O que se eterniza
Em primeiro lugar gostaria de agradecer a Custódia São Benedito da Amazônia na pessoa do Ministro Custodial, Frei Edilson e seu governo por me proporcionar este tempo de convivência entre vocês, frades, amigos e pessoas próximas em terras além mineiras. Tempo forte que pude experimentar in loco os desafios em que a Missão São Francisco do Rio Cururu está inserida, e para além de seus desafios a força humana que gera vida e vida em abundância em terras Munduruku.
Cheguei por aqui dia 01/07 no voo Gol que aterrissou às 13:30 horas conforme horário local. O sentimento que acompanhava a viagem era de gratidão e muita positividade em poder sair de terras mineiras e conviver em outros lugares, saborear novos sabores da vida franciscana e um sonho podendo estar se realizando; conhecer a Missão Cururu.
As conversas e a convivência foram intensas e verdadeiras. Conhecer as fraternidades e também um pouco do costume de cada lugar me encantaram ainda mais por estas terras; povo de muita piedade e força para viver.
Não poderia deixar de ressaltar a convivência com os freis da filosofia, Diogo, Walter e Jailson que de modo particular foram grandes companheiros nesta viagem. Em falar de viagem, quanta emoção vivida em cada trecho percorrido seja por terra ou por água e até mesmo no ar, momentos de medo, sim, pelas sinuosas curvas, mas muito seguros pela condução de Frei Edilson.
O trajeto da viagem desde Santarém até a Missão Cururu é realmente desafiante. São vários os trechos e porque não extenuantes e tensos para quem, por exemplo, está dirigindo, ou coisas afins, mas é encantador quando deixamos tudo para trás e sim viver realmente os desafios que o trajeto apresenta. Desta maneira a suavidade vem em forma de beleza e brinda a viagem com momentos intensos carregados de adrenalina e emoções.
Tentarei descrever minhas emoções em cada trecho da viagem e de forma sucinta apresentar nestas linhas o que levarei comigo de volta as altas montanhas de Minas Gerais. Estar em terras “estranhas” sempre me cativou e cativa, estar em lugares diferentes sempre me proporcionou entrar em contato comigo mesmo, deixar-me modelar novamente com os aprendizados que adquirimos ao longo do período que estamos naquele lugar. Por aqui não foi diferente. Bora iniciar a aventura!
Como nos diz o ditado popular que os preparativos e a viagem valem mais a pena que a chegada no local em si, ao se tratar da Missão Cururu não posso dizer o mesmo. Tanto a viagem quanto a chegada e a estadia têm o mesmo valor. Talvez possa ser a experiência de alguém vindo de fora, mas, creio que não. Ah, posso dizer com muita firmeza que re-aprendi muito a acreditar e ter fé que a providência de Deus age na hora certa.
Ao iniciarmos os preparativos para ida, sempre uma coisa vinha à minha mente: como vamos conseguir colocar tudo isto no carro? E na voadeira? Apesar de ser um carro grande era muita coisa e sem falar que ao longo do caminho sempre vai adicionando mais uma coisinha para aproveitar a ida, era eu e meus botões.
Iniciamos a viagem
O primeiro trecho de estrada que é Santarém para Itaituba foi bem interessante. O sentimento inicial era de um aventureiro que se colocava para além de terras mineiras. Sentia cada detalhe daquele caminho, a cor do asfalto, os trechos ainda sem asfalto, os pequenos igarapés, que em tempo de calor intenso são a alegria de muitos, a concentração de Frei Edilson na condução do carro, as várias borboletas amarelas que estavam ao longo do caminho, tudo intenso e colorido. O almoço foi num restaurante em Rurópolis, uma comida deliciosa. Ao chegarmos em Miritituba, em frente a cidade de Itaituba, avistamos a balsa Miritituba-Itaituba e eu ainda não havia vivido travessias assim, aos poucos os carros e caminhões menores iam se ajeitando naquele longo casco até ouvir o sinal; 20 minutinhos e nas terras da Pepita do Tapajós estávamos. Alegria também em chegar e poder descansar um pouco, mas não podíamos perder tempo, pois teríamos que colocar as coisas que ali estavam para levar à Missão. Pensei de novo comigo: mas como vamos levar mais coisas neste carro? Até uma máquina de costura havia, mas fiquei quieto e tentei ajudar como podia. E não é que conseguimos arrumar tudo. Agora sim era hora de descansar e aproveitar um pouco do início dos festejos de Sant’ Ana.
Momento de convivência com os freis, com o povo e com o Bispo de Itaituba Dom Wilmar que recordou com carinho e felicidade de Frei Igor. Saímos após um café comunitário e para minha surpresa a estrada era toda de chão batido. O trecho de Itaituba a Jacareacanga me recordou estes 16 anos de vida religiosa, quantos momentos foram difíceis e desafiadores ao longo deste percurso de minha vida. A cada curva, a cada encontro com outros carros que faziam direção oposta ou até mesmo os carros que seguiam para Jacaré deixando a visibilidade difícil por causa da poeira, me faziam pensar e me associar à minha própria vida. A cada quilômetro percorrido o sentimento que me acompanhava era de gratidão e superação. E aqui, um ponto chave da vida franciscana que se chama fraternidade, que por vezes não é fácil de ser vivenciada, mas é na realidade nosso tesouro que levamos em vasos de barro, por sermos humanos e falhos. Nossa fraternidade que viajava naquele instante era minha fortaleza que com um sorriso e outro, um silêncio ou até um cochilo se mostrava presente, menos Frei Edilson que não podia cochilar porque era o piloto.
Foram horas viajando e pensando até avistarmos o portal de “Jacaré” e com ele o asfalto se fazia presente. Momento de agradecer e preparar para o terceiro tempo da viagem. A estadia em Jacaré foi muito boa. Um fato me impressionou muito. Ficamos hospedados na casa dos frades carmelitas e Frei Edilson havia mandado mensagem para Frei Marcos que já estávamos chegando. Até aí é normal, mas, quando chegamos lá não havia ninguém em casa e daí a surpresa: Frei Marcos havia mandado uma mensagem para Frei Edilson dizendo que ele tinha saído, mas que a chave se encontrava em tal lugar e que poderíamos ficar à vontade na casa. Foram dois dias naquela cidade onde , apesar do calor e da poeira, me senti acolhido e respeitado.
Continuo o relato na segunda parte do texto que deve ser publicado logo!
Frei Bruno Laviola, ofm