Foto de fundo: Dom Thiago Ryan, Frades e turma de estudantes do Seminário São Pio X.  Foto em destaque: Recorte de Jornal noticiando santarenos  que participaram da formação de educadores em Belém (1979). Fonte: Pe. Sidney Canto (https://sidcanto.blogspot.com/)

Os aprendizados franciscanos do Professor Ivan Sadeck

Professor Ivan celebrando 70 anos na Capela do Convento São Francisco (Santarém – PA). Foto: Sabrina Gonçalves.

 

Durante toda minha caminhada de vida, os Franciscanos sempre estiveram me ajudando e orientando. Essa história começa na minha infância em Monte Alegre (PA). Conheci os frades que estavam por lá, Frei Roberto, Frei Benjamim e depois veio o Frei Anastácio. Todos esses frades, de uma forma ou de outra, contribuíram muito na minha formação pois eles tinham uma vivência muito próxima com a minha família. Me lembro bem de vê-los descendo para celebrar lá na igreja de Santa Luzia após a missa, iam sempre em casa tomar um café. Foi a partir dessa convivência e experiência, de sempre ter frades por perto, que foi despertando em mim o sentido da vocação. 

Em 1963, comecei a estudar no seminário São Pio X, buscando uma formação mais especializada almejando ser um sacerdote e meu desejo maior era ser sacerdote franciscano. O sentimento de Francisco de Assis, fez parte muito forte da minha vida; eu gostava muito de ler sobre os testemunhos e também de ver a presença dos frades. Não posso esquecer de citar duas pessoas que foram essenciais: Dom Tiago e Frei Osmundo, eles trabalharam bastante até que conseguiram que meu pai fosse transferido para Santarém, pois ele era funcionário público do IBGE. Assim, meu pai ficou mais próximo e trabalhando com os frades aqui em Santarém. 

No Seminário, convivi com vários frades que tiveram uma marca muito importante na minha formação, posso citar alguns (mas sei que não serão todos) como: Frei Alexandre, Frei Mauro, Frei Juvenal, Frei Vianney, Frei Bartolomeu e tantos outros que só engrandeceram nossa formação. Já terminando a quarta série ginasial a começar o primeiro colegial, começamos a fazer uma experiência, com a orientação de Frei Juvenal. Uma vez na semana, nós ministrávamos a aula de Religião nas escolas públicas. Aparecida, Barão do Rio Branco e São Raimundo Nonato foram as escolas que na época nós seminaristas fazíamos esse serviço. Foi aí que me despertou também o sentido de ser um instrumento também dentro do magistério. O mais interessante é que em 1968, o professor Francisco Gonçalves Pereira veio pedir “socorro”, no sentido de apresentar alguns nomes possíveis que pudessem ajudar a ministrar aulas na Escola Álvaro Adolfo da Silveira. Frei Juvenal então, foi às escolhas de alguns nomes que atendessem esse pedido do professor, entre os nomes, estava o meu e em pouco tempo eu estava sendo apresentado para ser professor no Álvaro Adolfo da Silveira. Neste momento começava uma nova experiência na minha vida, pois lecionei para a turma do primeiro ano ginasial, na época era ginásio e colegial e não fundamental e ensino médio como funciona atualmente.

 

Foto de fundo: Dom Tiago Ryan, Frades e turma de estudantes do Seminário São Pio X. Foto em destaque: Recorte de Jornal noticiando santarenos que participaram da formação de educadores em Belém (1979). Fonte: Pe. Sidney Canto (https://sidcanto.blogspot.com/)

 

A primeira vez que entrei em uma sala de aula do Álvaro Adolfo da Silveira eu me espantei porque tinha mais ou menos 70 alunos em uma única sala. Eu era muito jovem, com 18 anos, e tendo que saber o que fazer ali na frente de todos aqueles estudantes. Naquele momento eu pensei duas vezes e pedi a Deus que pudesse me dizer se era aquilo mesmo. O certo é que quando iniciei essa atividade no magistério, eu acabei gostando e gostando muito, até porque Frei Juvenal nos incentivava para que a gente contribuísse dessa maneira e a gente foi fazendo. Eu levei comigo, para implementar as minhas aulas na sala, um pouco o que via e que tinha aprendido pelo que ensinavam os meus professores franciscanos. 

A obediência, a disciplina, a ordem, essas coisas que são importantes para o bom andamento da atividade educacional, foi inserido em mim pelos frades e acabei levando para dentro da sala de aula. Eu confesso que me tornei um professor muito exigente, quem estudou e conviveu comigo em sala de aula, sabe um pouco dessas minhas características. Eu sempre primei pela questão da disciplina, obediência. Sempre fui de uma exigência muito grande, mas fazia isso como uma maneira de melhorar a educação, pois sempre acreditei que a educação precisa ter uns pilares, uns suportes para ajudar acontecer. Embora os alunos do turno noturno do Álvaro Adolfo já fossem senhoras e senhores, e eu sendo o mais jovem dentro da sala, mesmo assim eu prezava sempre pelos bons princípios de ensinar e isso foi uma experiência fantástica. 

Por volta de 1968, saí do seminário, mas não perdi o convívio com os frades. Mesmo saindo continuei no magistério, fui fazendo cursos, fui me capacitando, me aprimorando e isso ampliou minha atividade profissional. Lecionei no Santa Clara, São Raimundo Nonato, e mais tarde, nas Escola Frei Othmar e Dom Amando. Tive uma experiência fantástica na Escola Plácido de Castro, essa escola fazia parte de um programa chamado Expansão e Melhoria do Ensino Médio, um programa muito interessante que veio atender as necessidades da reforma da 5692 implantada no país daquela época. Naquele período todo estávamos vivendo no Brasil a Ditadura Militar, então, veio essa reforma para que tivesse uma atenção especial e correspondesse às exigências da lei. No estado do Pará, assim como no país todo, foram criadas várias escolas com essa experiência fantástica que foi esse programa em que o professor ficava oito horas na escola. 

Uma parte importantíssima da minha vida também aconteceu enquanto lecionava, encontrei a minha esposa, Deusa, em 1970. Ela era minha aluna e, depois de um tempo de namoro, noivamos e depois celebramos o nosso enlace matrimonial em dezembro de 1974. Mesmo meu caminho não indo para o lado do sacerdócio, eu jamais perdi o contato com os frades e eu recordo muito bem que no meu casamento foi o Frei João que ajudou na preparação e fiz questão de casar na igreja do Seminário São Pio X, porque minha vida sempre esteve entrelaçada com os franciscanos, Graças a Deus! 

Sempre estive muito envolvido com os franciscanos, ao longo dos anos desenvolvi uma porção de atividades não só dentro das escolas, mas também fora. Colaborei com um projeto desenvolvido na então Diocese de Santarém. Um trabalho realizado por Frei Paulo, que era um treinamento de liderança cristã, onde essas lideranças atuavam nas comunidades a partir desses treinamentos. Essa era mais uma maneira de ajudar, a participar e passar conhecimento. Mais tarde, ainda desenvolvi alguns trabalhos a convite de Frei Miguel, o Miguelão. E desta forma foi acontecendo na minha vida a contribuição na educação, mas sempre envolvido e entrelaçado como cidadão do reino, influenciado fortemente pelos franciscanos, sempre comprometido com a questão da evangelização. 

Sempre me senti um missionário. Sem dúvidas reconheço que aqui e ali, cometi falhas e erros, mas nós somos seres humanos. De certa maneira sempre me dediquei a levar e doar o melhor que tenho, e sempre estabelecendo dentro dos princípios da educação, os valores que de fato pudessem respeitar, priorizar e promover o desenvolvimento dos meus alunos e alunas. Sempre carreguei comigo a seriedade, dedicação e respeito dentro do trabalho do magistério. 

Eu entendo que não podemos fazer educação sem estabelecer princípios e valores para que possamos conduzir o nosso trabalho. Uma característica importante que ainda não citei é o amor pelo que você faz, e eu sempre me identifiquei desse jeito. Eu sempre demonstrei muito carinho e respeito para os meus alunos, sempre procurei felicitar eles nos aniversários, pois assim via que era uma forma de eles se sentirem queridos. Levei comigo essa demonstração de pertencimento que aprendi com os frades, que sempre me trataram muito bem e com certeza eles sempre estiveram presentes no meu trabalho na educação.

Foi assim que trilhei meu caminho como professor, sempre acompanhando os princípios que aprendi com meus irmãos franciscanos. Eu sou o que sou pela Graça do Senhor, como diz o Apóstolo Paulo, mas também pelo que os frades me proporcionaram. Sou um pouco, o produto de todo o trabalho dos franciscanos desenvolvido na nossa região. Só tenho de agradecer muito a Deus e todos que colaboraram, incentivaram e ajudaram a construir a minha história no magistério. Deixo meus agradecimentos sobretudo pelas bênçãos e as graças de Deus, a minha família que sempre me apoiou, meus pais, irmãos, a minha esposa, meu filho Bruno Ricardo, a Carlinha que já não está conosco, a Mayra. Sobretudo agradeço a essa presença franciscana na nossa história, na nossa vida e na nossa caminhada.

Depois de tantos anos como professor, posso dizer que me sinto feliz e contente por ter feito o que deveria ter feito! 

Feliz dia do Professor!

 

Ivan Sadeck dos Santos

Cartaz comemorativo dos 63 anos da Comunidade. Fonte: Paróquia Santíssimo Sacramento

Comunidade do Santíssimo celebra 63 anos de história, fé e missão

Cartaz comemorativo dos 63 anos da Comunidade. Fonte: Paróquia Santíssimo Sacramento

 

As Comunidades têm sempre uma história muito bonita para ser contada. Na nossa Comunidade do Santíssimo (Santarém – PA) tudo começou por volta de 1933 com o culto a Jesus Sacramentado. Sob a liderança de Marcos Antonio dos Santos e Manuel Firmino Motta, e apoio de Frei Ambrósio, várias famílias decidiram realizar anualmente a Festa em homenagem ao Santíssimo Sacramento. Numa construção rústica, feita de grossas varas e coberta de palha, que se chamou de “Latada”, foram realizadas as primeiras manifestações de fé e oração ao Cristo Eucarístico.

  A partir de 1958, por iniciativa de. Frei Othmar Rollaman, vigário da Catedral de N. Sra. da Conceição, foi procurada uma nova área onde pudesse juntar a Capelinha da “Latada” com a de São Francisco, localizada no cruzamento da  Turiano Meira com Borges Leal. E os comunitários da época relatam que “não foi fácil!”. Houveram muitas resistências à mudança, principalmente pelos moradores da “Latada”. Com muito esforço e participação de todos, a construção da nova capela ao Santíssimo foi se realizando. Foi construído primeiro um barracão simples, que servia de espaço para as Celebrações, escola e encontros de catecismo com as crianças. 

Em 1962, a comunidade crescia e sentiu-se a necessidade de um espaço maior para o culto ao Santíssimo Sacramento. Com apoio de Frei Osmundo Menges e o trabalho de muitos comunitários iniciou-se a construção da nova igreja. Nesse tempo teve  início a organização dos primeiros “grupos de vizinhos”, que se encontravam para refletir sobre a Palavra de Deus e a realidade da vida. Nos finais de semana, alguns grupos ajudavam a construir as casas, conforme as necessidades do povo, assim como o barracão para atender as crianças sem escolaridade, fazendo assim a ligação da fé com a vida. Muitas vezes as celebrações eram realizadas nas residências.  Nesse tempo, os grupos de vizinhos chegaram a somar até 50, o que mostra a força da organização comunitária. Os anos se passaram e muitas pessoas contribuíram para nossa organização e evangelização, vale lembrar alguns: Padres Seculares Daniel, Carlos, Jaime e Cornélio. Franciscanos: Frei Miguel Kellett, Frei Miguel Grawe, Frei Roberto Mizicko, Frei Gregório Kemner, Frei Antonio Glauber, Frei Mauro Hawickhorst. Irmãos de Santa Cruz e Irmãs , além muitos leigos e leigas.

 

Fotos de um mutirão no terreno da igreja do Santíssimo. Estudantes da Escola Frei Othmar em 1970. Um cartaz da festa do Santíssimo em 1957. Imagens recolhidas por Pe. Sidney Canto (http://sidcanto.blogspot.com/).

 

Em 1996 iniciou-se um novo tempo. Chegou Frei Pedro Amém, com seu jeito todo especial, e um novo modelo de organização foi implantado: a Comunidade foi dividida geograficamente em 10 distritos. As catequeses que antes eram realizadas em escolas e outros espaços, passaram a funcionar nas residências das famílias; os grupos de vizinhos ou de oração passaram a experimentar o novo jeito de ser Igreja. Surgiram as CEBs e fortificaram-se os outros Movimentos, como RCC, MCC, Legião de Maria, Apostolado da Oração. As pastorais tomaram mais força: Pastoral Familiar, Pastoral da Criança, as Equipes de Serviços: Batismo, Eucaristia, Crisma, Ministros da Eucaristia e Coroinhas. Paralelo a isso uma outra construção tomou força, um novo templo para o Santíssimo Sacramento. Em 03 de junho de 1999, Dom Lino Vombommel fez a bênção da pedra fundamental do novo templo e em 18 de junho de 2003 aconteceu a bênção da nova igreja do Santíssimo. Em 04 de Janeiro de 2004 Dom Lino Vombommel presidiu a Celebração Eucarística em que a comunidade do Santíssimo foi elevada à categoria de Paróquia. 

Em 28 de abril de 2006 a comunidade foi tomada por uma brusca e triste notícia, o falecimento de Frei Pedro Amém. Com sua morte tivemos um período de transição com Frei Alex Assunção da Silva, como Administrador Paroquial. Em novembro de 2006, Frei Gregório Joeright, vindo da paróquia de Santo Antônio de Lisboa, em Belém, assumiu a grande tarefa de conduzir o Povo de Deus desta comunidade, em uma celebração Eucarística presidida por Dom Severino de França, OFMCap.

Em 15 de janeiro de 2017, Frei Antônio Marcos Silva Bezerra assumiu como pároco do Santíssimo Sacramento. Ele estava vindo da paróquia Sant’Ana na Prelazia de Itaituba (PA). Durante sua estada na paróquia do Santíssimo, deu continuidade ao trabalho pastoral deixado por Frei Gregório, com atuação na catequese e nas CEBs.

Em fevereiro de 2020, chegou para assumir a paróquia do Santíssimo Frei Valcy de Assunção Pinto, transferido da paróquia de São Francisco de Assis de Monte Alegre (PA). Sua gestão tem sido desafiadora por conta da pandemia da COVID-19.

São 63 Anos de muita história, de muitos momentos alegres, mas também de momentos de tristeza. Demos graças a Deus por tantas lideranças que ajudaram a construir a história desta comunidade de fé; são homens e mulheres que se colocaram e se colocam a serviço do Evangelho, assumiram e assumem o seu batismo como discípulos e missionários de Jesus. 

Como parte das comemorações dos 63 Anos da comunidade, está sendo realizada uma grande programação da comunidade: o tríduo vocacional, celebração de votos perpétuo das Irmãs Gesiane Paixão, Diana Silva e Romilda Ferreira, da Congregação das Irmãs Franciscanas Filhas dos Sagrados Corações de Jesus e Maria; Adoração ao Santíssimo; Trânsito de São Francisco de Assis; Investidura de novos Ministros Extraordinários da Sagrada Comunhão Eucarística, da Palavra e da Esperança (Exéquias) e; encerrando com a missa no domingo dia 10/10/21 às 19h. A parte social, será realizada por uma LIVE social no dia 29 de outubro, com a participação de artistas da comunidade e convidados.

Durante todo o mês de outubro, mês missionário, estamos refletindo a cartilha da Novena Missionária 2021, com o tema: “Jesus Cristo é missão”. Com certeza, é um momento para reanimar as nossas comunidades de base a retomarem seus encontros, depois de quase dois anos paradas por conta da pandemia. Que o Santíssimo Sacramento, abençoe a todos os que de uma maneira ou de outra contribuíram na construção de uma comunidade que tem o próprio Cristo como centro de sua fé

 

Servito Batista

Agente de Pastoral da Paróquia Santíssimo Sacramento.

Imagens da presença franciscana em Manaus (AM) - Fonte: Arquivo Custodial

“Fazendo da Vida Missão”: A presença dos Frades Menores em Manaus

Por onde começamos a história?

Geralmente não se faz história “dos fatos recentes”, antes se espera o voo da coruja de Minerva e o sentar da poeira nos móveis para que se possa escrever. No entanto, advertimos que o presente texto é um resumo do que poderíamos nomear “historiografia das coisas atuais”. Trata-se de uma crônica da vida e missão dos frades em Manaus, com pinceladas, em tons fortes, de alguns dados e elementos significativos da presença franciscana (A Ordem dos Frades Menores) no estado do Amazonas. Nesse ponto, fatos entre 2020 e 2021 iluminam o “flashback” da atuação missionária dos frades menores no maior estado do Brasil. Ademais, o título que se deu evoca uma canção que é um hino missionário muito conhecido do autor e compositor Manoel Nerys.

A Custódia São Benedito da Amazônia, uma instituição ligada a Ordem dos Frades Menores (OFM), fundada em 10 de maio 1990 como entidade autônoma, está presente nos estados do Pará, do Amazonas e em Roraima. Na Amazônia não se põe os pés em terreno plano ou único, mas em um poliedro com vasta área territorial, inúmeras culturas e diversidades regionais. Esta pluralidade segue propiciando diversas formas de evangelização e missão.

Ressalta-se que, antes do estabelecimento dos Frades da Custódia São Benedito em Manaus, registra-se uma breve, mas significativa, presença de frades menores holandeses em 1899 (Eram eles: Frei Adalberto Woolderink, Frei Gonzaga Governeur e Frei Oto Vervoort), que logo depois mudaram-se para Niterói (RJ). Esses três primeiros, foram os pioneiros daquela que viria a ser a “Província Santa Cruz” (PSC). O Amazonas também tem uma longa presença missionária franciscana de outros grupos e ordens (OFMCap, OFMConv, TOR).

Imagens da presença franciscana em Manaus (AM) / Fonte: Arquivo custodial

No território amazonense, mais precisamente na capital Manaus, os frades menores estão presentes desde os anos finais da década de 1990. A história dessa presença recente, se confunde com o percurso da instalação de um lugar para formação filosófica dos frades nas fases iniciais. A fraternidade São Boaventura, tem sua localização atual (visto que antes estiveram outros pontos da cidade de Manaus) no bairro Santo Antônio. É sobre o patrocínio do ilustre pensador franciscano, que a fraternidade acolhe os frades de votos temporários para os estudos filosóficos, que são feitos atualmente na Faculdade Salesiana Dom Bosco (FSDB), com campus na Zona Leste da cidade. Em outros tempos, chegaram a existir duas fraternidades na cidade de Manaus, onde uma era mais situada na Área Missionária Santa Catarina de Sena (AMSCS) e outra, a “casa de formação”. Além dos frades professos temporários, os frades da fraternidade permanente têm atuação em Paróquias e em serviços da Custódia.

Presentes desde 1998, os frades sempre atuaram e assumiram compromissos pastorais com a Igreja local. São diversas as atividades realizadas: administração de áreas pastorais, formação, assistências a projetos sociais e até a atuação de frades que serviram como professores nos Institutos Teológicos. Atualmente, a fraternidade conta com três frades solenes e quatro frades de profissão temporária, que prestam serviço a Paróquia Santo Antônio recentemente assumida (começo de 2020) pela Custódia. A paróquia é composta por comunidades ribeirinhas, comunidades indígenas e as comunidades urbanas.

Missão Franciscana em Manaus

A missão franciscana tem seu passo e característica fundamental na fraternidade, pois, enquanto seguidores de São Francisco, “vivendo nas fraternidades locais, desejam servir as comunidades cristãs e querem amparar essas mesmas […], no mundo que lhes é próprio, em sua missão apostólica.” (FFB, 2001). Sendo a fraternidade o primeiro anúncio de evangelização, os frades sempre buscaram atender as necessidades que clamam na realidade local, e isto não é diferente no território amazonense. Os frades estão presente no meio do povo, participando de pastorais e envolvidos nos projetos da Igreja. Nesses serviços o frade é chamado a ser um instrumento de diálogo que “é fonte e caminho de paz”, e que “implica numa saída de si e entrada no mundo do outro.” (CASBA, 2009, p. 11).

Neste contexto, os frades de profissão temporária mediante aos estudos filosóficos, são instruídos a assumir “progressivamente a responsabilidade de sua missão eclesial e social, em sintonia com o carisma franciscano, com os próprios dons e aspirações e com as necessidades do povo de Deus.” (OFM, 2003, p. 68). Com isso, os frades, em plena comunhão entre estudo e missão, buscam formar um “espírito missionário, a fim de se preparar para a missão evangelizadora na Amazônia e no mundo.” (CASBA, 2009, p. 28). Uma forma ideal de atender as necessidades que o contexto socio-eclesial apresenta.

Fotos de atividades dos frades em Manaus / Fonte: Arquivo da Fraternidade São Boaventura

Por conta do surto de Covid-19, desde o início do ano passado (2020), ficaram “parados” os projetos, as pastorais e quase todas as atividades. Mesmo assim, abriram-se outros meios e portas (recordamos as portas fechadas relatadas nos evangelhos) para anunciar a Palavra de Deus neste período configurado como “catastrófico” e pandêmico. Por meio do uso das mídias sociais tornaram-se possíveis as transmissões das missas; partilha bíblicas através da Leitura Orante, encontros vocacionais e reuniões. Agora, com o avanço da vacinação e a diminuição de contaminação e mortes pelo coronavírus, estão sendo retomadas, observando os critérios e protocolos de prevenção, as pastorais, as missas com participação do povo e os projetos. Em tudo isso vê-se que a missão é um gesto de amor e preocupação com a vida de todos. Na fraternidade interagem o campo da missão e da formação e unem-se num só movimento vida pastoral e fraterna.

A missão franciscana perpassa primeiramente pela fraternidade, e daí caminha e se encontra com toda sociedade, pois como frades, somos chamados a ser “sal da terra e luz do mundo” (Mt 5, 13-16), peregrinos e estrangeiros. Somos chamados a encarnar nas culturas dos povos da Amazônia, a abraçar os desafios da Igreja ministerial, abertos aos novos meios de evangelização, e assim sermos “fraternidades hospitaleiras e abertas a receber e acolher todas as pessoas” (CASBA, 2008, p. 13). “Fazer da vida, missão” é um convite franciscano, para que se possa amar fraternalmente e anunciar a força libertadora de Deus na nossa existência. Viver em Manaus, nestes tempos, tem sido notadamente um dos mais desafiadores, mas cremos que a presença dos frades menores tem sido fiel ao carisma e a caminhada.

 

Frei Márcio Lima, OFM

Acadêmico de Filosofia da Faculdade Salesiana Dom Bosco

 

Referências:

CUSTÓDIA SÃO BENEDITO DA AMAZÔNIA. Estatutos particulares. Santarém: [s.n.], 2008. pp 11-13.

FAMILÍA FRANCISCANA DO BRASIL. A comunidade como portadora do anúncio. In:______. A missão franciscana e o anúncio da palavra. Petrópolis: Vozes, 2001. p. 08.

ORDEM DOS FRADES MENORES (Roma). Ratio formationis franciscanae. Roma: Ingegno grafico, 2003. 68p.

PROVÍNCIA FRANCISCANA SANTA CRUZ. Histórico. Disponível em:<https://www.ofm.org.br/ apresentacao/historico>. Acesso em 19.ago.2021.