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Devoção à Nossa Senhora e a Paz no Mundo

Foto: Frei Andrei Anjos, OFM

 

O mês de maio para nós cristãos católicos é especial por causa do amor e devoção que temos a Mãe de Jesus, A Virgem Maria. O chamamos de mês mariano. Nesse mês celebramos nossas mães biológicas e recordamos que temos uma mãe no céu que intercede dia e noite por nós, seus filhos queridos. 

Uma das belas lembranças da infância que recordo vem do primário, quando na escola que frequentava se recitava a oração da Ave Maria e se cantava hinos dedicados à Nossa Senhora todos os dias. Era um bonito ritual: todos os alunos em fila no pátio de entrada da escola saudando a Virgem Maria antes de entrarem na sala de aula. Naqueles tempos a intolerância religiosa não era tão sentida como hoje. 

Na adolescência outra lembrança que me vem presente é a da reza do terço no mês de maio. Durante todos os dias desse mês se visitava uma família com a imagem de Nossa Senhora e em família rezava-se o santo terço.

 Partilho essas lembranças porque desde cedo nas nossas famílias somos inseridos na devoção e amor a Nossa Senhora. Somos um país que tem um carinho e devoção muito grande a mãe de Jesus. A Virgem Maria se faz presente sob diversos títulos: Fátima, Nazaré, Aparecida, Conceição, Lourdes, Guadalupe, e etc.. Uma única fé e amor em torno da mesma pessoa: Nossa Senhora. São várias as cidades que a têm como padroeira e seu nome é dado a pessoas, escolas e ruas. Nossa Senhora faz parte da cultura e imaginário popular. 

O bonito de toda essa devoção é que a Virgem Maria nos leva ao seu filho Jesus. Ela se faz presente entre nós para nos recordar a missão que seu filho nos confiou neste mundo. A missão de amar-nos uns aos outros e de tornarmos esse mundo, um mundo de paz. Como outrora nas bodas de Caná, ela nos aponta seu filho Jesus. “Fazei tudo o que ele vos disser” (Jo 2,5). Não tem como falar de Maria sem pensar no seu filho Jesus e vice-versa. Assim, por trás de toda devoção a Nossa está o seu amado Filho Jesus. 

Agora no dia 13 de maio celebraremos cento e cinco anos da aparição de Nossa Senhora em Fátima. Tal aparição se dá no contexto da primeira grande guerra mundial. É Maria que se faz presente junto a seus filhos em tempos difíceis clamando pela conversão e paz mundial. A Virgem Maria na história da humanidade sempre aparece quando seus filhos desviam o coração da mensagem do seu amado filho Jesus. A mensagem de Fátima continua atual. Vivemos no hoje da nossa história tempos sombrios: guerras, tragédias ecológicas e humanitárias, pandemia, intolerância e indiferença. A humanidade ainda precisa de conversão e oração. 

Urge redescobrimos o caminho da humanidade pensada por Deus ao criar o paraíso do Éden. Não basta ficarmos num puro devocionismo sem agirmos. É a própria Mãe que nos relembra como se dissesse hoje: façam tudo o que Jesus vos ensinou. Nossa Senhora de Fátima, rogai por nós e dai-nos a paz!!!

Frei Haroldo Pimentel, OFM

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“Tá nas mãos de São Tomé”: o lançamento do documentário sobre a festa na comunidade Cametá (Aveiro – PA)

 

Nesta época do ano, o calendário da religiosidade popular dedica, dias antes do Natal, um tempo para festejar São Tomé (mesmo que o calendário litúrgico oficial festeje sua data em 3 de julho). Em muitos lugares da Amazônia, a memória do santo é associada às práticas dos roçados e invocado como padroeiro dos agricultores(as). Esta figura de Tomé parece ser mais celebrada no imaginário popular amazônida do que aquela do apóstolo, retratado nas páginas bíblicas. Um dos locais do estado do Pará que cultiva fortemente essa piedade popular e devoção ao santo é a comunidade Cametá, no município de Aveiro – PA.

Cametá é uma comunidade que fica na margem esquerda do rio Tapajós, com cerca de 200 famílias, que na sua maioria se sustentam da atividade agrícola. A padroeira oficial da localidade é Santa Terezinha, mas a festa de São Tomé é uma das mais destacadas na comunidade. Esta festa é um exemplo da piedade popular amazônida que recorda os santos e suplica sua intercessão junto a Deus. Reconhecendo a importância dessa festividade, os antropólogos Carlos Bandeira Jr. e Frei Florêncio Vaz, com base nas suas pesquisas de campo, produziram um documentário com imagens coletadas na festa de 2019. Devido à pandemia de Covid-19, os responsáveis pela produção do filme só puderam apresentar o resultado para a população local este ano. 

No dia 17 de dezembro, a equipe do documentário (Frei Florêncio e os irmãos Carlos Bandeira Junior e Felipe Bandeira) partiu de Santarém com destino à Cametá, no barco Edmundo Braga. Na ocasião, Frei Fábio Vasconcelos e Frei Andrei Anjos, também acompanharam a equipe como convidados. A viagem pelo rio Tapajós iniciou às 19h30min. Com as redes atadas e muitas expectativas, a expedição percorreu uma noite de viagem pelo rio Tapajós, acompanhada de outros viajantes com seus sonhos e histórias.

Depois de subir o majestoso rio Tapajós, às 9h do dia 18 de dezembro, o barco que conduzia a equipe aportou na comunidade Cametá. Os viajantes desembarcaram suas bagagens e o material para exibir o filme. Subindo a escadaria, percorreram algumas casas e logo chegaram à capela e barracão de São Tomé. Na capela, encontrava-se a pequena imagem de São Tomé, recoberta de fitas e acomodada em um oratório artesanal recoberto de um estampado tecido de chita. O estilo do oratório era como de uma tenda ou cabana. Ao lado estava o barracão, onde realiza-se a programação social da festa do Santo, inclusive as festas dançantes. À noite, o barracão se transformaria em sala de cinema.

As irmãs Terezinha e Irene Marques, da família que promove a festa, aguardavam a equipe no local de hospedagem. Frei Florêncio Vaz, que é originário da comunidade vizinha Pinhel, relatou que conhecia a bastante tempo aquele festejo de São Tomé. Disse ainda que aquele já era o segundo documentário produzido sobre o tema, sendo o primeiro feito pelo cineasta Clodoaldo Correa, em 2009. A comitiva do filme aproveitou a manhã e conversou com os comunitários, revisitou pessoas que colaboraram na filmagem e convidou para a sessão de cinema. Dona Irene Marques, integrante da equipe da festa de São Tomé, guiou o grupo nas visitas.

 

 

Este ano, a festa de São Tomé não aconteceu com a grandiosidade costumeira por dois motivos: a pandemia de Covid-19 e o falecimento de uma das lideranças locais, a senhora Maria de Fátima, conhecida como Maria Pretinha. Por isso, a festa de São Tomé não contou com levantamento de mastro e nem com a festa dançante. No almoço,  um peixe muito apreciado foi servido no local, xaperema assado. À tarde começaram os preparativos para a noite de cinema, precedida por um momento religioso. 

O “canto das seis horas” em louvor ao Glorioso São Tomé foi entoado por um grupo de foliões com tambores, caixas, reco-reco e outros instrumentos. Foliões em geral são pessoas adultas, mas as crianças também acompanharam o momento de cantoria e louvação. Os foliões puxaram cantos que evocavam Jesus Cristo, Rei da Glória, Filho Santo de Maria. Mencionaram a “hora de alegria” e “Glorioso São Tomé”, pedindo que o santo os guiasse sempre. Antes do grupo de mulheres cantar a ladainha, uma das comunitárias fez uma motivação espontânea das intenções daquela ladainha. Então uma súplica ao Espírito Santo foi cantada, que traz em sua letra elementos das grandes súplicas litúrgicas ao Divino, o pedido “Veni, Sancte Spiritus”, a petição dos dons, entre outros aspectos. A ladainha entoada foi dirigida aos títulos de “Nossa Senhora”, num misto de canto gregoriano em latim e tons amazônicos. Ainda fizeram parte do momento religioso algumas falas da família guardiã do Santo, dos visitantes, o ritual do beija-fita e o canto da despedida feito pelos foliões.

Por volta das 20h, o esperado documentário começou a ser projetado. Uma fala introduziu o enredo e a importância deste festejo popular. Os comunitários, ao vislumbrar as cenas do documentário, recordaram os participantes da festa que já não estão vivos. A exposição fez uma menção honrosa à Maria Pretinha, falecida este ano, que aparece nas filmagens e era foliã de São Tomé. O documentário apresenta olhares sobre a manifestação de religiosidade popular e festa social com a ajuda dos depoimentos das lideranças. As imagens retratam diversos momentos da festa: levantamento de mastro, folias, rezas, momentos dançantes e etc. O vídeo contempla a história e futuro desta festividade. Na circunstância, outro documentário produzido em 2009 também foi exposto. Ao término da sessão, as pessoas manifestaram suas impressões sobre as produções cinematográficas. 

O documentário deve ser divulgado em breve no YouTube. Assim, com sentimento de gratidão, a equipe do documentário e convidados se despediram de Cametá animados pela fé em São Tomé. O documentário entregue nas mãos do povo é sinal de um empenho para restituir aos povos locais toda a riqueza da sua religiosidade. Tá nas mãos de São Tomé, está nas mãos do povo também!

Frei Fábio Vasconcelos, OFM

 

Fotos: Equipe de Comunicação Custodial

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Acolher, em nome de Deus, do jeito de Maria

Foto: CNBB Norte 1

 

Quem é que não sente a necessidade de estar à vontade quando chega num lugar novo? A vida é mais fácil quando isso acontece, quando a gente se sente em casa, quando a gente não tem a sensação de ser olhado pelos outros como um estranho.

Acolher deveria ser algo humano, mas ninguém pode duvidar que é algo divino, uma atitude que nos aproxima com esse Deus que sempre acolhe, escuta, cura as feridas e dá tudo o que Ele tem. Quando a gente acolhe nos tornamos instrumento de Deus na vida do povo, ainda mais na vida de tantas pessoas que, longe de casa, são vítimas da falta de escrúpulo daqueles que se aproveitam de sua vulnerabilidade.

Papa Francisco tem a acolhida dos migrantes e refugiados como um dos temas mais recorrentes do seu pontificado, animando a Igreja a assumir essa atitude. Ele fala de quatro verbos, que na verdade são quatro atitudes que deveriam estar presentes na vida de todo batizado e na vida de todas as igrejas: “acolher, proteger, promover e integrar”. Infelizmente nos deparamos com “cristãos” que diante dos migrantes e refugiados tem atitudes totalmente contrárias.

A Igreja de Manaus tem mostrado nos últimos anos que essa acolhida aos migrantes, especialmente aos venezuelanos, mas também a pessoas chegadas de outros países, é uma prioridade como arquidiocese. São muitas as pessoas, especialmente a Pastoral do Migrante e a Caritas, que no dia a dia doam sua vida para que os nossos irmãos e irmãs possam se sentir à vontade, possam se sentir em casa.

 

Foto: CNBB Norte 1

 

Neste domingo, a Arquidiocese de Manaus viveu mais um episódio dessa atitude de acolhida aos migrantes. Na Catedral Metropolitana de Manaus, Dom Leonardo Steiner entronizava a imagem de Nossa Senhora do Valle, padroeira do Oriente venezuelano. De agora em adiante, essa imagem vai estar na igreja mãe da Arquidiocese de Manaus, no centro da cidade, um lugar onde muitos migrantes venezuelanos vivem seu dia a dia.

Dom Leonardo disse durante a celebração que nessa imagem os migrantes podem encontrar uma força para “para trilhar o caminho do sofrimento, da separação familiar, da saudade da pátria, do ter que pedir esmola“. Mas também insistiu em que ao entronizar a imagem na Igreja de Manaus, “desejamos assim expressar a nossa acolhida, o nosso amor, ajudar a enxugar as lágrimas, acalentar a saudade, é a manifestação do nosso amor para com nossos irmãos venezuelanos”.

Estamos diante de mais um pequeno gesto, que, em palavras do Arcebispo de Manaus, “talvez, na fé, ajude a cobrir a nudez e matar a fome”. O sentimento religioso fortalece nossa vida diante das dificuldades, viver em comunidade nos dá forças para ir além, para chegar onde sozinhos a gente não consegue. Acolher esse sentimento religioso também ajuda as pessoas a se sentir parte de uma Igreja que pelo fato de ser católica, é universal, supera divisões de raças, culturas, fronteiras, nacionalidades.

Nunca esqueçamos que Deus une, congrega, reúne. Ele faz isso porque o sentimento fundamental em sua vida é o amor. Caminhar com Deus tem que nos levar a amar, a exemplo dele, com os sentimentos de Maria, que desde os muros da Catedral de Manaus quer continuar sendo uma força para aqueles que sempre a imploraram do outro lado da fronteira como Nuestra Señora del Valle.

 

Luis Miguel Modino

Assessor de comunicação CNBB Norte 1

Publicado originalmente em: CNBB Norte 1