Nascido em Belém do Pará, Frei John Of God Machado de Araújo, OFM, fez os primeiros votos religiosos no ano de 2004, professou solenemente no dia 1º de julho de 2007 e foi ordenado presbítero para a Igreja em 30 de setembro de 2011, dia de seu aniversário natalício. Para marcar esta data, Frei John concedeu uma entrevista ao frei Diogo Henrique, contando sobre sua vocação, formação e perspectivas para o futuro. Entrevista realizada no dia 28 de setembro de 2021, na fraternidade São Boaventura em Manaus-AM.
Eis a entrevista:
Frei, ao comemorar uma década de vivência do ministério presbiteral, você poderia partilhar um pouco como seu deu o chamado vocacional?
Eu havia recebido os sacramentos da iniciação cristã (batismo, eucaristia e crisma) na Paróquia de Santo Antônio de Lisboa (Belém-PA) onde, aos 10 anos, procurei participar do grupo de coroinhas. Minha vocação surgiu justamente neste momento, ao tomar conhecimento na formação para coroinhas e depois servindo ao Altar. Aconteceu, que um dia, eu fui procurar o Pároco, na época, Frei Francisco Aparecido Rodrigues (OFM), e disse a ele: “Frei, eu gostaria de ser padre”, pois ainda não tinha conhecimento sobre Ordens e Congregações religiosas. Então meu discernimento inicial foi justamente o “querer ser padre”.
Como se deu seu contato com a vida franciscana?
Os frades desempenham uma ação evangelizadora há algum tempo na minha cidade. Então, eu sempre via os frades, mas não atentava para esta diferença (entre Padre e Frade, Clero Religioso e Secular). E mesmo assim, iniciei o acompanhamento vocacional por volta dos 15 anos. E também comecei a conhecer o carisma Franciscano quando eu iniciei na JUFRA (Juventude Franciscana) e então, junto ao discernimento vocacional do ministério sacerdotal associou-se o discernimento à vida religiosa. Com a aproximação ao carisma franciscano, conheci um pouco mais a história de vida de Francisco de Assis e acabei me encantando com este carisma, e isto só veio dar ânimo ao meu discernimento vocacional.
Uma vez que os Padres da Paróquia eram Frades, acredito que isto contribuiu muito, por causa do testemunho que eles davam, e isso foi somado ao fato de eu me sentir impressionado com o modo de vida deles, a fraternidade e a vivência na comunidade. Tudo isso me levou a ingressar no processo formativo da Custódia São Benedito da Amazônia, que na época era Vice-Província.
Como começou o processo de formação inicial junto aos Frades Menores?
Fiz o processo de discernimento vocacional até os 18 anos, ou seja, até o momento em que fui aprovado para ingressar no Postulantado Franciscano, na Fraternidade Kabiará, em Santarém-PA, auxiliado pelo Mestre de Postulantes Frei Chico Silva e Vice Mestre Frei Valcy de Assunção. Fiz a etapa do Noviciado na mesma cidade e casa de formação, já com o Mestre de Noviços Frei João Schwieters e Vice Mestre Frei Gregório Kemner. A minha primeira Profissão aconteceu no dia 19 de janeiro de 2004. Votos que foram renovados durante três anos em Manaus-AM, onde fiz o Bacharelado em Filosofia, que na época era realizado no ITEPS.
Após um preparo, fui enviado, juntamente com Frei Rômulo Canto, para cursar Teologia durante quatro anos em Jerusalém, na Terra Santa.
A data da sua ordenação presbiteral se deu no dia 30 de setembro, o mesmo dia do seu aniversário natalício. Como se deu a escolha desta data?
Frei Edilson Rocha (atual Custódio) foi quem escolheu esta data, por ser o dia do meu aniversário. Na época eu estava fazendo 29 anos, e uma das frases do meu agradecimento foi justamente esta: “Hoje eu celebro 29 anos e acolho esta escolha como um presente de Deus, a minha Ordenação Presbiteral”. Um presente porque era algo que eu desejava, buscava e me sinto realizado como Padre Religioso. Ao longo destes 10 anos, é claro, a gente encontra também dificuldades na vivência da vocação presbiteral, na vocação religiosa, mas a palavra de Deus e a oração devem nos sustentar sempre.
Completando 10 anos de vida presbiteral, você consegue fazer uma avaliação desta caminhada?
Olha, eu vejo positivamente estes anos como Padre. Passei por diversas experiências, que marcaram a minha vida e a minha vocação.
Eu comecei a vida presbiteral sendo Vigário Paroquial em minha paróquia de origem, Santo Antônio de Lisboa, onde fui ordenado presbítero pelas mãos de Dom Frei Martinho Lammers, Bispo emérito da Diocese de Óbidos-PA. Fui vigário desta paróquia durante dois anos, até dois mil e treze (2013), quando o Frei Francisco Paixão (Custódio) me convidou para ser mestre de postulantes em Santarém. Passei um tempo como mestre de postulantes, e desde então eu trabalho diretamente na formação dos frades de profissão temporária.
A maior parte do meu ministério sacerdotal eu passei e estou passando como formador e sendo vigário paroquial em diversos lugares, como Santo Antônio em Belém, Santíssimo e São Sebastião em Santarém e aqui em Manaus; primeiro na Área Missionária Santa Catarina de Sena e atualmente na Paróquia Santo Antônio. Eu realizo estes serviços, como presbítero e religioso que sou. Tanto o serviço na formação quanto o serviço nas paróquias são realizados sempre com muita dedicação e oração.
Frei, neste dia que marca seu aniversário natalício e ordenação presbiteral, qual a perspectiva que você tem para o futuro?
Antes de ser ordenado eu me questionava como seria meu ministério, porque você sente um misto de emoções muito grande, assim foi a minha experiência. Foi uma coisa que eu havia refletido, vinha amadurecendo, buscando. E em todo o processo formativo via, não como um final, mas como uma etapa, um momento importante na vida. Uma vez que me sentia chamado, me senti vocacionado a isto. É claro que a vocação franciscana é importante, uma vez que fui tocado pelo carisma de Francisco e o assumi como modo de vida, de forma que, uma coisa não anula a outra. Do contrário, soma e enriquece.
Nestes 10 anos eu não tinha tanto planejamento. Fui vivendo as experiências que me foram proporcionadas pelas obediências que recebi. Como formador, a acompanhar os jovens ao discernimento e nas paróquias, conforme as minhas capacidades.
Não é possível traçar perspectivas, mas vejo que eu, que agora completo 10 anos de padre e olho para trás, não com uma euforia, mas com uma emoção que continua ainda hoje. Quando eu celebro, me preparo, pois tenho gosto pela liturgia e por celebrar bem. E quando se faz aquilo que gosta, isso nos deixa muito feliz e realizado, enquanto religioso presbítero.
Espero continuar neste ministério, nesta trajetória, neste serviço, buscando viver com coerência, autenticidade a vocação para a qual eu fui chamado, de forma verdadeira e transparente.
Frei, muito obrigado pela sua disponibilidade, por toda a sua dedicação ao ministério, parabéns pelo aniversário natalício e presbiteral. E qual mensagem você deixa para quem está procurando discernir esta vocação?
A grande mensagem é que nós devemos procurar, de fato, aquilo que nos faz feliz. Apesar da adversidade, digo para todos aqueles que desejam ser padres, que não tenham medo de darem o seu sim a Deus, de se colocarem a serviço d’Ele em todas as pessoas.
Frei Diogo Henrique da Silva Siqueira Oliveira, OFM
Frade Menor de Profissão Temporária, residente em Manaus e Acadêmico do curso de Bacharelado em Filosofia pela Faculdade Salesiana Dom Bosco.