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As sementes amazônicas de um futuro de esperança: Mensagem do Capítulo Custodial 2022

Foto: Equipe de Comunicação para o Capítulo

 

MENSAGEM  DOS FRADES MENORES DA CUSTÓDIA SÃO BENEDITO DA AMAZÔNIA

AO POVO DE DEUS E A TODAS AS PESSOAS DE BOA VONTADE

 

“As sementes amazônicas de um futuro de esperança”

 

A partir de Santarém, onde se encontram os rios Amazonas e Tapajós, no Estado do Pará, os frades da Custódia São Benedito da Amazônia, reunidos no seu XII Capítulo Custodial, enviam aos irmãos/ãs esta mensagem anunciando “um futuro de esperança” (Jr, 29,11) da parte do Senhor. Sob o tema “Fraternidade e missão na Amazônia”, nos reunimos novamente de forma presencial, com muita alegria e com esperanças novas, após os dolorosos tempos da Pandemia. Fizemos memória também daqueles e daquelas que morreram vítimas de Covid-19, incluindo os freis Manoel Lima e Duván Tabarquino, cuja presença continua viva entre nós, como semente de renovada esperança.

Ouvir a Amazônia, com seus sonhos e clamores, tem sido uma grande preocupação eclesial, e entre os frades menores não tem sido diferente. O Capítulo Custodial foi resultado de uma longa caminhada de preparação, onde cada um dos confrades foi convidado a colocar-se no Caminho, em processo sinodal. Foi certamente o nosso Capítulo que mais teve uma dinâmica de participação e ressonâncias prévias. Nesse processo de escuta também foi de grande importância a visita canônica realizada pelo Visitador, Frei João Carlos Karling, que percorreu as fraternidades da Custódia. A ele nos dirigimos com o nosso coração agradecido.

Os relatórios do Visitador Geral, do Custódio e dos animadores dos vários serviços nos apresentaram uma realidade desafiadora, nos impactaram e provocaram, ao mesmo tempo em que nos fizeram um “chamado a escutar as esperanças e fragilidades da nossa vida e missão na Amazônia”. A presença do Definidor Geral para a América Latina, Frei César Külkamp, representou o carinho e o cuidado do Ministro Geral da Ordem, Frei Massimo Fusarelli, para com os frades desta Custódia, como a mãe que olha com zelo os seus filhos.

O Governo Geral da Ordem também nos fez um chamado especial para o cuidado que devemos ter com os menores e vulneráveis nas nossas áreas de atuação. Neste sentido, nossa Custódia não está de olhos fechados para essa realidade, e nem esqueceu o projeto original de Deus de cuidar com atenção especial do oprimido, do órfão e da viúva (Is 1, 17). Lembremos que as palavras do Evangelho sempre estão a nos recordar: “o que fizerdes ao menor dos meus irmãos foi a mim que o fizestes” (Mt 25, 40). Hoje, carecemos de ser ainda mais “menores entre as menores da Amazônia”, representados nos excluídos considerados como “minorias” da sociedade.

Contamos também com a participação do Cardeal da Amazônia, o também irmão franciscano Dom Leonardo Steiner, que nos relembrou dos enormes desafios e urgências para com a realidade ambiental e social da Amazônia. Suas palavras nos provocaram a caminhar com a Amazônia repletos de gratidão e admiração franciscana. Inspirados pelas palavras do Cardeal, reconhecemos que a conversão pessoal, cultural, ecológica e pastoral está interligada. E isso nos levou a exclamar: Recomecemos irmãos, pois a Amazônia espera muito de nós!

Vivemos momentos de bonitas, envolventes e bem elaboradas celebrações onde, mais que pedir, louvamos ao Deus da Vida pela sua criação e pelas bênçãos recebidas. O mistério Pascal celebrado como irmãos neste chão da Amazônia nos fortalece mais ainda na transformação da nossa vida e da sociedade. E foram momentos compartilhados com irmãs e irmãos da Família Franciscana, principalmente das Irmãs Franciscanas de Maristela, Angelinas, Filhas dos Sagrados Corações de Jesus e Maria, Missionárias da Imaculada Conceição (SMIC), irmãos de Santa Cruz e OFS/Jufra. Destacamos aqui a participação dos frades estudantes e em formação inicial, que trazem vigor e renovam as esperanças de futuro na nossa presença nesta terra, com rostos dos povos que aqui vivem.

Frei Thomas Nairn, ministro provincial da Província Sagrado Coração de Jesus dos Estados Unidos, foi uma presença fraterna que nos acompanhou em cada celebração deste capítulo e que merece um destaque. Sua estadia entre nós representa a relação frutuosa que existe entre as nossas entidades. Somos gratos aos missionários vindos daquela Província-Mãe e ao apoio em diversas dimensões nestes cerca de 80 anos.

Nesta celebração capitular, acolhemos o novo Governo da nossa Custódia, a saber: Ministro Custodial, Frei Edilson Rocha; Vigário Custodial, Frei Gregório Joeright, E os conselheiros: Frei Marcos Bezerra, Frei Rômulo Canto, Frei John Araújo e Frei Rodolfo Pimentel. A eles desejamos sucesso na coordenação e liderança das fraternidades e sua atuação.

 

Novo governo custodial. Da esquerda para direita: Frei Rodolfo, Frei Rômulo, Frei Edilson, Frei Gregório, Frei Marcos e Frei John

 

Nestes dias de Capítulo trabalhamos documentos importantes para o futuro da nossa entidade. Para o nosso projeto de vida e missão estabelecemos o objetivo geral: “Viver e anunciar o Evangelho como irmãos e menores em fraternidade, ouvindo os clamores de Cristo encarnado, para caminhar junto com os povos nas diversas realidades da Amazônia”. E aprovamos as prioridades: Vida Fraterna, Oração e Devoção, Formação, Minoridade, Evangelização e Missão.

Realçamos que o nosso caminho como irmãos e menores na Amazônia, não se faz sozinho, mas conta com uma grande colaboração de lideranças das comunidades. E esse fato foi manifestado no encontro com os membros da Rede Franciscana de Paróquias em Santarém, representando todos os leigos e leigas das realidades onde atuamos.

Agradecemos aos irmãos do Convento São Francisco, sede deste Capítulo, um local histórico da nossa presença nesta terra. Lugar de memórias, afetos e rastros dos freis que fizeram o Caminho para chegarmos até este momento. Aqui na Casa Mãe, que ama e acolhe, nos sentimos de volta às nossas origens para mirar o futuro que deve ser de muita esperança. A partir daqui, projetamos nossa missão na Amazônia, neste momento decisivo para a preservação de todas as formas de vida aqui presentes. Sigamos!

 

Custódia São Benedito da Amazônia

Santarém- PA, 19 de novembro de 2022

 

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A profecia em Jeremias e as esperanças amazônicas

O contexto da profecia de Jeremias 

A profecia na literatura bíblica é marcada por fases, nomes, circunstâncias. Desse modo, podemos afirmar que profecia e história caminham juntas. O passado muitas vezes é apresentado no embate entre a bondade divina e a incoerência humana. A realidade presente, torna-se assim, o lugar da decisão. Podemos notar que o futuro na profecia é diferente da abordagem apocalíptica. O futuro dos textos proféticos, em sua maioria, tratam de uma dimensão dentro vista dentro do curso histórico e sem o desaparecimento do mundo presente. Esse futuro começa aqui. Uma realidade que é ao mesmo tempo distante e imediata. Sobretudo, destaca-se que a esperança e o porvir são obra divina em colaboração com o agir humano. 

A literatura profética de Jeremias se insere em um contexto histórico de pós-invasão e destruição do Templo de Jerusalém. Estamos diante de uma situação de desorientação, desolação. E o profeta Ezequiel na circunstância exílica dá um acento maior na promessa do que na condenação. O livro de Jeremias se distingue em duas grandes partes e um apêndice histórico, fruto de um laborioso processo de edição redacional. Podemos em Jeremias encontrar os juízos e as narrativas sobre o profeta com as promessas do Senhor.   

Jeremias tem uma reflexão marcada pelas tradições da sua região (Anatot). Podemos reconhecer uma ênfase do reino nortista na Tradição do êxodo. A relação entre realidade e literatura é muito forte, a profecia de esperança espelha uma realidade de clamor por novos caminhos. Os cantos de esperança são vistos também na nossa realidade nacional, os tons melancólicos ou esperançosos aparecem em nosso cancioneiro. O canto dos retirantes e dos migrantes na Amazônia hoje parecem ser essa canção do esperançar. 

Nossas esperanças franciscanas e amazônicas

O lema do nosso Capítulo Custodial de 2022 é tomado da profecia de Jeremias (Jr 29, 11): “para dar-lhes um futuro de esperança”. Essa frase é uma mensagem aos exilados para uma vivência no agora e para o futuro, que pode ser lido como geração presente e vindoura. O que vamos legar aos próximos no sentido de Custódia e de Amazônia? Deus lança uma palavra de “retorno”, uma boa nova aos exilados pela boca do profeta. Hoje em dia estamos falando muito de ponto de não retorno das crises ecológicas. O planejamento, o pensamento, e as ideias de YHWH sobre os exilados é dar, oferecer, permitir um futuro de paz e esperança. 

 

Essa carta profética aos exilados apresenta um modo de viver e de dirigir-se a Deus, um viver esperançoso. Deus que é fonte e origem do tempo nos dá não apenas mais momentos de vida qualquer, ou de sofrimentos, mas tempos de esperança. São inegáveis crises da realidade de Jeremias e da nossa, porém a resposta pode ser desespero, falta de expectativa, indiferença ou inércia. Porém, cria em nós grandes sonhos. Podemos ainda embarcar nas falsas promessas e ilusões dos pseudo-profetas, por isso é preciso ter grande capacidade de discernimento das esperanças. Desterrados e despojados da esperança podemos nos agarrar nas falsas expectativas de uma exploração total dos recursos naturais que ameaça a existência das futuras gerações. 

Um futuro de esperança e profecia 

A urgência da profecia é defendida na exortação “Querida Amazônia”, quando fala da necessidade de “um grito profético e um árduo empenho em prol dos mais pobres” (QA, 8). A Igreja deve exercer com transparência o seu papel profético no coração da Amazônia, sendo voz e ação, respondendo aos clamores da terra e dos sofredores. Essa postura que tantas vezes tem guiado o caminhar das comunidades dessa região. A denúncia e a poesia, são elementos contemplativos e  proféticos. Somos convocados então, para testemunhar “a profecia da contemplação” (cf. QA, 53-57).

Partido da ideia de qadosh (kadosh) que lembra a destinação para um fim, reservado e separado com uma vocação e missão podemos pensar o futuro amazônico. Dessa forma, nossa destinação coletiva é de sermos todos e todas consagrados para um futuro de esperança compartilhada com os povos e culturas amazônicas. A expressão qadosh se vincula a um projeto de vida pautado na esperançosa existência na Amazônia.  Região amazônica é um espaço sagrado destinado a frutificar na esperança. 

A sacralidade amazônica e a vida consagrada nessa parte do mundo se unem como chamado para um destino de vida plena, não de permanência no desterro. Nossa consagração e vocação é chamada a ser profecia do Reino, promessa maior que nos anima a viver e lutar por uma Amazônia justa e fraterna. O anúncio e serviço da esperança pertencem às características da vocação à  profecia e santidade amazônica.  

Fábio Vasconcelos, OFM    



Visitador

Frei João Carlos Karling é nomeado Visitador Geral para a Custódia São Benedito da Amazônia

Frei João Carlos pregando Retiro em Petrópolis (RJ). Foto: Frei Augusto Luiz Gabriel.

 

O Definitório Geral da Ordem dos Frades Menores, em sessão no dia 14 de setembro, elegeu para o serviço de visitador geral da Custódia São Benedito da Amazônia, Frei João Carlos Karling, OFM, membro da Província de São Francisco de Assis com sede no estado do Rio Grande do Sul. O decreto de nomeação foi assinado pelo Ministro Geral, Frei Massimo Fusarelli, no dia 16 de setembro, e tornado público no dia 26 de setembro.

Esta é a segunda vez que Frei João Carlos realiza o serviço de Visitador Geral. Entre setembro de 2017 e janeiro de 2019 ele foi visitador geral para a Província de Nossa Senhora da Assunção, presente nos estados do Piauí e Maranhão. Frei João Carlos ao receber a notícia afirmou que um misto de sentimentos tomou conta de seu coração: surpresa, alegria e gratidão. Segundo o frade, esses sentimentos chegaram até ele e o fizeram perceber que tratava-se de uma oportunidade para alargar a tenda do coração e da fraternidade. 

O período e a forma de realizar as visitas, nas fraternidades da Custódia, ainda será programado em diálogo com o Visitador Geral. O frade visitador nunca esteve na Amazônia e diz que se sente ainda mais animado em conhecer a realidade dos frades, das comunidades e da Igreja nesta região brasileira: “Eu quero ser um irmão entre os irmãos. Poder escutar, dialogar, conhecer e ajudar naquilo que for possível. Quero visitar cada um com calma e poder sentir tudo aquilo que ouço falar sobre a beleza da missão e evangelização, da Igreja viva, inserida, integrada, mais sinodal presente na Amazônia. Quero ser um irmão com uma missão confiada pelo Espírito Santo e penso que estar na Amazônia é poder perceber de maneira ainda mais especial o Espírito de Deus presente na Criação. Também quero conhecer a cultura, a comida, as ervas, as frutas, os meios de transporte, os diferentes povos, enfim, quero poder me inserir naquela realidade.” – relatou Frei João Carlos.

 

Frei João Carlos presidindo missa. Foto: Frei Augusto Luiz Gabriel.

Sobre o Frade Visitador

Frei João Carlos Karling é natural de Santa Rosa (RS), pertence à Província São Francisco de Assis. O frade reside atualmente na cidade de Porto Alegre. Ingressou na Ordem em 31 de maio de 1980, fez a Profissão Solene em 14 de abril de 1985 e foi ordenado presbítero em 17 de dezembro de 1988. O Frade, na sua formação acadêmica, é graduado em Filosofia (PUC-RS) e Teologia (PUA) e Mestre na área de Psicologia (PUC-RS). Ele atua na sua província como secretário provincial e moderador da formação permanente.

Entendendo o que é a Visita Canônica 

Com a Visita Canônica a Custódia São Benedito da Amazônia começa a se preparar para celebrar o Capítulo Custodial 2022. O Capítulo Custodial do próximo será um espaço para a entidade franciscana revisitar seus caminhos e projetos de vida e missão e eleger o Custódio e conselho para o triênio 2022-2025. O Capítulo é ainda um espaço para tomada de decisões e propostas sobre as iniciativas presentes e futuras da Custódia na sua vivência fraterna e evangelizadora. Antes, pois, desse momento uma etapa preparatória precede a sua realização. Um passo importante que antecede o encontro trienal dos frades é esse da visitação canônica. Em suma podemos descrever a visita canônica é o tempo de escutar, ver e sentir a realidade da fraternidade custodial.

 Nesse período um frade, Visitador Geral, é delegado para em nome do Ministro Geral e do Definitório da Ordem percorrer as fraternidades da Custódia, conviver e dialogar com os frades. O irmão visitador terá a oportunidade de, fraternalmente, percorrer as terras da Amazônia conhecendo as atividades e o cotidiano dos frades nesta região. Ao término da visita canônica o frade visitador emite, conforme os documentos da Ordem, um relatório informando sobre como se deu esse processo. Em sua missão, o Visitador Geral, cuida da preparação do Capítulo e ao qual preside. Além disso, a colaboração fraterna do Visitador se estende também no Congresso Capitular, ao qual também atua como presidente.

 

Equipe de Comunicação Custodial