filipenses 2,5). A Ação de Graça será no dia seguinte, às 8h30, na Igreja Santa Terezinha.
O frade conversou com a equipe de comunicação da custódia e contou um pouco sobre ele e como tudo começou. Já com 20 anos, Frei Vagner Sena, resolveu com alguns amigos “reativar” um grupo de jovens da comunidade que frequentava, sendo esse grupo que tinha sido fundado pelos irmãos do frei e dos amigos. Veja a seguir um pouco da conversa que tivemos com o frade.
Conte um pouco quem era o senhor antes de se sentir chamado para ser um frade?
FVS: Antes de iniciar meu discernimento vocacional e me sentir chamado a ser um frade Franciscano, eu frequentava a comunidade de Santa Terezinha com meus pais, minha avó e meus irmãos. Em 2006, eu e alguns amigos decidimos reorganizar o grupo de jovens da comunidade. O grupo se chamava “”Cristo Esperança Única” era o mesmo grupo que nossos irmãos e irmãs haviam fundado há muitos anos atrás. Em pouco tempo fui indicado para a coordenação paroquial e em seguida para a coordenação da Pastoral da Juventude (PJ) da Diocese de Óbidos representando a Paróquia de Sant’Ana.
No campo profissional, meu desejo era estudar Biologia e atuar nessa área, em pesquisas e outras possibilidades . Porém, isso não aconteceu. Por fazer parte da coordenação Diocesana da Pastoral da Juventude fui indicado para representar a paróquia de Sant’Ana no (CMDCA) Conselho Municipal do Direito da Criança e do Adolescente. Assumi este serviço voluntário por três anos.
Em 2008, iniciei meu acompanhamento vocacional com Frei Amauri que na época fazia parte da fraternidade que havia em Óbidos. Meu objetivo era iniciar o postulandado em 2009. Contudo, não consegui participar dos encontros vocacionais que aconteciam todo mês de julho em Santarém. Por esse motivo o Conselho de Formação me pediu que continuasse o acompanhamento vocacional por mais um ano.
Nesse período devido a minha atuação no CMDCA recebi o convite para concorrer a uma vaga no Conselho Tutelar. Com o apoio das comunidades que fazem parte da paróquia, familiares, amigos, movimentos e pastorais sociais, fui eleito para o triênio 2010-2013.
Eu e mais 4 conselheiros tomamos posse no dia 30 de abril de 2010. Contudo, o desejo de ingressar na formação franciscana ficava cada vez mais forte. Em janeiro de 2011, renunciei ao cargo de conselheiro tutelar e me juntei a mais quatro jovens para dar início ao Postulantado na casa de formação Maíra, localizada na cidade de Santarém.
Como e quando o senhor se sentiu chamado para entrar na Ordem dos Frades Menores?
FVS: O chamado para entrar na Ordem foi ficando cada vez mais forte depois de começar a participar dos encontros formativos e dos retiros da Pastoral da Juventude. O contato mais frequente com a Palavra de Deus e as visitas às comunidades mais distantes fez com que eu percebesse a necessidade de padres, religiosos e missionários para servir as centenas de comunidades da região, especialmente as mais carentes e distantes do centro da sede da paróquia. Outro fator importante foi o atendimento, escuta e acompanhamento das vítimas de violência física e sexual que procuravam o conselho tutelar em busca de ajuda. Percebi a necessidade que essas pessoas tinham de receber não apenas orientações jurídicas relacionadas a seus direitos, mas também a necessidade de um acompanhamento espiritual. Para muitos, Deus havia se tornado alguém distante delas. Muitas pessoas se questionam onde está Deus neste momento difícil e de sofrimento para a vida delas e de seus filhos e filhas? Acredito que meu serviço como religioso franciscano poderia ajudá-las nesse processo traumático que elas estavam enfrentando. Ajudaria principalmente a manter a relação delas com Deus que mesmo em situações difíceis da vida se faz presente e nunca abandona seus filhos e filhas.
Quem foram seus primeiros frades formadores e a importância deles?
FVS: Antes de mencionar os formadores, gostaria de destacar o papel que o Frei Amauri Pereira teve durante esse processo. Foi ele quem me convidou para participar dos encontros vocacionais. Com seu jeito simples e sempre disposto a ouvir e aconselhar ele teve uma importância fundamental no início da minha jornada vocacional.
Meu primeiro formador foi Frei Marcos Bezerra. Ele me acompanhou durante o postulantado. Frei João Miguel (Top) era residente na fraternidade Maíra em 2011 e contribuiu com a formação bíblica da turma. Na segunda metade de 2011 a fraternidade foi transferida para a cidade de Itaituba. Além de Frei Marcos, Frei Rodolfo Pimentel passou a contribuir com nossa formação assumindo a tarefa de vice-formador da casa de Postulantado. Frei Marcos sempre incentivou a combinação entre trabalho, oração e estudo. Isso foi importante para nos preparar para a próxima etapa, o noviciado.
Em 2012 iniciei meu noviciado na fraternidade Kabiará, localizada no bairro Mararu. Frei João Schwieters foi nosso formador. Sempre muito criativo e dinâmico, ele fazia com que o noviciado se tornasse mais leve e mais alegre também. Frei João me ajudou a admirar ainda mais o carisma franciscano e a importância da criatividade e a valorização de uma liturgia inculturada na região Amazônica.
Durante a Filosofia, Frei Elder e Frei Durván nos acompanharam e nos incentivaram a superar as dificuldades.
Como foi o processo de formação até aqui?
FVS: Considero meu processo formativo bastante desafiador, especialmente por ser uma pessoa introvertida. Além disso, diferente dos meus colegas de turma, antes dos 22 anos eu não tinha um envolvimento na vida de comunidade como eles tiveram antes da entrada para a formação franciscana. Por esse motivo, procurava me esforçar para tentar acompanhar a turma. Os colegas de turma sempre me ajudaram e aos poucos fui superando algumas dificuldades pessoais e comunitárias. Por isso acredito que a vida de fraternidade é um dos mais importantes aspectos do carisma franciscano. Ela nos ajuda a amadurecer e nos tornarmos melhores seres humanos.
Seu maior desafio nessa caminhada?
FVS: Acredito que meu maior desafio na caminhada foi aprender a lidar com a diferença de cada irmão de fraternidade, muito mais do que lidar com minha própria timidez. Hoje acredito que a diversidade pode contribuir para o crescimento pessoal de todos os membros da fraternidade.
Desistir já foi uma opção?
FVS: A caminhada na vida religiosa nem sempre é fácil. A luta é contra nós mesmos, nossas próprias fraquezas e preconceitos. Concordo com frei Erlison que sempre diz aos jovens vocacionados acompanhados por ele “a vida Franciscana é a melhor vida que podemos escolher”. Quando procuramos vivê-la de corpo e alma ela se torna eleve nos faz entender o verdadeiro sentido de colocar nossa vida a serviço de nossos irmãos e irmãs. Não, desistir nunca foi uma opção.
O que mais sustenta a sua missão?
FVS: A espiritualidade franciscana é um dos pilares mais importantes na minha caminhada. Acredito que ela me sustenta e me ajuda a continuar firme no propósito de vida que escolhi seguir. Existe um canto franciscano, inspirado no pensamento de Santa Clara, que eu gosto muito, cujo refrão diz assim: “Não perca de vista seu ponto de partida”. Considero este canto como um verdadeiro mantra. Sempre que estou diante de uma nova etapa da minha formação ou em meus momentos de recolhimento e silêncio eu procuro repetir este refrão. Isso me ajuda a não perder de vista a verdadeira razão pela qual eu decidi me tornar um franciscano. O ponto de partida é o próprio Jesus Cristo que se faz presente em cada pessoa que encontramos no decorrer de nossa caminhada.
Como o senhor discerniu a vocação presbiteral?
FVS: Quando entrei para a Ordem, pensava em ser irmão leigo. A mudança aconteceu depois que fui enviado para morar entre o povo indígena Munduruku durante o ano pastoral, em 2017. A experiência vivida junto ao povo Munduruku me fez perceber a necessidade de uma maior presença de padres na região que pudessem oferecer a eles uma participação e vivência dos sacramentos com maior frequência. Muitas aldeias passaram e continuam passando até os dias de hoje meses sem receber a visita de um padre e consequentemente, sem celebrar os sacramentos. Sempre alimentei o desejo de retornar para a Missão e assim procurar fortalecer nossa presença solidária no meio desse povo que tanto nos ama.
Quais são os desejos para o futuro?
FVS: Primeiramente desejo me dedicar ao serviço paroquial junto às comunidades da Paróquia de Cristo Libertado de acordo com o que me foi pedido pelo Conselho Custodial. Penso que nesses primeiros anos como padre é importante dedicar tempo para as comunidades e aprender com elas. Trabalhar para fortalecer as comunidades de base, fortalecer e valorizar ainda mais o serviço das lideranças leigas que atuam nas comunidades onde, nós frades, estamos presentes.
Com o tempo desejo cursar serviço social e assim desenvolver atividades que possam oferecer um atendimento e acompanhamento espiritual para as famílias vítimas de diferentes formas de violência como por exemplo a violência doméstica, sexual e física.
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FVS: Meus irmãos e irmãs, animados pela fé no Cristo ressuscitado continuemos firmes na esperança de que somente quando nos permitimos fazer a experiência de encontro pessoal com Jesus presente em nossos irmãos e irmãs e vivendo em espírito de fraternidade poderemos encontrar verdadeiramente o sentido para nossa vida como cristãos. Que Deus abençoe cada um de vocês, vamos juntos continuar anunciando a paz e o bem.