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A Igreja defende os indígenas, a “Doutrina da Descoberta” nunca foi católica

Papa Francisco durante sua viagem apostólica ao Canadá, em julho de 2022 (Vatican Media)

 

Graças à ajuda dos indígenas, “a Igreja adquiriu maior consciência de seus sofrimentos, passados e presentes, devido à expropriação de suas terras… e às políticas de assimilação forçada, promovidas pelas autoridades governamentais da época, a fim de eliminar suas culturas”. É o que se lê na “Nota conjunta sobre a Doutrina da Descoberta” dos Dicastérios para a Cultura e a Educação e para a Promoção do Desenvolvimento Humano Integral publicada nesta quinta-feira, 30 de março. O documento afirma que a “Doutrina da Descoberta”, teoria que serviu para justificar a expropriação dos indígenas pelos soberanos colonizadores, “não faz parte do ensinamento da Igreja Católica” e que as bulas papais com as quais foram feitas concessões aos soberanos colonizadores nunca se tornaram magistério.

É um texto importante que, oito meses depois da viagem do Papa Francisco ao Canadá, reitera claramente a rejeição da Igreja Católica à mentalidade colonizadora. “Ao longo da história”, recorda-se, “os Papas condenaram os atos de violência, opressão, injustiça social e escravidão, inclusive os cometidos contra as populações indígenas”. E “também foram numerosos os exemplos” de bispos, sacerdotes, religiosas e leigos que “deram a vida em defesa da dignidade daqueles povos”. A Nota também recorda que “muitos cristãos cometeram atos perversos contra os povos indígenas pelos quais os últimos Papas pediram perdão em numerosas ocasiões”.

A propósito da “Doutrina da Descoberta”, afirma-se que “o conceito jurídico de «descoberta» foi debatido pelas potências coloniais a partir do século XVI e encontrou particular expressão na jurisprudência dos tribunais de vários países do século XIX, segundo a qual a descoberta de terras pelos colonos conferia um direito exclusivo de extinguir, por meio de compra ou conquista, o título ou a posse destas terras pelas populações indígenas”. Segundo alguns estudiosos, esta “doutrina” encontrou sua base em vários documentos papais, em particular nas Bulas de Nicolau V “Dum Diversas” (1452) e “Romanus Pontifex” (1455), e na de Alexandre VI “Inter Caetera” (1493). Trata-se de atos com os quais estes dois Papas autorizaram os soberanos portugueses e espanhóis a apoderar-se das propriedades nas terras colonizadas, subjugando as populações originárias.

A pesquisa histórica demonstra claramente”, afirma a Nota, “que os documentos papais em questão, escritos em um período histórico específico e ligados a questões políticas, nunca foram considerados expressões da fé católica”. Ao mesmo tempo, a Igreja “reconhece que essas bulas papais não refletiam adequadamente a igual dignidade e direitos dos povos indígenas”. E acrescenta que “o conteúdo destes documentos foi manipulado para fins políticos pelas potências coloniais em competição entre si, para justificar atos imorais contra as populações indígenas, por vezes realizados sem a oposição das autoridades eclesiásticas”. Portanto, é justo, afirmam os dois Dicastérios da Santa Sé, “reconhecer esses erros, reconhecer os terríveis efeitos das políticas de assimilação e a dor sentida pelos povos indígenas e pedir perdão”.

Em seguida, citam-se as palavras do Papa Francisco: “Nunca mais a comunidade cristã poderá deixar-se contagiar pela ideia de que uma cultura é superior às outras, ou de que é legítimo recorrer a formas de coagir as outras”. E recorda-se, “sem meios termos”, que o magistério da Igreja apoia o respeito devido a todo ser humano e que a Igreja “repudia, portanto, aqueles conceitos que não reconhecem os direitos humanos intrínsecos dos povos indígenas”, inclusive a conhecida “Doutrina da Descoberta”.

Por fim, a Nota menciona as “numerosas e repetidas” declarações da Igreja e dos Papas em favor dos direitos dos povos indígenas, começando pela contida na Bula “Sublimis Deus” de Paulo III (1537), que declarou solenemente que os indígenas não devem “de forma alguma ser privados de sua liberdade ou da posse dos seus bens, mesmo que não sejam de fé cristã; e que podem e devem, livre e legitimamente, gozar da sua liberdade e da posse de seus bens; nem devem ser de forma alguma escravizados; caso contrário, o ato será nulo e sem qualquer efeito.” “Mais recentemente, a solidariedade da Igreja com os povos indígenas suscitou o forte apoio da Santa Sé aos princípios contidos na Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas”. A sua implementação “melhoraria as condições de vida e ajudaria a proteger” os direitos desses povos.

 

Fonte: Vatican News

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São Sebastião: defensor da vida e testemunha do amor!

Foto: Arquivo da Custódia

 

São Sebastião nasceu na cidade de Narbonne, França, no século terceiro, seus pais eram naturais de Milão, Itália, e desde pequeno teve em sua personalidade as marcas da generosidade e do serviço. Dedicou-se ainda mais no cuidado ao próximo após ser iniciado na comunidade cristã. Na sua carreira pública, serviu ao Império Romano como soldado, chegando a galgar postos importantes na guarda imperial. Naquele tempo, os cristãos eram duramente perseguidos pelo imperador Diocleciano. Por causa da sua fé, muitos cristãos acabavam sendo perseguidos, presos, torturados e mortos. Esses acontecimentos levaram São Sebastião a consolá-los de maneira muito sábia, porém de forma secreta e escondida. Uma evangelização eficaz pelo testemunho que não podia ser explícito. 

São Sebastião amou a Igreja e tornou-se um defensor da comunidade. Como soldado, ficou muito próximo das aflições sofridas pelos confessores daqueles que eram presos e mantinham-se fiéis na sua profissão de fé. Ele viu de perto o testemunho eloquente dos mártires – os que confessavam Jesus em todas as situações, renunciando à própria vida – e por isso ficou conhecido como o “defensor da verdade no amor apaixonado a Deus”. 

O Papa Francisco coloca o Santo como um exemplo de jovem seguidor de Cristo: “São Sebastião – no século III – era um jovem capitão da guarda pretoriana. Contam que falava de Cristo por toda a parte e procurava converter os seus companheiros até quando lhe foi ordenado que renunciasse à sua fé. Como não aceitou, fizeram cair uma chuva de flechas sobre ele, mas sobreviveu e continuou a anunciar Cristo sem medo. Por fim, açoitaram-no até à morte” (CV, 51). Por isso, o tema das festividades de São Sebastião deste ano traz a história de São Sebastião e aponta para a realidade da nossa casa, a Amazônia.

 

Defensor da Vida

Na exortação apostólica pós-sinodal ‘Querida Amazônia’, o bispo de Roma fez um forte apelo aos líderes mundiais, às companhias transnacionais e à população de todo o Planeta para aumentarem os esforços de proteção e conservação da floresta amazônica e das diversas populações que nela vivem, em especial os povos indígenas. Essa mensagem veio em resposta aos clamores do Sínodo dos Bispos sobre a Pan-Amazônia. Para simbolizar essas ideias, no cartaz da festa deste ano, colocamos a imagem de São Sebastião no meio da realidade amazônica, representada pelos pescadores (ribeirinhos, comunidades quilombolas e povos indígenas). Pelos rios da nossa Amazônia devemos defender a vida, respeitando a naturalidade dos povos que aqui habitavam antes da colonização, pois todos somos igualmente filhos de Deus.

Defender a vida na Amazônia implica primeiro em reconhecer que “somos água, ar, terra e vida do meio ambiente criado por Deus”, como escreve o Papa Francisco. Por conseguinte, pedimos que cessem os maus-tratos e o extermínio da ‘Mãe Terra’. A Terra tem sangue e está sangrando, as multinacionais cortaram as veias da nossa “Mãe Terra”. E dessa maneira reconhecemos que a Amazônia encontra-se necessitada de testemunhas que a amem e defendam-na. O corpo da região está martirizado como o de São Sebastião. O Papa também deseja que “lutemos pelos direitos dos mais pobres, combatendo as injustiças e os crimes ao meio ambiente e à vida”. São Sebastião nos ensina em sua história que devemos seguir lutando pela verdade e pela vida, unidos com Cristo nos caminhos da justiça e da paz.

 

Testemunha do Amor

“Para testemunhar o Seu amor, o fruto a ser dado é o amor. Dos frutos se reconhece a árvore. Uma vida verdadeiramente cristã dá testemunho de Cristo”, diz o Papa Francisco. Para isso, deve-se testemunhar a vida como fez São Sebastião, consonante ao apelo de sua Santidade: “Mas também Jesus, assim como a videira com os ramos, também precisa de nós. Talvez pareça audacioso dizer isso, e então nos perguntamos: em que sentido Jesus precisa de nós? Ele precisa do nosso testemunho. O fruto que nós, como ramos, devemos dar é o testemunho da nossa vida cristã. […] Os discípulos devem continuar a anunciar o Evangelho com a palavra e com as obras”.

Para permanecer e transparecer o amor, parte integrante da nossa identidade cristã, tenhamos o olhar de São Sebastião! Assim como ele, sejamos testemunhas do Amor em uma situação de ódio. Proclamemos o cuidado diante da indiferença com os pobres, doentes e com a Casa Comum. Permaneçamos firmes, crendo que o propósito de Deus é maior que o nosso! Sejamos a árvore do amor de Deus na Terra! 

 

Eduardo Araújo

Pascom – Paróquia São Sebastião

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A luz da Palavra na Mundurukânia: os primeiros dias do ano no Alto Tapajós

Na primeira parte do relato apresentamos as vivências de Frei Edilson, Frei Andrei e Frei Fábio nos primeiros oito dias de viagem, coincidindo com a oitava do Natal, da sua passagem pela Missão Cururu.

As narrativas que seguem se concentram do dia 31 de dezembro de 2021 até 06 de janeiro de 2022. O que embala as descrições é o forte sinal da luz, uma ilustração profunda do tempo natalino, e o simbolismo dos dons manifestados na epifania do Senhor, tudo isso mesclado com a realidade da nação munduruku do Alto Tapajós. 

 

Muita Luz no Ano Novo!

O dia que encerrou 2021 foi marcado pela celebração do Ano Novo. Em clima de vigília pela chegada de um novo tempo, as pessoas reunidas para a missa renderam graças pela vida no decurso do calendário civil que concluímos. Por algum motivo, após a liturgia da palavra, o gerador que fornece luz para a igreja deu uma parada, mas, com luz de velas e lanternas, seguiram com a eucaristia. É uma boa analogia ver que mesmo em uma capela escura sempre se pode dar um jeito e achar luzes para prosseguir. 

 

Santa Maria, Mãe de Deus

No primeiro dia de 2022, celebramos a liturgia de Santa Maria Mãe de Deus, que concluiu a oitava do Natal, com uma boa participação dos fiéis. Frei Edilson alertou que ao celebrar, temos sempre como centro da nossa fé a pessoa de Jesus, mas em Maria encontramos um exemplo de como deixar Cristo ser o mais importante em nossas vidas. Ele recordou que o ano novo representa para todos uma nova esperança, e que para os povos indígenas é uma oportunidade de buscar o bem viver, valorizando as sabedorias dos antepassados e o cuidado com a Terra. As temáticas das leituras mesclavam tanto a figura de Maria com o começo do novo tempo que chega com mais este ano civil. Na conclusão das preces, foi rezada a oração da paz, atribuída a São Francisco de Assis. No final da celebração, Frei Edilson deu a bênção para o início do ano de 2022.    

 

A luz das nações manifestou-se no Rio Cururu

No domingo da Epifania, este ano celebrado no Brasil no dia 02 de janeiro, tivemos a missa dominical na aldeia Missão São Francisco, a última celebração desta visita. Depois do Evangelho, Frei Edilson anunciou as datas das solenidades móveis, destacando a data da Páscoa (17 de abril), e afirmando a presença dos frades para essa celebração litúrgica. O Frade, ao começar sua reflexão, explicou o significado de Epifania como manifestação, derivada da sua origem na língua grega. Em seguida, pontuou que essa presença do Senhor que se revela é sentida em um só clima de Natal e de manifestação de Jesus. A luz é o grande símbolo deste tempo, pontuou ele. Vemos o mundo que se ilumina, mesmo muitas vezes sem saber e nem entender o sentido de tanta luminosidade. No entanto, no coração dos fiéis se acende a mais forte luz da fé. O nascimento de Jesus Cristo e sua manifestação acontece aos mais simples, como os pastores. Também aos magos, gente que vem de fora para adorar e reconhecer o seu esplendor. No meio do caminho de encontro com a luz, pode-se também topar com a perversidade de gente distante da claridade, nas vias da corrupção e da ganância, figurado em Herodes. Que a presença de Cristo acenda a luz que clareia os nossos passos na unidade neste ano de 2022, com clareza e lucidez para seguirmos como povo cheio de vida.

 

Primeira Missa na aldeia Paxiúba

Na tarde do domingo da epifania (02 de janeiro), os frades, irmãs e um grupo de leigos foram visitar e celebrar a eucaristia na aldeia Paixúba. O nome da aldeia, nome de uma palmeira, se deve na verdade a um igarapé de mesma denominação que passa pela comunidade. Celebraram a liturgia no barracão comunitário, e essa foi a primeira vez que a comunidade celebrou a eucaristia. A aldeia tem em torno de dois anos e ainda não tem uma capela e nem um santo padroeiro. Na ocasião, todos ficamos ao redor da grande mesa. Em seguida, no mesmo espaço, partilharam uma refeição com vinho de bacaba, beiju (beyo’a), café, chá e suco de muruci. Neste momento de partilha fraterna, as pessoas trouxeram também os seus animais de estimação para o barracão e uma diversidade de espécies de macacos, quatis e outros animais foi vista.

 

Testemunhas da luz

Os ministérios leigos na área pastoral da Missão Cururu têm se mostrado bastante fecundos na construção de uma ministerialidade eclesial com rosto amazônico. A formação e investidura de ministros da palavra tem evidenciado o protagonismo dos leigos para uma igreja missionária em saída. Uma consciência de responsabilidade pastoral frente aos desafios atuais da realidade munduruku tem crescido cada vez mais entre as lideranças da igreja local. Desde o ano de 2017, ano onde o ministério foi conferido para o primeiro grupo, os ministros da Palavra estão presidindo as liturgias com as aldeias e tem assumido seu bem papel eclesial. No ano de 2019, uma outra turma de ministros recebeu o mandato. No desempenho dessa função, que não é apenas da presidência litúrgica das celebrações, os ministros se enraízam na Palavra de Deus e testemunham a habitação dela no meio da vida dos Munduruku. A comunicação da Palavra é outra marca desse ministério, que pode muito bem ser feito na própria língua indígena. Dentro da Palavra que é luz emergem testemunhas como a de João Batista, pronta a anunciar o Cristo que ilumina as nações.

Inspirados por esse tipo bíblico, o grupo de ministros das aldeias da mundurukânia resolveu por iniciativa própria promover as “caravanas de São João Batista” como momentos de evangelização das comunidades. Esta ação se coloca como sinal da luz e efeito da Palavra de Deus. Esse trabalho também é fruto do trabalho missionário das pessoas que ajudaram na formação desses ministros e das comunidades que acolhem a Palavra de Deus.

 

 

Os dons que recebemos

No dia 04 de janeiro, os frades retornaram para Jacareacanga e seguiram rumo à Santarém, aonde chegaram no dia 06 de janeiro, dia da festa popular dos “Santos Reis”, trazendo na mala muitos presentes, que não são provenientes das “riquezas materiais”, mas simbólicas, que vem do encontro com a rica cultura no seio da Amazônia. Os frades trouxeram um paneiro cheio de boas conversas, de aprendizados e de situações inquietantes para pensar e refletir. Percebemos que estes são dons que devemos partilhar e que nos fazem crescer em comunhão com estes mais de cem anos de convivência. Outro dom desta viagem foi perceber como o Espírito faz germinar e florir as sementes dos ministérios, em especial na atuação dos(as) ministros(as) da Palavra e na sua atitude de testemunhar o Reino. Recolhemos no coração a dádiva de vocações religiosas autóctones, membros do povo Munduruku vocacionados a ser pains (paĩ) e irmãs. Isto tudo são candeeiros acesos do sonho socioecológico-eclesial da Querida Amazônia.   

Texto: Frei Fábio Vasconcelos

Fotos: Frei Edilson Rocha e Frei Andrei Anjos

Encenação de "Vamos minha gente". Foto: Acervo do Grupo Kabi Kaxi.

Grupo de teatro Kabi Kaxi lança documentário sobre peça franciscana

Encenação de “Vamos minha gente”. Foto: Acervo do Grupo Kabi Kaxi.

 

A peça teatral  intitulada “Vamos minha gente” é originalmente italiana mas foi traduzida para o português e apropriada para a linguagem amazônica.  “Vamos minha gente” é encenada pelo Grupo de teatro Franciscano Kabi Kaxi desde 2018 na cidade de Santarém e cidades vizinhas no oeste paraense. A dramaturgia de inspiração franciscana ganhou o gosto popular e no último dia 28 de setembro chegou às redes sociais através de um documentário sobre a montagem da peça. Através de uma entrevista virtual para a assessoria de comunicação da Custódia São Benedito da Amazônia, Marcos Rodrigo, diretor do grupo, contou alguns detalhes.

Figurino de estilo medieval usado na produção. Foto: Acervo Kabi Kaxi.

O Documentário 

O documentário sobre a peça teatral “Vamos minha gente” foi possível depois que o grupo Kabi-Kaxi foi contemplado com o recurso proveniente da Lei Federal nº14.017, de 29 de junho de 2020, disponibilizado pela Secretaria de Estado de Cultura do Estado do Pará.

Segundo o diretor da peça, Marcos Rodrigo, o projeto foi feito para substituir as apresentações que não podem ser realizadas por causa da pandemia . “A ideia do documentário surgiu depois de sermos contemplados com a Lei Aldir Blanc na modalidade de teatro. Como não podíamos nos apresentar devido a pandemia, então, tínhamos que produzir um material que substituísse nesse primeiro momento nossa apresentação para executarmos o projeto que ganhamos. Em uma reunião com a equipe, nós decidimos contar um pouco a história do surgimento desta peça em forma de documentário. O documentário não é de uma apresentação da peça, mas sim, uma forma de contar como a “Vamos minha gente” surgiu e foi construída”, contou o diretor.

Palco montado para a apresentação. Foto: Acervo do Grupo Kabi Kaxi.

A Peça de Teatro “Vamos minha gente”

A peça conta a história de São Francisco de acordo com a ótica do pai dele, Pedro Bernardone, que não aceitava que o filho fosse aquele homem Santo. De acordo com o Marcos Rodrigo, depois que estavam com a tradução do projeto em mão, eles partiram para campo em busca de elenco, equipe técnica, produção, cenário, etc. “O primeiro ponto foi escolher alguns personagens, especialmente aqueles que marcam o enredo do espetáculo. Escolhemos o Eduardo Campos para o papel de Pedro Bernardone (pai de São Francisco) e a Edina que faz a personagem da mendiga. Estes dois eram fundamentais que dessem certo. Tivemos o apoio do Juliano que nos ajudou com algumas oficinas de teatro e com a ajuda e dedicação de todos, deu tudo certo nas escolhas desses atores. No decorrer do tempo, fomos apenas encaixando as demais personagens”. Relembrou o Rodrigo.

Mas os trabalhos estavam apenas começando. Conforme nos contou o diretor do projeto, antes da peça ser apresentada pela primeira vez, muita coisa precisou ser feita. Oficinas, ensaios, adaptação da linguagem, cenário, patrocínio, enfim, tudo precisou ser pensado e programado antes do grande dia.

Dia 20 de dezembro de 2018, foi realizada a primeira apresentação da peça na comunidade de Sant´Ana. Os convites foram aparecendo, e a peça foi apresentada em outras cidades paraenses. A última vez que o grupo se apresentou foi em janeiro de 2020, na comunidade São Paulo Apóstolo. Com a pandemia e os trabalhos foram interrompidos deixando uma equipe de 35 atores e 15 técnicos sem poder fazer o que mais gostam: Teatro. 

Apesar do sucesso, o diretor nos conta que o grupo tem encontrado dificuldade para continuar. A maior dificuldade para manter a peça, segundo Marcos Rodrigo, é a questão financeira, porque a cada espetáculo é gerado um custo. “O transporte, o manejo dos equipamentos são custos que temos todas as vezes que nos apresentamos. Então, o que mais dificulta para nós é que não possuímos um transporte e acaba que em cada lugar que vamos nos apresentar temos que alugar o ônibus para levar as pessoas e uma outra condução para levar os equipamentos e isso sai pesado financeiramente e acaba sendo a nossa maior dificuldade para manter a peça.” – Ressaltou. 

A maior parceira do grupo tem sido a Custódia São Benedito da Amazônia. Alguns frades da Custódia foram essenciais neste processo. Frei Paixão, por exemplo, foi quem conseguiu com o Padre Graciano Cirina (in memória) a tradução da peça do italiano para a língua portuguesa. Frei Ulysses Calvo também botou a “mão da massa” especialmente pensando e confeccionando o figurino dos personagens.

 

Quem é o Grupo Kabi Kaxi

O Grupo Kabi Kaxi é um grupo franciscano de teatro que evangeliza através da arte. O grupo já tem uma caminhada de 10 anos dentro da comunidade de Sant´Ana (Paróquia Cristo Libertador), em Santarém – Pará, mas a evangelização pelo Kabi Kaxi é feita no lugar que a missão é dada. Além do espetáculo “Vamos minha gente”, o grupo também apresenta a  “Paixão de Cristo”.

O grupo sempre procurou se inovar e não ficou apenas na arte cênica. Apresentações musicais e coreográficas fazem parte da atuação do Kabi Kabi. Além disso, hoje o grupo desenvolve trabalhos específicos com o público infantil, jovem, adulto e da terceira idade.

O nome do grupo foi dado por Frei Ulysses Calvo e o significado é em munduruku, Kabi – Sol e Kaxi – Lua. O nome deu muito certo e acabou sendo sonorizado nas comunidades por onde passam.

A intenção do grupo é voltar com todas as atividades assim que conseguirmos superar esta pandemia. “Estamos começando a articular nossa volta presencial. Os interessados em nos chamar para alguma apresentação é só entrar em contato pelas nossas mídias sociais que estamos atendendo por lá”, concluiu Marcos Rodrigo.

 

Sabrina Gonçalves

 

 

Assista ao documentário disponível no canal do Youtube do Grupo Kabi Kaxi.

 

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Vida religiosa: presença eclesial nas periferias da Amazônia

Frades em atividade Pastoral na Cidade de Manaus-AM/ Maribeth Joeright

 

Mês Vocacional nos leva a refletir sobre as diferentes vocações e o que elas representam na vida do cristão, na vida da Igreja e também na vida da sociedade. Neste domingo, 15 de agosto, a Igreja do Brasil celebra o dia da Vida Religiosa, e isso tem que nos levar a refletir sobre esse modo de ser discípulos e discípulas no seguimento de Jesus.

Na Amazônia, a presença da vida religiosa sempre teve um papel decisivo. Durante séculos, os religiosos e religiosas representaram uma presença destacada, quase única, na evangelização de uma região onde as grandes distâncias e a diversidade de povos, culturas e realidades sempre foi um desafio a mais.

O padre Cláudio Perani falava de “estar onde, com e como ninguém quer estar”, um modo de vida assumido por muitos religiosos e religiosas na Amazônia. O jesuíta nascido na Itália, que nesta semana completou 13 anos do seu falecimento, considerado como um dos grandes profetas da Amazônia, promotor de iniciativas que levaram a vida religiosa a ser presença eclesial nas periferias geográficas e existências da Amazônia, ajudou a entender melhor o papel da vida religiosa no meio aos povos da região.

São muitas as histórias que contam os exemplos de vida entregada dos religiosos e religiosas na Amazônia. Recentemente, visitando o cemitério dos espiritanos em Tefé, vi como muitos missionários, a grande maioria chegados de longe, doaram sua vida. É admirável ver como muitos deles morreram ainda jovens, após pouco tempo na missão, inclusive dando sua vida, literalmente, para salvar a vida de outras pessoas. Esse é só um exemplo de tantos missionários e missionárias que definharam sua vida nos rios e florestas amazônicas.

 

Religiosos do Núcleo da CRB Santarém(PA) / Sabrina Gonçalves

Mas a vida entregada dos religiosos e religiosas na Amazônia não é só coisa do passado. Sua presença continua semeando vida em muitos cantos da região amazônica, no meio aos mais vulneráveis, acompanhando as vítimas de uma economia que mata, de projetos que só buscam favorecer os interesses de grupos de poder político e econômico.

Acompanhar a vida das comunidades indígenas e ribeirinhas, do povo da periferia, dos moradores de rua, das vítimas do tráfico de pessoas, das juventudes, e de tantas outras realidades e pessoas que lutam pela vida em plenitude, é um dos elementos presentes na Vida Religiosa que peregrina na Amazônia, especialmente na vida religiosa feminina, testemunha de compromisso encarnado no meio do povo e de doação para que todos tenham vida e vida em abundância.

Estamos diante de testemunhos de vida entregada até o fim, de gente que nunca mediu esforços, que colocou os outros na frente. Quando a gente se depara com missionários e missionárias que depois de 30, 40, 50 ou ainda mais anos de missão na Amazônia, continuam sendo semente de alegria na vida do povo, a gente entende que é Deus que chama e que a gente só responde à vocação recebida.

Luis Miguel Modino

Assessor de Comunicação CNBB Norte 1

Publicado originalmente em: CNBB Regional Norte 1