WhatsApp Image 2021-04-27 at 22.55.43

Reflexões amazônicas para o Tempo da Criação 2021: Uma maloca para todos?

Casa de palafita na várzea amazônica. Foto: Flávio Lorrane Clementino.

 

Somos convidados a receber esta pergunta de maneira surpresa: “UMA CASA PARA TODOS?” Em muitos lugares do mundo, seja por questões culturais ou por outras circunstâncias, famílias inteiras vivem na mesma casa (malocas grandes ou pequenos barracos). Eu, até minha adolescência, vivi numa mesma casa com meus familiares, que a saber eram: pai, mãe, três irmãos, avó, avô, três tios, duas tias e bisavô. Mas, “Todos na mesma Casa?”, você deve estar se perguntando, e agora, com maior surpresa. Sim, uma casa para todos! O meu exemplo é o exemplo de muitos ribeirinhos, quilombolas, povos indígenas e gente da periferia amazônica. E isto não é uma exclusivamente desta região. Uma única casa é o que se tem para oferecer para três ou quatro gerações da mesma família.

Quando Deus criou o seu “Oikos” (Gn 1:1 – 2:4) o fez de maneira tão perfeita, que Ele mesmo viu tudo que havia feito e tudo era muito bom (Gn 1: 31). Tudo era tão perfeito que todas as criaturas tinham seu lugar e todas podiam conviver como membros de uma mesma casa. Uma mesma casa, não somente para três ou quatro gerações, mas para todas as gerações, para todos os povos e culturas, para todos os seres. Pois, todos, criaturas que somos, pertencemos a mesma casa e esta é a casa (oikos) de Deus.

Do dia 1º de setembro a 4 de outubro, cristãos no mundo todo celebram o belo dom da Criação. Esta celebração tem seu início em 1989, quando o Patriarca Ecumênico Dimitrios I proclamou o 1º de setembro como o Dia de Oração pela Criação para os Ortodoxos. Posteriormente, o Conselho Mundial de Igrejas (CMI) estendeu a celebração até 4 de outubro, dia de São Francisco de Assis e, em 2015, o Papa Francisco oficializou o “Tempo da Criação” para a Igreja Católica Romana.

A cada ano, o Comitê Diretivo Ecumênico sugere um tema e fornece recursos que orientam a celebração do Tempo da Criação. Este ano o tema é “Uma casa para todos? Renovando o Oikos de Deus”. A primeira parte deste tema é uma pergunta e pode nos sugerir uma reflexão, ou um susto como tentei mostrar no início deste texto. A segunda parte traz a palavra “Oikos” que é uma palavra grega que significa “lar” ou “casa”. O tema deste ano então, quer refletir como pede-se renovar a casa de Deus que é um lugar para todos e todas.

 

Várzea da Região de Santarém. Foto: Flávio Lorrane Clementino.

 

O Tempo da Criação é uma oportunidade para os cristãos, ou não-cristãos, rezar e refletir sobre as maneiras de viver e conviver com toda a criação. É um tempo forte de esperança onde pode-se sonhar com um mundo melhor para cada ser vivente e para a casa comum. A Custódia São Benedito da Amazônia junta-se nesta celebração e realiza durante este período a publicação de uma série de artigos, produzidos pelos próprios frades, que refletem e rezam, de maneira especial, à luz da realidade amazônica.

Os frades escrevem sobre as habitações na Amazônia, sobre as Tendas e os Tapiris (Ocas, Malocas, Palafitas), sobre os povos e criaturas, sobre o olhar franciscano e sobre o que pode ser feito de concreto na renovação do Oikos de Deus. Toda segunda feira, você acompanha uma reflexão através do nosso site e demais redes sociais. Some-se à Custódia São Benedito da Amazônia e juntos podemos achar caminhos para a renovação da casa Deus, nossa Casa Comum.

Falando em Casa Comum, deixa-me retornar ao meu exemplo de quando eu era criança. Nossa pequena casa de palha, que era quase que totalmente reformada com novas palhas a cada ano, nunca perdia a essência de ser uma casa para todos. Além de nós, gatos, cachorros, galinhas, hortas e pomares com verduras, legumes e frutas de onde tirávamos o sustento para sobrevivermos, eram partes fundamentais naquele Oikos. A renovação do Oikos dava-se durante o tempo de cheia, quando a terra desaparecia e nossos canteiros de legumes e verduras eram suspensos. Dava trabalho, mas ninguém reclamava. Meu bisavô dizia que fazia parte do processo de renovação ou purificação da terra. Quando a água baixava começávamos tudo de novo. Trabalhávamos respeitando o ciclo natural e a terra nos sustentava favorecendo-nos o pão de cada dia. Tudo numa mesma casa, num mesmo ambiente, num mesmo Kairós. Mas e agora, quanto a nós, o que podemos fazer para renovar o Oikos de Deus? Afinal, somos todos moradores de uma mesma casa! Uma casa para todos? – Sim!

Foto: Arquivo Custodial/ Projeto Omolu.

Frei Erlison Campos, OFM

Graduado em Letras pela Universidade Federal do Pará (UFPA, Campus Santarém-PA). Licenciado em Filosofia pela Faculdade Salesiana Dom Bosco ( FSDB, Manaus-AM). Acadêmico de Teologia na Catholic Theological Union ( CTU, Chicago-IL).

Sobrevoo sobre a área da Missão São Francisco (2016) - Foto: Maribeth Joeright.

Sobre agulhas no palheiro: Notícias amazônicas na opinião de Pe. Edilberto Sena

Sobrevoo sobre a área da Missão São Francisco (2016) – Foto: Maribeth Joeright.

Em nosso site abrimos espaço para ecoar “vozes amazônicas”. O texto a seguir trata-se um artigo de opinião a partir da realidade regional. Nele o autor apresentam seu ponto de vista sobre um tema pertinente a vida e missão no “poliedro amazônico”. O primeiro artigo que publicamos é intitulado “Sobre agulhas no palheiro”, onde Padre Edilberto Sena, expõe segundo sua análise, notícias atuais sobre o panorama socioambiental.

Acompanhe o texto

Apresentar notícias esperançosas sobre a Amazônia brasileira hoje, é um desafio, tão custoso quanto procurar agulha num palheiro como compara o Evangelho. Que bom que existem algumas agulhas, mas o palheiro é muito grande. Os movimentos populares na luta em defesa da vida, os movimentos indígenas, na luta pelo seu território, as pastorais sociais da Igreja em defesa dos oprimidos e da Mãe Terra, são algumas agulhas.

Os maiores palheiros são os empresários do agronegócio e mineradores, apoiados por um governo psicopata e genocida. Essa disputa pelo território amazônico tem sido muito desigual, sempre, porém mais grave atualmente com o governo paranoico, políticos mercenários e Suprema Corte medrosa. Os militares perderam completamente sua missão de morrer pela pátria se preciso fosse para agora viver pelos altos salários e armamentos antigos da comprados dos Estados Unidos da América do Norte depois do fracasso da guerra do Vietnã.

Os órgãos de proteção da Amazônia (IBAMA, ICMBIO e FUNAI) estão sucateados. Ao mesmo tempo, o general Hamilton Mourão, vice-presidente da República, sem tarefas do cargo, se torna diretor da defesa da Amazônia com pelotões militares. Ao mesmo tempo que gasta muito mais dinheiro com esses deslocamentos inúteis e deixa o IBAMA sem recurso para funcionar.

Na semana passada, o assim dito presidente da comissão da Amazônia esteve em Altamira (PA), região do rio Xingu, onde está ocorrendo um grande desmatamento. Segundo informações oficiais, ele veio participar de operações contra o desmatamento da Amazônia.

Mas, uma liderança da luta popular do Xingu faz um alerta. Ela diz: “Se atentem a essas três informações:

Segundo o site “O Eco”, em 2.012 o governo federal reduziu 60% do orçamento do monitoramento do desmatamento.

Segundo o “Valor Econômico”, nos 26 municípios que estão sob o decreto de Garantia de Lei e Ordem (GLO), incluindo Altamira, houve uma redução menor no desmatamento do que em municípios sem a intervenção das Forças Armadas.

Segundo o site “Outras Palavras”, as Forças Armadas gastaram em 2020, com satélite de baixa eficiência, três vezes mais que o orçamento do Ibama, ICMBio e Inpe, juntos. Apesar do gasto astronômico na operação “contra o desmatamento”, o ano registrou devastação recorde”.

Assim questiona a jovem líder popular de Altamira: O mesmo veio fazer, gastando dinheiro público com o general Vice-presidente? Apenas veio trazer uma cortina de fumaça para dizer que o combate ao desmatamento é uma das prioridades do governo. Infelizmente os fatos desmentem o tal general.

 

Pe. Edilberto Sena

Presbítero da Arquidiocese de Santarém e Assessor de Movimentos Populares