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Dom Evaristo Spengler: Novo bispo de Roraima, na Amazônia brasileira

Foto: Frei Augusto Luiz Gabriel, OFM

 

O Papa Francisco nomeou neste 25 de janeiro de 2023 a Dom Evaristo Pascoal Spengler, OFM, como novo Bispo da Diocese de Roraima. Nascido em Gaspar (SC), no dia 29 de março de 1959, era até agora Bispo da Prelazia do Marajó no Pará.

Com pós-graduação em Teologia Bíblica pelo Studium Biblicum Franciscanum, em Jerusalém, Dom Evaristo realizou sua profissão solene na Ordem dos Frades Menores em 2 de agosto de 1982. Foi ordenado diácono em 21 de novembro de 1982 e presbítero, no dia 19 de maio de 1984. Foi nomeado Bispo da Prelazia do Marajó pelo Papa Francisco em 1º de junho de 2016, sendo ordenado Bispo por seu confrade Dom Leonardo Ulrich Steiner, atual Cardeal Arcebispo de Manaus, em 6 de agosto de 2016.

 

Foto: Júlio Caldeira/REPAM

 

Missão na Querida Amazônia

O Regional Norte1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, em nota da presidência, disse acolhê-lo “com imensa alegria para ser o novo Bispo da Diocese de Roraima”. A nota lembra que “como pastor da Igreja do Marajó, o senhor abraçou com tal generosidade e coragem sua missão na nossa querida Amazônia, que nós o elegemos para ser Presidente da Rede Eclesial Pan-Amazônica, REPAM-Brasil”.

O texto faz referência à situação que está vivendo o Povo Yanomami na Diocese de Roraima, destacando a recente mensagem da REPAM-Brasil, onde o novo Bispo da diocese “revelou o amplo conhecimento que possui sobre a tragédia humanitária que enfrenta o Povo Yanomami, provocada pelo garimpo ilegal, pelo desmatamento, pela poluição das águas, sinais da perversidade provocada pela ausência de políticas públicas e pela negligência planejada com os modos de vida e com a cultura dos povos indígenas”.

 

Foto: CNBB Norte1

 

A presidência do Regional Norte1 da CNBB anima o novo Bispo da Diocese de Roraima a que “não tenha medo, a missão que o espera é exigente e desafiadora, mas o Senhor que o chama, também o acompanhará sempre com a sua graça e a força do seu Espírito”.

Finalmente, antes de pedir a intercessão de Nossa Senhora do Carmo, Padroeira da Diocese de Roraima, pela missão que a Igreja está lhe confiando, os Bispos do Regional Norte1 afirmam que “pode estar certo de que contará sempre com a acolhida fraterna, a solidariedade permanente e as preces constantes de seus irmãos no ministério episcopal”.

 

Luis Miguel Modino

Fonte: CNBB Norte1

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Solenidade da Santíssima Trindade

Imagem: Frei Fábio Vasconcelos

Talvez a definição mais bonita, mais fácil e mais acessível à nossa compreensão humana de Deus é a afirmação de que “Deus é Amor” (Cfr. 1Jo 4, 7-15). Trata-se de uma afirmação que expressa uma profundidade infinita.  Buscar compreender o mistério de Deus, como se revela em nossa fé cristã, implicará sempre num mergulho profundo na realidade divina, cuja presença luminosa podemos apenas pressentir, como que às apalpadelas – para usar a expressão do Apóstolo Paulo – tocando nos sinais de que Deus nos permite ver e sentir, sobretudo aqueles que são frutos do Seu amor imenso por nós. A maior destas provas de amor é o próprio Filho Unigênito, doado pelo Pai para a salvação do mundo (Cfr. Jo 3, 16). O mistério de Deus não pode ser apropriado e contido por ninguém. Não cabe nos limites da nossa inteligência e compreensão. Diante do mistério insondável de Deus nos sentimos pequenos como um grãozinho de areia na margem do oceano ou como um pontinho bruxuleante no universo infinito: podemos somente contemplar e mergulhar em êxtase nestes espaços imensos, que nos fascinam tanto!

Celebrar o nosso Deus como Trindade Santíssima é festejá-lo como expressão sublime e completa do Amor. É celebrar Deus que se revela próximo da humanidade e que se identifica conosco, que busca se manifestar a partir da nossa interioridade, do nosso coração, estabelecendo uma relação pessoal conosco e agindo no mundo através de nós.  Deus é o único Bom, nos ensina Jesus, e sopra e age onde quer. Todos os gestos de amor, de bem, de bondade, de unidade, de paz e tudo o que é bom tem sua fonte e origem em Deus. Não é mérito nosso.

A sabedoria divina, manifestada desde a criação do mundo, no Verbo que se fez carne, no amor de Deus derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo (Cfr. Rm 5, 1-5), nos revelam a realidade maravilhosa do nosso Deus, uno e trino. Deus que se faz pequeno para habitar em nós, fazendo de nós sua morada e nos inspirando também a amar a todos e a buscar sempre a unidade. Só em Deus existe a perfeita unidade. Só mergulhados nesta maravilhosa experiência do Amor, podemos superar as divisões e desigualdades entre nós, seres humanos, e nos humanizar a partir da nossa experiência de Deus, contemplado seu mistério como fonte de toda unidade. Talvez, tentando simplificar para entender melhor o mistério, possamos dizer que a Santíssima Trindade é a melhor e mais perfeita comunidade. Deus é amor! Quem ama, conhece a Deus, porque Deus é Amor! Para haver amor, é sempre necessário haver um eu, um tu e um nós! A vida fraterna em comunidade será sempre uma mediação indispensável para a experiência genuína do Deus-Amor e o conhecimento verdadeiro do Deus Uno e Trino.

Frei Edilson Rocha, OFM

Ilustração Cartaz do IV encontro da Igreja Católica na Amazônia Legal – Divulgação: REPAM Brasil

Santarém: a semente da sinodalidade plantada na Amazônia

Ilustração Cartaz do IV encontro da Igreja Católica na Amazônia Legal – Divulgação: REPAM Brasil

Em um tempo em que algumas pessoas pensam que a sinodalidade é um invento do Papa Francisco, é bom entender que estamos diante de uma forma de ser Igreja que ganhou grande impulso no Concílio Vaticano II, podendo afirmar que isso aconteceu na Amazônia a partir do Encontro de Santarém, que está completando 50 anos.

Já logo no início do Documento de Santarém aparece algo que pode nos levar a vislumbrar essa dimensão sinodal: “é um documento humano, reflexão fiel do pensamento do momento dos homens que dirigem os destinos da Igreja da Amazônia, homens sensíveis aos problemas e aspirações dos homens e dos grupos humanos que ocupam o espaço amazônico”. Nessas palavras, podemos dizer que se deixa transluzir uma atitude de escuta da realidade, algo fundamental em uma Igreja sinodal, uma Igreja que parte da realidade, dos problemas que fazem parte da vida do povo.

As linhas prioritárias da Pastoral da Amazônia que aparecem no Documento partem da realidade amazônica, “dos valores humanos e sociais do amazônida”. No Sínodo sobre a Sinodalidade, como já aconteceu no Sínodo para a Amazônia, o conhecimento da realidade, o processo de escuta, é considerado como condição indispensável na engrenagem sinodal. Foi nesse processo de escuta que foram conhecidos os clamores da Amazônia no Sínodo, algo que também esteve presente em Santarém.

O Documento fala de diversidade de ministérios, de uma Igreja em que “o cristão, pelo batismo, tem uma missão a cumprir dentro da comunidade, que consiste em testemunhar a verdade, pregar a boa-nova, viver conforme os dons e a capacidade que recebeu”, um elemento de fundamental importância em uma Igreja sinodal, estruturada como Povo de Deus, que segundo Santarém “significa Comunidade de Batizados”.

Foto: REPAM Brasil

O conceito “Agente de Pastoral”, superando uma visão clerical da Igreja, é entendido em Santarém como “todo aquele que se engaja total ou parcialmente no trabalho apostólico da Igreja, em funções diversificadas”. Nesse ponto, o Documento vai além do presbítero, e fala de “diáconos, ministros da Eucaristia, e de outros Sacramentos, dirigentes de cultos e de comunidades”.

Agentes para quem se indica a necessidade de formação desde os elementos autóctones. Nesse sentido, quando afirma que “ninguém melhor do que o homem do próprio meio de condições para exercer a liderança dentro da comunidade”, que deve “ser indicada pela comunidade a que pertence”, esses elementos podem ser considerados como uma clara escolha de uma Igreja que supera o clericalismo, um dos pecados que segundo o Papa Francisco impedem o avanço de uma Igreja sinodal. Junto com isso, se orienta o Agente de Pastoral para um trabalho comunitário, que vai se formando na troca de ideias.

Uma concreção da sinodalidade no Documento de Santarém é a Comunidade Cristã de Base, considerada em Medellín como “célula inicial de estruturação eclesial”, que leva a paróquia a “descentralizar sua pastoral”. É uma Igreja que se encontra, que sente necessidade de escutar, de viver uma “permuta de experiências e reflexões em comum”.

Em 1971, o Papa Paulo VI disse que “Cristo aponta para a Amazônia”. Hoje o Papa Francisco vê a Amazônia como a periferia que pode ajudar o centro, a Cúria Romana e a Igreja como um todo, a entrar no caminho da conversão que possibilite percorrer os novos caminhos que à luz do Evangelho é desafiada a enfrentar, os caminhos de uma Igreja sinodal.

Pe. Luis Miguel Modino

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Pálio: um sinal do cuidado e compromisso pastoral

Ilustração com base em uma foto da entrega do pálio

 

Arcebispos de Santarém e Manaus são revestidos com o pálio 

Os arcebispos Dom Irineu Roman (CSJ), de Santarém, e Dom Leonardo Ulrich Steiner (OFM), de Manaus, receberão, cada um em sua arquidiocese, o pálio abençoado pelo Papa Francisco. A celebração de imposição será presidida pelo núncio apostólico no Brasil Dom Giambattista Diquattro. A celebração em Santarém acontece no dia 29 de outubro, às 19h30, na igreja São Francisco no bairro do Caranazal. Na capital amazonense a imposição do pálio ocorrerá no domingo (31), às 7h30 na catedral metropolitana. A celebração de entrega do Pálio em geral se dava no Vaticano, mas por determinação do Papa Francisco passou a ser celebrada junto ao povo das igrejas locais. A modificação da modalidade de entrega do Pálio se deu em 2015. Em decorrência da pandemia do Covid-19, essa celebração não pôde ser realizada anteriormente, desta forma, o Núncio no Brasil entrega os pálios para os arcebispos nomeados nos dois últimos anos. 

Sete são as arquidioceses da Amazônia Brasileira: Manaus, Belém, Santarém, Palmas, Porto Velho, São Luís e Cuiabá. A arquidiocese de Santarém foi a última a ser instalada em 02 de fevereiro de 2020, data em que Dom Irineu Roman, CSJ, tomou posse como o primeiro responsável pela nova província eclesiástica. Já Dom Leonardo, assumiu a Arquidiocese de Manaus em 31 de janeiro de 2020. Depois de quase dois anos de serviço nas duas províncias eclesiásticas, os metropolitas receberão o pálio arquiepiscopal. Entenda o que isso simboliza.

 

 

Entendendo o sentido do pálio

O pálio (que deriva do latim pallium que significa manto) é um sinal, uma insígnia, que reveste os arcebispos. Uma faixa de tecido, mais especificamente de lã branca, usada ao redor do pescoço, principalmente nas celebrações mais solenes. O pálio é também ornado com seis cruzes negras e com faixas pendentes sobre as costas e peito. Uma das explicações simbólicas desta vestimenta litúrgica é a representação do pastor que carrega a ovelha nos seus ombros. O pálio é visto como um sinal da missão pastoral do arcebispo e da sua comunhão com a Santa Sé. Desse modo, ele simboliza a autoridade metropolitana, a unidade e o estímulo na fortaleza (cf. CB 1154).  O metropolita deve solicitar o pálio dentro de três meses a partir da sua nomeação e deve usá-lo no território da sua província eclesiástica (cf. Can. 437). 

O Pálio é um símbolo de uma relação especial com o Papa e comunhão com a Igreja de Roma. O pálio está também entre as insígnias papais como sinal do bom pastor e do Cordeiro Crucificado. Sobre o simbolismo do pálio, Bento XVI afirmou: “a lã do cordeiro representa a ovelha doente ou fraca que o pastor coloca em seus ombros e leva as águas da vida”. O formato diferente em alguns pequenos detalhes entre o pálio papal e o dos metropolitas serve para mostrar a diversidade de jurisdições de cada um. Essa insígnia litúrgica representa ainda o serviço e promoção da comunhão dentro da Província Eclesiástica na sua comunhão com a Sé Apostólica. 

 

Sobre a origem do Pálio nos remetemos ao manto dos filósofos e do manto com quem Jesus e os apóstolos eram retratados na arte cristã antiga (paleocristã). José Aldazábal relata que no Império Romano, era um sinal de distinção para pessoas honradas pelo Imperador. Na Igreja do Oriente existe uma vestimenta parecida, o omophorion (omoforion), que no caso é usado por todos os bispos.

O uso do pálio está presente desde a antiguidade cristã, uma prática que remonta aos séculos V e VI. Nos primeiros séculos cristãos, vemos em representações dos Pais da Igreja alguns deles revestidos com o Pálio, com a tira de pano, em formato diferente do atual, recobrindo os ombros com caimento do ombro esquerdo. Esse modelo cruzado no ombro vigorou até o século IX. A primeira imposição de pálio a um bispo tem seu primeiro registro por volta de 513. 

O material de confecção do pálio é lã natural de cordeiros, a matéria prima é extraída por monges Trapistas. No dia de Santa Inês a lã é oferecida e abençoada, depois levada para as monjas beneditinas do Mosteiro de Santa Cecília, em Roma, onde os pálios são fabricados . O formato atual do pálio faz lembrar a letra “Y”, por causa da faixa que pende ao tronco. 

Com a imposição do Pálio se recorda o Deus pastor eterno de nossas almas, que pelo Filho Bom Pastor guia e protege a Igreja. Recorda ainda a figura de Pedro, apóstolo, e os seus sucessores que assumem a missão de apascentar o rebanho de Cristo. Os metropolitas ao revestir-se com o pálio recordam o compromisso de ser “pastores com cheiro das ovelhas”. Esse não é tanto um sinal de importância e de jurisdição, mas de um serviço na Igreja de Cristo. A recepção do pálio, marca também a “plena recepção” dos arcebispos nos seus territórios. 

O Pálio entregue manifesta a missão que reveste o arcebispo, algo que ele não toma por si mesmo, mas que lhe é confiada pela Igreja (uma imagem bem própria dos ritos de ordenação, tanto que se indica que a entrega do pálio possa ser feita nos momentos de ordenação episcopal). Nesse momento também os arcebispos manifestam sua comunhão com a Igreja, na mesma fé professada e fidelidade prometida. Assim o pálio é sobretudo um sinal do Pastor e do cuidado pastoral.   

 

Fábio Vasconcelos, OFM 

Acadêmico de Teologia no ITF (Instituto Teológico Franciscano)

 

 

REFERÊNCIAS
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RODRIGUES, Arnaldo. Pálio: o que é, como é feito e para que serve. Disponível em: https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2018-06/entrega-do-palio.html. Acesso em 25 out. 21. 
ALDAZÁBAL, José. Vocabulário Básico de Liturgia. São Paulo: Paulinas, 2013. 
DEPARTAMENTO DAS CELEBRAÇÕES LITÚRGICAS DO SUMO PONTÍFICE. The Use of the Pallium. Disponível em: https://www.vatican.va/news_service s/liturgy/details/ns_lit_doc_20091117_pallio_en.html. Acesso em 25 out. 21.  
RÁDIO VATICANO. Papa modifica modalidade de entrega do pálio aos metropolitas. Disponível em: http://www.archivioradiovaticana.va/storico/20 15/01/30/papa_modifica_modalidade_de_entrega_do_p%C3%A1lio_aos_metropolita/pt-1120740
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Rede Eclesial Pan-Amazônica: 7 anos de atuação, história e missão

Criação da REPAM

“A Igreja Católica na Amazônia Legal busca ser sinal de vida e esperança junto aos povos indígenas, ribeirinhos, quilombolas, extrativistas, povos das florestas, moradores das cidades e na defesa da biodiversidade”. REPAM.

 

A REPAM, Rede Eclesial Pan-Amazônica, foi fundada no dia 12 de setembro de 2014, em Brasília-DF, pelo Conselho Episcopal Latino-americano (CELAM), Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Secretariado da América Latina e Caribe de Cáritas (SELACC) e a Confederação Latino-americana e Caribenha de Religiosos e Religiosas (CLAR). Ela foi criada com objetivo de construir e fortalecer a rede em defesa da vida – povos e bioma – na Amazônia (Declaração da Criação da Rede Eclesial Pan-Amazônica – REPAM. “Pan-Amazônia: Fonte de vida no coração da Igreja”. Brasília, 12 de setembro de 2014).

A REPAM nasceu a partir de uma provocação da V Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e do Caribe, em Aparecida (SP), em que sugeriu “criar nas Américas a consciência sobre a importância da Amazônia para toda humanidade. Estabelecer entre as Igrejas locais de diversos países sul-americanos, que estão na bacia amazônica, uma pastoral de conjunto com prioridades diferenciadas para criar um modelo de desenvolvimento que privilegie os pobres e sirva ao bem comum” (DAp 475). 

Esta provocação da Conferência de Aparecida foi precedida por dinâmicas que ajudaram a criar na Igreja uma consciência Pan-Amazônica.

Várzea santarena. Foto: Arquivo Custodial.

Os Antecedentes da REPAM.

Alguns destes Encontros Eclesiais na Amazônia marcaram esse itinerário:  

Em Santarém – PA, de 24 a 30 de maio de 1972, o “IV Encontro Pastoral da Amazônia. Linha prioritária da Pastoral da Amazônia”. Foi o evento fundamental para pensar a Amazônia. Assim como Medellín foi a aplicação do Concílio Vaticano II para América Latina, Santarém foi a aplicação do Concílio e Medellín para a Amazônia. (Veja-se CNBB, Desafio Missionário, Coletânea de Documentos da Igreja na Amazônia, 2014. P. 9-28).

Em Belém – PA, de 03 a 05 de fevereiro de 1990, em Belém – PA. Documento de Icoaraci. Em Defesa da Vida na Amazônia. III Encontro Inter-regional, Norte 1 e Norte 2. Preocupados pela destruição da Amazônia. (Ibidem, p 59-65).

Em 2003 a CNBB constitui a Comissão Episcopal para a Amazônia no Brasil, para cuidar especialmente da evangelização na Região.

Em Manaus – AM, de 07 a 09 de outubro de 2004. Documento das Conclusões do Encontro com os Bispos da Região da Amazônia Continental, onde se solicita ao CELAM criar um serviço para atender a Amazônia Continental e a V Conferência de Aparecida incluir um núcleo temático sobre o assunto da Amazônia.

Em Brasília – DF, de 09 a 11 de junho de 2005 se realiza o Seminário “Amazônia, Desafios e Perspectivas para a Missão” (Veja-se as memórias do seminário: Amazônia, Desafios e Perspectivas para a Missão”. Edições Paulinas, 2005, 343 p).

 

Em Aparecida – SP, de 13 a 31 de maio de 2007, a V Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e do Caribe. A partir de Aparecida inicia-se um “diálogo de maturação”. 

Em Manaus, de 11 a 13 de setembro de 2007, se realiza o IX Encontro dos Bispos da Amazônia, para rever a evangelização que se está realizando na Amazônia à luz da V Conferência Episcopal Latinoamericana de Aparecida.

E se deram múltiplas e valiosas experiências e reflexões eclesiais sobre Panamazônia e também encontros internacionais de intercâmbio de experiências como: Encontro Regional sobre Amazônia, em outubro de 2009; Seminário de Espiritualidade Cristiana e Ecologia, CELAM, em agosto de 2010; Seminário de Amazonia: Inter-Congrecionalidad e Inter-Institucionalidad, em outubro de 2011.

Em Santarém, de 02 a 06 de julho de 2012: “Igreja na Amazônia: Memória e Compromisso”, celebrando os 40 anos de Santarém-1972, se optou por fortalecer o compromisso profético e a formação a partir do seguimento de Jesus. 

Somados a essas experiências se deram encontros próximos à criação da REPAM com um olhar eclesial e pastoral de conjunto mais amplo: Encontro Pan-Amazônico em Puyo, abril de 2013; Encontro Pan-Amazônico, “Desafios, Estratégias e Ações, em Lima, julho de 2013, Primeiro Encontro da Igreja Católica na Amazônia Legal, em Manaus, outubro de 2013. Assim se chegou à fundação, no dia 12 de setembro de 2014 (Veja-se Informe ejecutivo del Encuentro Fundacional de la Red Eclesial Pan-Amazónica, 9 al 12 de Septiembre de 2014).

 

Abrangência da REPAM, Rede Eclesial Pan-Amazônica

A Rede abrange os nove países que têm a floresta amazônica em seu território: Brasil, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, Guiana, Guiana Francesa e Suriname. 

O movimento social se apropriou do conceito “Pan-Amazônico” como sendo um conceito de luta dos povos e comunidades tradicionais, porque a Amazônia não é só uma questão física e geográfica, mas são povos que enfrentam os mesmos problemas de viverem e sobreviverem numa das últimas reservas de floresta tropical úmida do mundo, e também uma das últimas reservas de biodiversidade. Os países da Pan-amazônia sofrem grandes pressões de setores empresariais e estatais, uma série de interesses econômicos pelas riquezas materiais do lugar: minerais, madeira, água e biodiversidade. A Pan-amazônia é uma categoria de luta e a construção de uma identidade para a luta.

A missão da REPAM

Desde uma plataforma de intercâmbio e enriquecimento mútuo e uma confluência de esforços das Igrejas locais, congregações religiosas, instituições eclesiais e de leigos, e organizações afins, com voz profética e ao serviço da vida, da criação, dos pobres e do bem comum, nos propomos como Rede Eclesial Pan-amazônica, REPAM, potenciar de maneira articulada, a ação que realiza a Igreja em território Pan-Amazônico, atualizando e concretando opções apostólicas conjuntas, integrais e multi escalares, no marco da doutrina e das orientações da Igreja. Os sujeitos prioritários da Missão da REPAM são os povos indígenas da Pan-Amazônia com sua riqueza e diversidade cultural, e os grupos mais vulneráveis no seu território. 

 

Organização da REPAM

O dinamismo da Rede Eclesial Pan-Amazônica, requer da participação ativa de cada uma das instâncias eclesiais, sejam elas organismos ou Igrejas locais, através das diversas iniciativas, ações, propostas, projetos e programas definidos pela Rede. Para garantir esse dinamismo a Rede conta com a seguinte estrutura de funcionamento e seus órgãos:

A Assembleia constituída pelas diversas instâncias eclesiais, se reunirá a cada dois anos de forma ordinária. O Comité Diretivo integrado por membros das instâncias que convocam e coordenam a Rede: Conselho Episcopal Latinoamericano e do Caribe, CELAM; Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, CNBB; Secretariado da América Latina e Caribe de Caritas (SELACC); e Conferencia Latino-americana dos Religiosos/as, CLAR.

 

Existe a secretaria executiva pan-amazônica e as secretarias executivas nacionais. E em cada arquidiocese, diocese ou prelazia estão os Comitês Locais REPAM, quem coordena as atividades. 

Os eixos da REPAM se constituem a nível nacional e local, como organização estratégica que busca executar os objetivos específicos da REPAM e estar em contínuo diálogo com as lideranças nos territórios e com organismos parceiros na defesa da vida na Amazônia. Os eixos em que se distribuem as propostas de atuação da REPAM – Brasil são:

  1. Povos originários e comunidades tradicionais da Amazônia 
  2. Igreja em Fronteiras
  3. Direitos Humanos – Incidência Internacional
  4. Formação e Métodos Pastorais
  5. Justiça socioambiental e Bem Viver
  6. Comunicação para a Transformação Social

Atuação da REPAM-Brasil

A atuação da REPAM-Brasil abrange os nove Estados que compõem a Amazônia Legal. O conceito de Amazônia Legal foi instituído pelo governo brasileiro como forma de planejar e promover o desenvolvimento social e econômico dos estados da região amazônica, que historicamente compartilham os mesmos desafios econômicos, políticos e sociais. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a Amazônia Legal corresponde a 61% do território brasileiro e engloba nove estados: Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins e parte do Estado do Maranhão, ocupando uma área de 5.217.423 km².

A REPAM-Brasil se consolidou a partir dos Seminários Laudato Si’, realizados entre 2016 e 2017, em 15 dioceses e prelazias da Amazônia brasileira, e concluindo com o Seminário Geral, em novembro de 2017. A Rede Eclesial Pan-Amazônica – REPAM-Brasil e a Comissão Especial para Amazônia da CNBB vêm acompanhando os Comitês que se formaram após a realização destes seminários. Cada “Comitê local REPAM”, caminha com as características próprias da Igreja particular na qual está inserido, em sintonia com o bispo e seu Conselho Diocesano de Evangelização. 

Também se tratou neste ano de 2017 de organizar os diversos eixos a nível nacional e a nível local.

No dia 15 de outubro de 2017, foi convocado o Sínodo para Novos Caminhos para a Amazônia e para uma Ecologia Integral. A REPAM foi encarregada de organizar a animação e organização da escuta sinodal em toda a Pan-Amazônia. O êxito do Sínodo se deve em parte à colaboração da REPAM em cada um dos países e igrejas locais.

Em 2018, se iniciam os Encontros de Escuta para preparar o Sínodo. Foram escutadas umas 87.000 pessoas em toda a Pan-amazônia. Com esse material foi realizado o “instrumento de trabalho” que foi estudado em 2019 antes do Sínodo, nas igrejas locais. 

De 21 a 23 de agosto de 2019 se realiza em Manaus o III Encontro da Igreja Católica na Amazônia Legal como preparação para o Sínodo da Amazônia. 

De 28 a 30 de agosto de 2019, se realiza em Belém o Encontro de Bispos Sinodais, Peritos e Auditores do Sínodo. 

Sínodo

Realizado em Roma de 05 à 26 de outubro de 2019. Onde foi elaborado o Documento Final do Sínodo.

02 a 05 de dezembro de 2019. Encontro dos Comités e Eixos da REPÁM-Brasil em Brasília. Para avaliação e planejamento de atividades após o Sínodo, com o encarrego de colaborar na divulgação das conclusões do Sínodo. 

Em fevereiro de 2020 houve um fato muito significativo: a promulgação da Exortação Apostólica do Papa Francisco “Querida Amazônia”.

Em 2020 foram realizados grandes eventos virtuais internacionais para lançar o grito em defesa da Panamazônia. Se iniciaram a “Campanha Amazoníza-te”, para aprofundar nas raízes e na identidade amazônidas, e a “Campanha A Vida por um Fío”, de proteção comunitária de defensores de direitos humanos ameaçados. Se cria o “Fórum pelos direitos da natureza” para trabalhar numa conscientização que leve a leis ou uma lei que proteja os direitos da natureza. Se fez presente no monitoramento da pandemia da Covid-19 na Pan-amazônia.  

Com a criação pelo Papa Francisco da CEAMA, Conferência Eclesial Amazônia, pedida pelo Sínodo para Amazônia, a REPAM fica vinculada à CEAMA como órgão articulador dela. 

Em 2021 se lança uma proposta de formação com as Caravanas Formativas para tratar das cinco conversões de que trata o Documento Final do Francisco Sínodo e os quatro sonhos de que trata a exortação Querida Amazônia.

Pe. Guillermo Cardona Grisales, SJ