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Frei Cosme Spessotto, OFM:  o beato franciscano que viveu em solo latino-americano 

Arte: Frei Fábio Vasconcelos, ofm.

 

No último dia 22 de janeiro, na área da catedral São Salvador em El Salvador, foi celebrada a beatificação do venerável Frei Cosme Spessotto, OFM, juntamente com Pe. Rutílio Grande, jesuíta, e os Leigos Manuel Solórzano e Nelson Rutilio Lemus. O presidente da eucaristia foi o cardeal Gregorio Rosa Chávez, auxiliar de San Salvador e representante do Papa Francisco para essa liturgia, aproximadamente 6.000 pessoas, que observaram todos os protocolos em virtude da pandemia, participaram da celebração. 

Frei Cosme foi padre missionário italiano na Centroamérica. Serviu ao povo salvadorenho por trinta anos e esteve no país centro-americano desde 1950. Tinha 57 anos quando sofreu o martírio em meio a guerra civil salvadorenha em 1980, conflito que começou em 1979 e findou em 1992. Desta maneira, Frei Cosme foi instrumento de paz no meio de um contexto de guerra. Ficou marcado como um mártir da caridade, um cultivador da vinha do Senhor e um defensor dos últimos da sociedade. 

 

“Morrer como mártir seria uma graça que não mereço”

 

O martírio de Frei Cosme ocorreu na paróquia dos frades menores de San Juan Nonualco, assassinado a tiros enquanto rezava. Na tarde de 14 de junho de 1980, após a missa, o franciscano foi rezar junto do sacrário e homens armados invadiram a igreja atentando contra a vida do missionário. O sangue de Frei Cosme foi derramado junto do altar, como pastor que se doa pelo rebanho. O fato ocorreu na igreja paroquial que ele, juntamente com os comunitários, fizeram com tanto esforço.

Filho de uma família de trabalhadores rurais, nasceu em Mansue (Treviso, Itália), em 28 de janeiro de 1923. Abraçou a vida dos frades menores em 1939. Recebeu a permissão para ser missionário na China em 1948, porém, circunstâncias políticas o impediram de ir, por isso seus superiores resolveram enviá-lo para El Salvador. Foi pároco na paróquia San Juan Nonualco  por  27 anos, construindo uma nova igreja e escola para os jovens mais pobres. 

O seu grande compromisso pastoral foi com a oração e a caridade, especialmente quando visitava as famílias, pregava o santo evangelho e distribuía o alimento corporal. Seu zelo pelos pobres foi entendido como apoio aos guerrilheiros de esquerda. A sua culpa foi defender catequistas acusados e detidos injustamente, sepultar corpos abandonados de guerrilheiros mortos em combate e receber sacramentalmente um penitente membro da guerrilha. 

 

Arte: Frei Fábio Vasconcelos, ofm.

 

Mártir do povo, semente de fraternidade e paz

O Cardeal Rosa Chávez destacou que entre o povo presente na beatificação, estavam humildes camponeses que exultaram de alegria no reconhecimento da santidade daqueles servidores do Reino. Ele também enfatizou o quanto o martírio na América Latina está relacionado com o testemunho do evangelho e da opção clara pelos pobres. Nas palavras do representante do Papa, percebemos que o sangue dos mártires é uma profecia para continuarmos o sonho de uma pátria reconciliada e pacífica. Por sua vez, o Papa Francisco, depois da oração dominical do Angelus, suplicou que o exemplo heróico dos mártires desperte corajosos agentes de fraternidade e paz. 

 

Fábio Vasconcelos, ofm

Fontes: 

https://ofm.org/es/blog/beatificacion-del-venerable-cosme-spessotto-ofm/

https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2022-01/el-salvador-missa-beatificacao-rutilio-grande-martires.html

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Argentina venera seu novo beato: Frei Mamerto Esquiú, OFM

Imagem de Frei Mamerto Esquiú, OFM. Foto:  OFM

Na manhã de ontem, 04 de setembro, na cidade argentina de Piedra Blanca, a Igreja beatificou o Frei Mamerto Esquiú, OFM. O franciscano e bispo argentino, foi reconhecido como exemplo de santidade para construção de uma Igreja em saída que responde aos apelos de seu tempo. Conheçamos um pouco da vida deste novo beato franciscano e latino-americano, à luz de algumas falas ditas na cerimônia de beatificação, comentadas no texto do Pe. Luis Miguel Modino.

Segue o texto: 

Falar de Mamerto Esquiú é falar de alguém que esteve presente na vida do povo argentino, de pessoas de todas as classes e condições, que soube estar e falar no meio dos deputados e governantes da época, mas também entre os camponeses e trabalhadores mais pobres das fazendas mais distantes.

Imaginamo-lo no dorso de uma mula, repetindo uma imagem comum a outro dos santos mais venerados do país, o Cura Brochero, exemplos daquela Igreja que não tem medo de sujar os pés, como nos lembra o Papa Francisco. Frei Mamerto Esquiú, OFM, que hoje foi elevado à honra dos altares em cerimônia no local onde nasceu, San José de Piedra Blanca, na província de Catamarca, é uma referência na Igreja e na vida de um bom número de argentinos.

Por isso, podemos dizer com o Cardeal Luis Héctor Villalba, enviado pontifício para esta beatificação, que “hoje é um dia de festa, hoje é um dia de alegria, grande é a alegria no céu e na terra pela beatificação de Mamerto Esquiú”. O arcebispo emérito de Tucumán definiu o novo beato como “um homem em quem a graça de Deus e a alma de Esquiú se uniram para dar luz a uma vida estupenda até chegar àquela grandeza moral e espiritual que chamamos de santidade”.

Para o Cardeal argentino, Esquiú é um modelo a imitar, vendo em sua beatificação “um convite a caminhar em direção à santidade”. Algo que foi vivido por alguém que nasceu em uma família religiosa e trabalhadora, e que depois de ser ordenado sacerdote aos 22 anos, se dedicou ao ensino e pregação, segundo lembrou o Cardeal Villalba. A missão do Beato foi marcada por algo que ele mesmo disse com frequência: “o que importa é fazer a vontade de Deus a todo custo”.

Cerimônia de beatificação de Frei Mamerto Esquiú, OFM. Foto: Vatican News

Um homem de oração e um bispo missionário, que se dedicou a visitar todas as comunidades de sua extensa diocese, como recordou o legado do Papa Francisco para a beatificação, o arcebispo emérito de Tucumán, insistiu em definir o homem que foi bispo de Córdoba durante dois anos, antes de sua morte aos 57 anos de idade, como “um pastor bispo que se destacou por sua humildade, sua pobreza e sua austeridade de vida, um pastor que se entregou aos pobres a exemplo de São Francisco”, lembrando o fundador da congregação da qual Frei Esquiú era membro.

Em suas palavras, o Cardeal lembrou que o novo beato é “reconhecido como uma das grandes figuras de nosso país por seu patriotismo exemplar”, destacando que “ele iluminou a ordem temporal com a luz do Evangelho, defendendo e promovendo a dignidade humana, a paz e a justiça”.

Fazendo um chamado para viver a santidade, o cardeal lembrou que isto resulta de dois fatores, da graça de Deus e de nossa disponibilidade de espírito para cumprir a vontade de Deus, insistindo que “alcançar a santidade é viver na simplicidade da vida diária, na fé, na esperança e na caridade”.

No final da celebração, o bispo de Catamarca definiu a experiência de 4 de setembro como “uma festa cívica de fé genuína”. Dom Luis Urbanc pediu a intercessão do novo Beato para que “nosso país possa superar com caridade cristã todos os obstáculos que continuam a mergulhá-lo na escravidão, arbitrariedade, confronto, injustiça, falsidade e mesquinhez que não nos permitem ver um futuro de paz, progresso, inclusão, trabalho, respeito, unidade e amizade, como sonhava o Beato Mamerto Esquiú”. Finalmente, ele pediu sua ajuda para “ser uma Igreja sinodal e servidora”, algo que outro argentino, o Papa Francisco, nos pede hoje.

 

Pe. Luis Miguel Modino

Assessor de Comunicação do regional Norte 1 da CNBB