Somos convidados a receber esta pergunta de maneira surpresa: “UMA CASA PARA TODOS?” Em muitos lugares do mundo, seja por questões culturais ou por outras circunstâncias, famílias inteiras vivem na mesma casa (malocas grandes ou pequenos barracos). Eu, até minha adolescência, vivi numa mesma casa com meus familiares, que a saber eram: pai, mãe, três irmãos, avó, avô, três tios, duas tias e bisavô. Mas, “Todos na mesma Casa?”, você deve estar se perguntando, e agora, com maior surpresa. Sim, uma casa para todos! O meu exemplo é o exemplo de muitos ribeirinhos, quilombolas, povos indígenas e gente da periferia amazônica. E isto não é uma exclusivamente desta região. Uma única casa é o que se tem para oferecer para três ou quatro gerações da mesma família.
Quando Deus criou o seu “Oikos” (Gn 1:1 – 2:4) o fez de maneira tão perfeita, que Ele mesmo viu tudo que havia feito e tudo era muito bom (Gn 1: 31). Tudo era tão perfeito que todas as criaturas tinham seu lugar e todas podiam conviver como membros de uma mesma casa. Uma mesma casa, não somente para três ou quatro gerações, mas para todas as gerações, para todos os povos e culturas, para todos os seres. Pois, todos, criaturas que somos, pertencemos a mesma casa e esta é a casa (oikos) de Deus.
Do dia 1º de setembro a 4 de outubro, cristãos no mundo todo celebram o belo dom da Criação. Esta celebração tem seu início em 1989, quando o Patriarca Ecumênico Dimitrios I proclamou o 1º de setembro como o Dia de Oração pela Criação para os Ortodoxos. Posteriormente, o Conselho Mundial de Igrejas (CMI) estendeu a celebração até 4 de outubro, dia de São Francisco de Assis e, em 2015, o Papa Francisco oficializou o “Tempo da Criação” para a Igreja Católica Romana.
A cada ano, o Comitê Diretivo Ecumênico sugere um tema e fornece recursos que orientam a celebração do Tempo da Criação. Este ano o tema é “Uma casa para todos? Renovando o Oikos de Deus”. A primeira parte deste tema é uma pergunta e pode nos sugerir uma reflexão, ou um susto como tentei mostrar no início deste texto. A segunda parte traz a palavra “Oikos” que é uma palavra grega que significa “lar” ou “casa”. O tema deste ano então, quer refletir como pede-se renovar a casa de Deus que é um lugar para todos e todas.
O Tempo da Criação é uma oportunidade para os cristãos, ou não-cristãos, rezar e refletir sobre as maneiras de viver e conviver com toda a criação. É um tempo forte de esperança onde pode-se sonhar com um mundo melhor para cada ser vivente e para a casa comum. A Custódia São Benedito da Amazônia junta-se nesta celebração e realiza durante este período a publicação de uma série de artigos, produzidos pelos próprios frades, que refletem e rezam, de maneira especial, à luz da realidade amazônica.
Os frades escrevem sobre as habitações na Amazônia, sobre as Tendas e os Tapiris (Ocas, Malocas, Palafitas), sobre os povos e criaturas, sobre o olhar franciscano e sobre o que pode ser feito de concreto na renovação do Oikos de Deus. Toda segunda feira, você acompanha uma reflexão através do nosso site e demais redes sociais. Some-se à Custódia São Benedito da Amazônia e juntos podemos achar caminhos para a renovação da casa Deus, nossa Casa Comum.
Falando em Casa Comum, deixa-me retornar ao meu exemplo de quando eu era criança. Nossa pequena casa de palha, que era quase que totalmente reformada com novas palhas a cada ano, nunca perdia a essência de ser uma casa para todos. Além de nós, gatos, cachorros, galinhas, hortas e pomares com verduras, legumes e frutas de onde tirávamos o sustento para sobrevivermos, eram partes fundamentais naquele Oikos. A renovação do Oikos dava-se durante o tempo de cheia, quando a terra desaparecia e nossos canteiros de legumes e verduras eram suspensos. Dava trabalho, mas ninguém reclamava. Meu bisavô dizia que fazia parte do processo de renovação ou purificação da terra. Quando a água baixava começávamos tudo de novo. Trabalhávamos respeitando o ciclo natural e a terra nos sustentava favorecendo-nos o pão de cada dia. Tudo numa mesma casa, num mesmo ambiente, num mesmo Kairós. Mas e agora, quanto a nós, o que podemos fazer para renovar o Oikos de Deus? Afinal, somos todos moradores de uma mesma casa! Uma casa para todos? – Sim!
Frei Erlison Campos, OFM
Graduado em Letras pela Universidade Federal do Pará (UFPA, Campus Santarém-PA). Licenciado em Filosofia pela Faculdade Salesiana Dom Bosco ( FSDB, Manaus-AM). Acadêmico de Teologia na Catholic Theological Union ( CTU, Chicago-IL).