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Alegria fraterna e gratidão: Frei Bruno Laviola relata a experiência na Missão Cururu – Primeira parte

Imagem: Frei Edilson Rocha

O que se eterniza

Em primeiro lugar gostaria de agradecer a Custódia São Benedito da Amazônia na pessoa do Ministro Custodial, Frei Edilson e seu governo por me proporcionar este tempo de convivência entre vocês, frades, amigos e pessoas próximas em terras além mineiras. Tempo forte que pude experimentar in loco os desafios em que a Missão São Francisco do Rio Cururu está inserida, e para além de seus desafios a força humana que gera vida e vida em abundância em terras Munduruku.

Cheguei por aqui dia 01/07 no voo Gol que aterrissou às  13:30 horas conforme horário local. O sentimento que acompanhava a viagem era de gratidão e muita positividade em poder sair de terras mineiras e conviver em outros lugares, saborear novos sabores da vida franciscana e um sonho podendo estar se realizando; conhecer a Missão Cururu. 

As conversas e a convivência foram intensas e verdadeiras. Conhecer as fraternidades e também um pouco do costume de cada lugar me encantaram ainda mais por estas terras; povo de muita piedade e força para viver.

Não poderia deixar de ressaltar a convivência com os freis da filosofia, Diogo, Walter e Jailson que de modo particular foram grandes companheiros nesta viagem. Em falar de viagem, quanta emoção vivida em cada trecho percorrido seja por terra ou por água e até mesmo no ar, momentos de medo, sim, pelas sinuosas curvas, mas muito seguros pela condução de Frei Edilson. 

O trajeto da viagem desde Santarém até a Missão Cururu é realmente desafiante. São vários os trechos e porque não extenuantes e tensos para quem, por exemplo, está dirigindo, ou coisas afins, mas é encantador quando deixamos tudo para trás e sim viver realmente os desafios que o trajeto apresenta. Desta maneira a suavidade vem em forma de beleza e brinda a viagem com momentos intensos carregados de adrenalina e emoções.

Tentarei descrever minhas emoções em cada trecho da viagem e de forma sucinta apresentar nestas linhas o que levarei comigo de volta as altas montanhas de Minas Gerais. Estar em terras “estranhas” sempre me cativou e cativa, estar em lugares diferentes sempre me proporcionou entrar em contato comigo mesmo, deixar-me modelar novamente com os aprendizados que adquirimos ao longo do período que estamos naquele lugar. Por aqui não foi diferente. Bora iniciar a aventura!

Como nos diz o ditado popular que os preparativos e a viagem valem mais a pena que a chegada no local em si, ao se tratar da Missão Cururu não posso dizer o mesmo. Tanto a viagem quanto a chegada e a estadia têm o mesmo valor. Talvez possa ser a experiência de alguém vindo de fora, mas, creio que não. Ah, posso dizer com muita firmeza que re-aprendi muito a acreditar e ter fé que a providência de Deus age na hora certa. 

Ao iniciarmos os preparativos para ida, sempre uma coisa vinha à minha mente: como vamos conseguir colocar tudo isto no carro? E na voadeira? Apesar de ser um carro grande era muita coisa e sem falar que ao longo do caminho sempre vai adicionando mais uma coisinha para aproveitar a ida, era eu e meus botões. 

 

Da esquerda para direita: Frei Diogo, Frei Edilson, Frei Marcos (OCD, Frei Jailson, Frei Walter e Frei Bruno. Imagem: Frei Edilson Rocha

Iniciamos a viagem

O primeiro trecho de estrada que é Santarém para Itaituba foi bem interessante. O sentimento inicial era de um aventureiro que se colocava para além de terras mineiras. Sentia cada detalhe daquele caminho, a cor do asfalto, os trechos ainda sem asfalto, os pequenos igarapés, que em tempo de calor intenso são a alegria de muitos, a concentração de Frei Edilson na condução do carro, as várias borboletas amarelas que estavam ao longo do caminho, tudo intenso e colorido. O almoço foi num restaurante em Rurópolis, uma comida deliciosa. Ao chegarmos em Miritituba, em frente a cidade de Itaituba, avistamos a balsa Miritituba-Itaituba e eu ainda não havia vivido travessias assim, aos poucos os carros e caminhões menores iam se ajeitando naquele longo casco até ouvir o sinal; 20 minutinhos e nas terras da Pepita do Tapajós estávamos. Alegria também em chegar e poder descansar um pouco, mas não podíamos perder tempo, pois teríamos que colocar as coisas que ali estavam para levar à Missão. Pensei de novo comigo: mas como vamos levar mais coisas neste carro? Até uma máquina de costura havia, mas fiquei quieto e tentei ajudar como podia. E não é que conseguimos arrumar tudo. Agora sim era hora de descansar e aproveitar um pouco do início dos festejos de Sant’ Ana.

Momento de convivência com os freis, com o povo e com o Bispo de Itaituba Dom Wilmar que recordou com carinho e felicidade de Frei Igor. Saímos após um café comunitário e para minha surpresa a estrada era toda de chão batido. O trecho de Itaituba a Jacareacanga me recordou estes 16 anos de vida religiosa, quantos momentos foram difíceis e desafiadores ao longo deste percurso de minha vida. A cada curva, a cada encontro com outros carros que faziam direção oposta ou até mesmo os carros que seguiam para Jacaré deixando a visibilidade difícil por causa da poeira, me faziam pensar e me associar à minha própria vida. A cada quilômetro percorrido o sentimento que me acompanhava era de gratidão e superação. E aqui, um ponto chave da vida franciscana que se chama fraternidade, que por vezes não é fácil de ser vivenciada, mas é na realidade nosso tesouro que levamos em vasos de barro, por sermos humanos e falhos. Nossa fraternidade que viajava naquele instante era minha fortaleza que com um sorriso e outro, um silêncio ou até um cochilo se mostrava presente, menos Frei Edilson que não podia cochilar porque era o piloto. 

Foram horas viajando e pensando até avistarmos o portal de “Jacaré” e com ele o asfalto se fazia presente. Momento de agradecer e preparar para o terceiro tempo da viagem. A estadia em Jacaré foi muito boa. Um fato me impressionou muito. Ficamos hospedados na casa dos frades carmelitas e Frei Edilson havia mandado mensagem para Frei Marcos que já estávamos chegando. Até aí é normal, mas, quando chegamos lá não havia ninguém em casa e daí a surpresa: Frei Marcos havia mandado uma mensagem para Frei Edilson dizendo que ele tinha saído, mas que a chave se encontrava em tal lugar e que poderíamos ficar à vontade na casa. Foram dois dias naquela cidade onde , apesar do calor e da poeira, me senti acolhido e respeitado. 

Vista da casa da Irmãs Missionária da Imaculada Conceição (SMIC)

Continuo o relato na segunda parte do texto que deve ser publicado logo!

Frei Bruno Laviola, ofm 

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Os Frades Menores e a Comunicação na Amazônia

A ideia de rede de comunicação é algo que aparece no Evangelho. Uma rede para reunir e não para enredar, como se fosse um projeto de conquista e dominação. Irradiar o seu carisma por meio do Testemunho e fazendo uso dos recursos que a técnica hoje lhes possibilita é uma tarefa franciscana. Queremos, inspirados por Francisco de Assis que fez bom uso das redes (recursos) do seu tempo para levar as pessoas ao seguimento de Cristo, e que formou ao redor de si uma rede (comunidade interligada), comunicar hoje o Evangelho, fonte de vida.

O serviço de comunicação nos ajuda: a partilhar a alegria de sermos consagrados e de vivermos como fraternidade franciscana, apresentar o nosso carisma e nossos gestos no mundo e fazer crescer em nós a participação e comunhão na vida uns dos outros. Como Frades Menores testemunhamos o Evangelho e nos empenhamos na promoção humana, segundo o nosso carisma. Recordamos que a comunicação é serviço e esse desenvolvido dentro do espírito da minoridade (CCGG Art. 109). Os meios de comunicação social são recursos bem-vindos, são ferramentas legítimas para a propagação da Palavra de Deus, e devem ser assumidos com o discernimento necessário e mantendo sempre a santa oração e devoção (cf. CCGG Art. 28). Nosso jeito de fazer comunicação deve ser voltada para o povo com quem caminhamos e para todos aqueles que querem serem como nós, independente onde estejam.

A Amazônia interpela de muitas maneiras a vida franciscana e uma delas é, sem sombra de dúvida a dimensão da comunicação. Comunicar é uma forma de demostrar todo nosso amor pelo Salvador. Recordamos os muitos esforços dos Frades do passado em prol da comunicação na região e reconhecemos a importância desse legado. Graças a esses projetos do passado feito pelos nossos frades, muitas pessoas são informadas até hoje. Desse modo a tarefa dada aos Frades na Amazônia é comunicar aquilo que recebemos da Tradição cultural dos povos amazônicos e do Evangelho. Existe algo em comum entre o a comunicação no carisma franciscano e na vida dos amazônidas e isso se encontra no fato de serem impregnados de mistério e poesia dentro do grande jogral (QA, 34) feito pelo Criador e cantado por todas as criaturas. Encarnado o sentido de ser uma rede evangelizadora vamos evidenciando a ligação entre o projeto de Jesus e a realidade amazônica. As redes se renovam e os caminhos também, assim precisamos saber “tarrafear” com instrumentos e jeitos novos. Assumindo as propostas para comunicação da Exortação querida Amazônia (cf. QA 39) buscamos ajudar a desencobrir um rosto amazônico da Igreja e do Franciscanismo.

Texto: Frei Fábio Vasconcelos, OFM.