Com quase cem por cento da participação dos frades, a Custódia São Benedito da Amazônia realizou sua assembleia anual, de maneira virtual, nos últimos dias 05 e 06 de agosto. Desde o ano passado, tentou-se realizar o evento que, por conta da pandemia da COVID-19 havia sido adiado por duas vezes. Uma equipe de frades, liderada pelo secretário custodial, Frei Elder Almeida, pensou, organizou e conduziu a assembleia que foi avaliada como muito positiva pelos frades.
Ainda que de forma virtual, os membros de cada fraternidade reuniram-se em um mesmo ambiente da casa que foi preparado com antecedência, desta forma, a assembleia trouxe para todos um clima próprio, na alegria de estar juntos e no reencontro com os irmãos. Para a equipe que preparou a assembleia, uma grande preocupação foi a internet, visto que a região amazônica ainda não dispõe de um provedor eficiente. Mesmo assim, poucos foram os momentos em que ocorreu algum problema de conexão.
O primeiro dia da assembleia foi embalado por um texto produzido e apresentado pelo guardião da Fraternidade de Sant’Ana em Itaituba, Frei Francisco Paixão. O texto (que você poderá conferir no final da matéria) teve como pano de fundo a sua experiência nestes tempos de Pandemia. Ele conseguiu, através de seu texto e experiência, contemplar todos os confrades, referindo-se a situações vividas por ele, que muito se assemelhavam aos demais religiosos. Frei Paixão apresentou sete lições aprendidas durante este período e estas lições depois serviram de referência durante as partilhas das outras fraternidades.
Cada fraternidade teve a oportunidade de socializar sobre a vida e missão durante a pandemia. Estes relatos foram cheios dos mais diversos sentimentos: empolgação, emoção, alegria, tristeza, entusiasmo, desapontamento, mais sobretudo, de esperança. Para o guardião da Fraternidade de Sant’Ana em Óbidos, Frei Jacó Paiva, “o coração se alegra por termos passado por tantos desafios durante esses últimos meses, mas termos a oportunidade de estarmos vivos, e agora olhando um para o outro ainda que através de uma tela.” Algumas fraternidades participaram desta socialização apresentando fotos e vídeos, além dos testemunhos.
Para Frei João Messias, moderador das partilhas durante a assembleia, “realmente foi prazeroso escutar os irmãos e saber que nós não estamos sozinhos. É bom saber que a minha situação é muito parecida com a do meu confrade e vice-versa. Estas partilhas de experiências nos ajudam a ficarmos mais próximos uns dos outros.”
Durante o segundo dia da Assembleia, o Ministro Custodial, Frei Edilson Rocha, apresentou uma memória dos encaminhamentos das decisões do Capítulo Custodial 2019. Muitas destas decisões foram impossibilitadas de serem realizadas, por conta do contexto de Pandemia. O ministro pediu empenho e criatividade dos frades para encaminhamento dessas atividades para que, até o Capítulo Custodial, a ser realizado em outubro de 2022, algumas destas atividades sejam executadas.
Frei Edilson também apresentou uma síntese sobre o Capítulo Geral da Ordem do qual ele e Frei Rômulo Canto participaram em julho. O documento final do Capítulo Geral, que deverá sair brevemente, ajudará a Custódia na execução de algumas atividades. O Ministro da Custódia voltará a realizar suas visitas fraternas a partir da segunda quinzena de agosto e buscará juntos aos confrades caminhos para que se possa realizar as decisões capitulares. Assembleia Custodial virtual, foi concluída com o agradecimento do próprio Ministro Custodial a todos que se empenharam na realização do evento e de todos que se esforçaram para participar.
Texto: Frei Erlison Campos, OFM
As lições que tirei destes tempos pandêmicos
Me foi pedido para escrever uma reflexão para o início da Assembleia Custodial tendo como pano de fundo a minha experiência destes tempos de Pandemia. Me surpreendi pela solicitação, porque com certeza outros confrades poderiam discorrer melhor. Porém, creio que a coordenação me escolheu justamente pelas diversas experiências que vivi nestes 17 meses passados, desde a irrupção da Pandemia do Covid19 no Brasil.
Outro dia li um artigo de uma comunidade religiosa sobre as lições que a pandemia deixa para nós consagrados. Me senti incluído naquela reflexão. É a partir desta reflexão que compartilho com vocês as lições que tirei das vivências da pandemia e que com certeza vocês também viveram.
Primeira lição: Cada pessoa é um dom. Tanto no ERFRAN (um mês entre 20 irmãs e alguns irmãos!) quanto em Belém (2 irmãos mais jovens e 1 senior) percebi que pouco sabemos das suas alegrias, histórias, sofrimentos, valores, visões, sonhos, dos nossos “irmãos de fraternidade”. A pandemia oportunizou tempo para encontro pessoal, de descobrir o outro, de escuta, convivência, partilhas maiores (feita na mesa fraterna).
Segunda lição: Valor da fraternidade. Se cada confrade é um dom, quando vivemos de fato em fraternidade temos a possibilidade da descoberta de tantas qualidades, serviços, aptidões, gostos etc. colocados em comum, a serviço de todos. As irmãs, dispensam comentários, elas cuidaram bem disso lá no encontro. Em Belém foi maravilhoso poder partilhar nossos dons. Devido ao isolamento social, em Belém (e em outras fraternidades também) tivemos que dispensar as funcionárias, aí fomos para cozinha: confesso que aprimorei meus conhecimentos culinários e outras artes. Mas não apenas eu, meus confrades também revelaram seus dons. Rezamos juntos, refletimos juntos…
Terceira lição: A Morte como vida. Todos os dias rezávamos por vítimas da Covid. Nunca celebrei tantos sétimos dias. Daí um despertar para os valores vitais, como os cuidados com a saúde, valorização dos cuidadores de nossos frades idosos. Portanto, falar da morte é falar da vida. Tomar cuidado para não pegar nem transmitir o vírus, usando máscaras e álcool-gel e evitando saídas desnecessárias de casa e aglomerações.
Quarta lição: Meio ambiente. Naqueles meses em Belém despertou em mim um maior amor no cuidado e proximidade com o meio ambiente. Junto com a Nonata – uma entusiasta das plantas – criamos a “hortinha de alpendre franciscano” … “Brincando-brincando”, comemos tomates cereja e legumes da horta em apenas 2 canteiros e alguns vasos. O mais bonito foi influenciar outras pessoas da paróquia a fazer o mesmo, até em apartamentos. Começamos até a criar minhocas pra produzir húmus e adubar as plantas.
Quinta lição: Solidariedade. A vida nos ensina que quanto maior a necessidade, o sofrimento humano, a vida ameaçada, as catástrofes, etc., surgem e aumentam gestos de solidariedade, de ajuda mútua. Fomos solidários com as familias pobres em Belém e entre nós na fraternidade, especialmente com as celebrações que são tantas na paróquia.
Sexta lição: Desigualdades sociais. Na pandemia, pudemos sentir ainda mais as diferenças entre as pessoas e comunidades com o mínimo de condições vitais e aqueles que possuem recursos demasiados. Eis os desafios para reconhecer estas realidades e buscar juntos soluções, pistas, mudanças econômicas e estruturais, sistemas educacionais. Propostas novas e respostas são necessárias.
Sétima lição: Repensar a vida e a convivência social. Há tantas outras pandemias que perduram entre nós: fome, migração, destruição da Amazônia e seus povos, doenças endêmicas, condições subumanas de vida, violência, desrespeito aos direitos, etc. A pandemia maior que nos damos conta que precisa ser curada é o individualismo e o egoísmo, a começar pos nós mesmos. A humanidade não vai ser mais a mesma coisa, tampouco a vida religiosa consagrada. Daqui para frente será diferente o jeito de ser e de se relacionar com o mundo. O sentimento de medo existe, pois ele é inerente ao ser humano; mas é necessário seguir em frente, com fé, esperança e amor, e disponibilidade para vivenciar novos tempos.
Portanto, Irmãos, vamos começar… o resto vocês já decoraram!
Paz e Bem.
Texto: Frei Paixão, OFM
Confira algumas fotos do evento:
Fotos: Equipe Custodial de Comunicação