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Tapiri da Palavra: 23º Domingo do Tempo Comum – Ano B

 

Setembro é o mês que dedicamos à Bíblia e lembramos que é a Palavra de Deus que orienta e é luz para todo aquele que quer viver a fé em Deus. Ouvimos, semana passada, na carta de São Tiago que não queremos “ser meros ouvintes da palavra, mas praticantes”. Para que isto aconteça, é preciso duas atitudes fundamentais: os olhos abertos para enxergar a realidade em que vivemos e os ouvidos atentos para ouvir os apelos de Deus diante desta realidade. São essas atitudes que nos ajudam a descobrir como podemos ser cristãos autênticos e praticar a Palavra que ouvimos diante de tantos desafios que enfrentamos no mundo.

No livro do profeta Isaias escutamos a promessa de Deus: “é Ele que vem para nos salvar. Então se abrirão os olhos dos cegos e se descerrarão os ouvidos dos surdos” (Is 35, 4b-5). Deus quer que o povo seja capaz de enxergar e escutar a sua palavra, assim a “terra árida se transformará em lago e a região sedenta em fontes de água” (Is 35, 7ª). Nós, porém, muitas vezes ficamos cegos e surdos diante da Palavra que Deus nos dirige. Isto acontece por causa do nosso próprio pecado, pois é o egoísmo que não nos permite enxergar o sofrimento ao nosso redor e nem escutar os apelos de Deus. É justamente nosso pecado que nos fecha no nosso próprio mundo, ficamos de ouvidos fechados diante da proposta de Deus e de coração fechado diante dos irmãos e do mundo.

Todavia, há também outros motivos que nos levam a rejeitar a voz de Deus. É a maneira como a sociedade está organizada. Neste mundo, o que conta é o lucro e o crescimento econômico e não a vida. A riqueza e o poder de alguns, enquanto uma maioria continua na exclusão. Quando somos influenciados por estas atitudes e só visamos o nosso próprio bem, ficamos de olhos fechados e ouvidos cerrados diante da proposta de Deus.

No Evangelho Jesus está diante de um mutilado na sociedade, um surdo e mudo que representa os excluídos de ontem e de hoje e que tem dificuldade em falar, pois a sua voz não é ouvida e nem escutado. Jesus nos mostra uma nova atitude. Não é somente curar o homem, mas recuperar a sua dignidade e o reconhecimento do seu valor e da sua missão. Jesus leva o homem para longe da multidão, lá com gestos ele toca nos ouvidos e na língua, e depois de pronunciar a palavra “Efata”, os seus ouvidos se abrem e a sua língua se solta. É a palavra que realiza a cura e transforma a vida. Esta mesma palavra “Efata”, é usada na cerimônia do Batismo para dizer que o cristão precisa abrir os ouvidos para ouvir e solta a língua para falar. Significa que a cura de Jesus é para todo o batizado.

Depois da ação de Jesus, o surdo mudo começa a divulgar o fato com muita insistência, pois é no anúncio da palavra e no testemunho da vida que todos podem reconhecer: “Ele tem feito bem todas as coisas”. Esta afirmação feita pelo povo que testemunhou a ação de Jesus nos lembra que, no ato da criação do mundo, Deus contemplava a sua obra e viu que tudo era bom, todas as coisas eram bem-feitas.

Falar da criação como obra de Deus é também lembrar da Amazônia que é um dos patrimônios naturais mais valiosos de toda a humanidade e a maior reserva natural do planeta. Hoje, 05 de setembro, é comemorada o dia da Amazônia. Conhecemos muito bem que a Amazônia é uma região abençoada por Deus, mas, apesar disto, é uma região mutilada pela ganância, pelo desrespeito e pela violência. Amazônia é o surdo e mudo que quer gritar, ser ouvido, é o excluído que grita: “A vida em primeiro lugar”.

Diante desta realidade, queremos ser curados por Jesus para enxergar a realidade mutilada pela ganância, para ouvir os apelos de Deus diante da realidade e para proclamar que toda a criação é obra de Deus, pois “ele fez bem todas as coisas”. Quando somos curados da nossa cegueira podemos manifestar nossa gratidão a Deus e assumir nosso compromisso de proclamar a Boa Nova de Jesus. Assim, vamos compreender as palavras do profeta Isaias: “A terra árida se transformará em lago, e a região sedenta em fontes de água”. (Is 35, 7a).

Frei Gregório Joeright, OFM

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Tapiri da Palavra: 21º Domingo do Tempo Comum – Ano B

Há um ditado que diz: “o que os olhos não veem, o coração não sente!”. Significa que aquilo que está fora da nossa vista, nós não sentimos necessidade de possuir e nem desejamos, mas, pelo contrário, aquilo que enxergamos vamos sentir a necessidade de possuir, vamos desejar. Com certeza a mídia e a propaganda trabalham com esta noção, querem apresentar uma boa imagem para que as pessoas comecem a sentir necessidade, desejo e assim compram. Chamamos isto de estética e é muito presente em nossa sociedade. O que vale mais é a aparência e não aquilo que realmente é.

Isto também acontece entre nós como pessoas, pois hoje em dia, há uma grande preocupação com a beleza do corpo e muito pouco com a beleza da pessoa. Em outras palavras, dá-se mais valor com aquilo que aparece por fora e muito pouco com os valores que se vive. Até a nossa comunidade pode cair nesta tentação quando a preocupação maior está nas aparências e na estética. Por exemplo, celebrações que parece mais como show e esquecem o fundamental, que na Eucaristia celebramos a morte e ressurreição de Jesus. Não podemos esquecer que uma comunidade que celebra e vive o mistério de Jesus é uma comunidade servidora que põe em prática a proposta de Jesus.

Hoje, na primeira leitura, Josué pergunta ao povo: “Se vos parece mal servir ao Senhor, escolhei hoje a quem quereis servir: se aos deuses a quem vossos pais serviram na Mesopotâmia… Quanto a mim e à minha família, nós serviremos ao Senhor” (Js 24, 15). Estes deuses do passado são os deuses estranhos e falsos com suas imagens e aparências. Pelo contrário, o Deus que Josué quer servir é o Deus verdadeiro que libertou o povo do Egito, da terra da escravidão.  Em outras palavras, Josué compreendeu que estes falsos deuses e ídolos enganam pelas aparências e ele escolheu servir ao único e verdadeiro Deus. Acreditar nos ídolos é viver uma falsa religião, isto é, uma fé simplesmente em vista de uma troca de favores. É uma falsa imagem de Deus baseada na teologia da prosperidade que prega uma religião onde a oferta é feita para receber de volta a benção de Deus. Por causa disto, pode se criar uma falsa imagem de Deus a partir dos próprios pensamento e interesses, pois em vez de acreditar no único e verdadeiro Deus, se torna mais conveniente ser enganado pelas aparências.  Por isso, Josué fala que é preciso abandonar os falsos deuses e servir somente o Senhor que libertou o povo da casa da escravidão e que indicou o caminho rumo a liberdade em visto do projeto de justiça e fraternidade.

Este caminho da fé exige compromisso. Muitos dos seguidores de Jesus queriam um sinal, um milagre de Jesus, uma religião de estética e de aparência. Jesus disse que ele é o “pão descido do céu” que dá a vida pela humanidade e que quem come deste pão também se compromete em doar a vida em serviço dos outros. Em outras palavras, quem come deste pão tem que assimilar Jesus e que sua palavra e sua vida fazem parte da vida da pessoa que o come. Neste sentido, a religião não pode ser simplesmente uma beleza estética ou uma imagem, mas preciso ser motivação de servir, doar a vida em prol do projeto de transformação onde existe vida digna e justiça para todos.

Para muitos viver este tipo de fé é difícil de aceitar, pois disseram: “Esta palavra é dura. Quem consegue escutá-la?” (Jo. 6, 60). Mas, é Pedro que compreendeu e acreditou na proposta de Jesus: “Tu tens palavras de vida eterna. Nós cremos firmemente e reconhecemos que tu és o santo de Deus” (Jo 6, 69). Então, quem come deste pão e bebe deste cálice se compromete não com uma falsa religião de promessas, de estética, de troca de favores, mas com o serviço em prol da comunidade e da vida.

Hoje em dia, nós católicos devemos lembrar que ser cristão é uma decisão, uma escolha para os caminhos da nossa vida. Por isso, é bom perguntar que tipo de cristão queremos ser ou religião queremos viver. Muitos podem inventar uma imagem de Jesus que não corresponde à realidade e viver uma religião que simplesmente atende aos interesses pessoais. Quem escolhe o Cristo como o “pão descido do céu” precisa ser educado no pensamento de Jesus e escolher amar como ele mesmo amou. Muitos preferem uma religião de estética e de troca de favores onde não existe compromisso e nem exigência. Por isso, queremos conhecer Jesus, sua palavra e sua vida para que possamos ser cristãos autênticos no mundo. É este o verdadeiro desafio de todos nós como seguidores e seguidoras de Cristo, que sejamos sal da terra e luz do mundo.

Viver a fé e a verdadeira religião é fazer a opção de nos comprometer com o pão da vida que dá a vida pela humanidade para que “na instabilidade deste mundo, fixemos os nossos corações onde se encontram as verdadeiras alegrias”.

Frei Gregório Joeright, OFM