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Dom Leonardo Steiner, um irmão entre os menores da Amazônia

  O terceiro dia do décimo segundo Capítulo da Custódia São Benedito da Amazônia foi marcado pela presença de Dom Leonardo Ulrich Steiner, a quem o povo da região carinhosamente chama “Cardeal da Amazônia”. O Cardeal chegou a Santarém na tarde do dia 15 de novembro e sua presença fraterna despertou muita alegria por parte dos capitulares. A conferência de Dom Leonardo foi um momento muito aguardado dentro da programação do Capítulo.  

Em sua conferência, o Arcebispo de Manaus, foi tecendo um profundo comentário sobre a identidade franciscana e sua vida e missão como “Menores na Amazônia”. Na sua introdução Dom Leonardo fez uma bela recordação do itinerário espiritual de Francisco de Assis como “alguém que mudou de vida depois do encontro com o Crucificado”. O amor de Francisco foi gratuito e generoso, destacou o Cardeal. 

 

Frei João Carlos Karling (Visitador Geral), Dom Leonardo e Frei César, (Definidor Geral)

 

A espiritualidade e vida franciscana, segundo ele, deve ser marcada por uma profunda admiração. Francisco foi um profundo admirador de Deus, que por “um amor tão extraordinário e admirável que se fez Menor”. O amor que movia o Pobrezinho de Assis, o movia, e como recordou Dom Leonardo, “o levou a gemer e a lamentar nos bosques”. O amor que não é amado é generoso e gratuito, afirmou. 

Vida, missão e minoridade são temas fortes para reflexão sobre a identidade dos frades menores na Amazônia, sobre isso, Dom Leonardo também dedicou pontos da sua alocução aos frades. A vida foi definida por ele como “dinâmica, sentido e o concretizar de uma existência”.  A gratuidade e a fraternidade foram enfatizadas como aspecto presente   no viver, assim pontuou o Arcebispo. Fraternidade foi exposta na conferência como a força que faz irmão. Entre os frades menores a força que faz ser irmão é a minoridade, ressaltou o Cardeal Steiner. 

Durante a conferência foram abordadas à luz da riqueza do franciscanismo temas como gratuidade, fraternidade, cuidado. Um olhar franciscano desde o coração da Amazônia nos permite ver com tristeza que conforme, constata o cardeal: “As criaturas deixaram de ser irmãs para tornaram-se objeto de exploração”. Acabamos por observar “relações desfraternas”. Ao invés de nos desarmar estamos cada vez mais em tempos desafiadores e de profundos conflitos. 

A hermenêutica da totalidade foi destacada aos frades como “possibilidade de ser Igreja na Amazônia” com uma “responsabilidade envagelizadora”. Dom Leonardo destacou que os frades na Amazônia têm uma missão própria. Um carisma privilegiado para dialogar com os povos e culturas locais. A “admiração com o mistério de Deus” ocupa um lugar importante na presença franciscana neste território.

Frei Thomas Nairn, Dom Irineu Roman, Dom Leonardo e Dom Wilmar Santin.

Sobre a missão franciscana na Amazônia, o Cardeal, realçou aos frades em capítulo que “como Menores, estamos satisfeitos onde a obediência nos envia”. Provocados a anunciar o Amor que não é amado. Neste caminho com a Amazônia a admiração nos impulsiona na encarnação e no anúncio transformador e libertador. Concluindo a conferência, o metropolita, afirmou que “Como Menores deveríamos estar entre os menores, para sermos menores”.  Em seguida o Cardeal ouviu a ressonância dos frades sobre a sua exposição, momento de um esperançoso bate-papo. Como arcebispo de Manaus, ele agradeceu a presença e atual dos frades na capital amazonense. 

 

Auditório Capitular

Texto e fotos: Equipe de Comunicação para o Capítulo

 

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Igreja do Brasil lança Documento de Santarém 50 anos: Gratidão e Profecia

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A Igreja samaritana do Papa Francisco em meio às crises do mundo atual

Ação Emergencial em tempo de pandemia. Foto: Projeto OMOLU

 

Parece não ser novidade que mudanças geralmente são acompanhadas de crises. Paradigmas se quebram algumas estruturas e pensamentos precisam se renovar e os que estavam acostumados com uma certeza se veem sem o chão. A crise vem nos tomar de assalto e nos espantar. O susto diante da crise e nossas formas de reação são também um desafio para uma Igreja que pretende caminhar junto das “dores e alegrias” da humanidade. 

O sofrimento, as rupturas, mas também, as decisões e novas opções são todos elementos que nos podem colocar a crise. E de alguma forma essa situação crítica da atualidade, com suas múltiplas faces, nos faz recordar uma conhecida parábola de Jesus: O Bom Samaritano (Lc 10, 29-37). A humanidade nos seus caminhos se vê muitas vezes “surpreendida e assaltada” pela crise. As mudanças tomam-nos de assalto e muitos de nós nem percebem que elas se avizinham e nem sabem como agir diante delas. Esse abalo, joga as certezas humanas na beira da estrada e questiona as atitudes daqueles e daquelas que se deparam com esses efeitos da crise. Muitos são os que passam e desviam o olhar e seguem direto como se a crise não os afetasse. 

A Igreja Samaritana, imagem que inclusive ressoou no documento final do Sínodo para a Amazônia, não é indiferente aos dramas da humanidade atual. O seu oposto é o que o Papa Francisco cunhou como “globalização da indiferença”. Muitos sinais de aproximação e busca de soluções para as diversas dimensões da crise atual são tocados no pontificado de Francisco. Outros temas são também presentes no pontificado de Francisco, tais como a crise migratória, degradação socioambiental, realidade juvenil, familiar, dilemas eclesiais, ausência ética, dimensão política e outros . Ao falar de bem comum e amizade social, com a encíclica Fratelli Tutti, ele recupera as ideias da parábola do bom samaritano. Esse trecho é referenciado de forma ampla no segundo capítulo “um estranho no caminho”. 

A alteridade diante das dores do mundo é uma atitude de quem reconhece e ajuda o seu próximo. Essas são chaves necessárias diante de alguns rumos que o mundo tem tomado. A ética do Samaritano, um estrangeiro, que se compadece do Outro tem muito a nos ensinar. Em um ambiente em que parece que muitos estão focados nos seus interesses apenas e na conservação dos seus ganhos, o samaritano sabe parar. Mesmo que o fluxo prossiga, mesmo que ele se atrase ou fique para trás, mesmo assim, ele para. Ele sabe empenhar seus recursos para a promoção do bem, mesmo para alguém que não conhece e nem tem como retribuir, porque lhe fora tirado aquilo que possuía. E aqui nos é relembrado um outro elemento que urgentemente precisa ser redescoberto: o cuidado. 

 

Foto: Projeto OMOLU

 

O projeto eclesial do Papa Francisco é de uma Igreja que não se acomoda e não teme se aproximar. E mais do que discursos, muitas atitudes do atual pontífice têm evidenciado essa sua resposta às urgências do nosso tempo. O seu convite é para sairmos ao encontro das crises nas periferias concretas e existenciais. A complexidade da crise ética atual, que atinge pessoas e instituições, exige uma resposta de diálogo e comunhão com todas as dimensões humanas, para que em unidade se possa achar as soluções. 

Francisco (2020) nos chama atenção para o fato: “a misericórdia cristã também inspira uma partilha justa entre as nações e as suas instituições, a fim de enfrentar a presente crise de solidariedade”. Suas falas nos recordam que as crises humanitárias e planetárias estão cada vez mais exigindo atitudes de todos e em especial dos cristãos. Por que nós (os cristãos) devemos dar as mãos com os que buscam os caminhos de saída para o labirinto das crises.   

O “estranho no caminho” continua a ecoar no coração e interpelar o agir eclesial. Uma vez que alegrias e esperanças, bem como as dores e angústias da humanidade, sobretudo dos pobres são também as dos seguidores de Cristo (GS 1), a Fratelli Tutti (PAPA FRANCISCO, 2020) recorda que as passagens bíblicas se somam ao ícone do Bom Samaritano e afirmam o dever do amor ao próximo. Essa caridade se dá transpondo barreiras impostas. Um amor que extrapola as fronteiras. 

A situação do homem à beira do caminho é de abandono. Muitos passam e não reagem. Estão preocupados com “suas vidas, seus rituais” com seus ritmos próprios. Também hoje esse caminhar apático pode ser fruto do individualismo e do fechamento ao outro. Dar do seu tempo em nosso momento atual é uma das ofertas mais complicadas. Um dos sintomas da nossa sociedade enferma é o de não deixar de lado os seus planos diante da urgência dos sofredores. Boa parte dos nossos contemporâneos não têm concedido tempo para o gesto empático sugerido na carta aos Romanos: “alegar-nos com os que se alegram e chorar com os que choram” (Rm 12, 15).  Que tempo temos dado aos outros? Podemos nos perguntar a nós mesmos.

As circunstâncias de sofrimento em nosso tempo são para nós um desafio. “A provocação do forasteiro” nos exige uma tomada de atitude com base nas raízes da nossa fé. O amor ao próximo anunciado por Jesus tem um papel importante diante das incertezas atuais. A compaixão com os sofredores e olhar atento aos outros são também outros pontos que devem contrapor muitos ideais hodiernos. Esperamos que esse paradigma do Bom samaritano continue a iluminar os passos da Igreja na sua resposta aos muitos desafios colocados pelo contexto de crise. Somos chamados a olhar o mundo como Igreja Samaritana que tem claro o sentido social da existência, inspirada por uma espiritualidade fraterna, convicta da dignidade das pessoas e que ama e acolhe a todos (cf. FT, 86).

 

Frei Fábio Vasconcelos, OFM

Acadêmico de Teologia no ITF (Petrópolis – RJ)

 

Notas

[1] PAPA FRANCISCO. Regina Coeli (19 de abril de 2020). Disponível em: <http://www.vatican.va/content/francesco/pt/angelus/2020/documents/papa-francesco_regina-coeli_20200419.html>. Acesso em 11.jun.2020. 
PAPA FRANCISCO. Fratelli Tutti: sobre a fraternidade e amizade social. (03/10/2020). Disponível em <https://www.vatican.va/content/francesco/pt/encyclicals/documents/papa-francesco_20201003_enciclica-fratelli-tutti.html> . Acesso em 04.out.2021.
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Argentina venera seu novo beato: Frei Mamerto Esquiú, OFM

Imagem de Frei Mamerto Esquiú, OFM. Foto:  OFM

Na manhã de ontem, 04 de setembro, na cidade argentina de Piedra Blanca, a Igreja beatificou o Frei Mamerto Esquiú, OFM. O franciscano e bispo argentino, foi reconhecido como exemplo de santidade para construção de uma Igreja em saída que responde aos apelos de seu tempo. Conheçamos um pouco da vida deste novo beato franciscano e latino-americano, à luz de algumas falas ditas na cerimônia de beatificação, comentadas no texto do Pe. Luis Miguel Modino.

Segue o texto: 

Falar de Mamerto Esquiú é falar de alguém que esteve presente na vida do povo argentino, de pessoas de todas as classes e condições, que soube estar e falar no meio dos deputados e governantes da época, mas também entre os camponeses e trabalhadores mais pobres das fazendas mais distantes.

Imaginamo-lo no dorso de uma mula, repetindo uma imagem comum a outro dos santos mais venerados do país, o Cura Brochero, exemplos daquela Igreja que não tem medo de sujar os pés, como nos lembra o Papa Francisco. Frei Mamerto Esquiú, OFM, que hoje foi elevado à honra dos altares em cerimônia no local onde nasceu, San José de Piedra Blanca, na província de Catamarca, é uma referência na Igreja e na vida de um bom número de argentinos.

Por isso, podemos dizer com o Cardeal Luis Héctor Villalba, enviado pontifício para esta beatificação, que “hoje é um dia de festa, hoje é um dia de alegria, grande é a alegria no céu e na terra pela beatificação de Mamerto Esquiú”. O arcebispo emérito de Tucumán definiu o novo beato como “um homem em quem a graça de Deus e a alma de Esquiú se uniram para dar luz a uma vida estupenda até chegar àquela grandeza moral e espiritual que chamamos de santidade”.

Para o Cardeal argentino, Esquiú é um modelo a imitar, vendo em sua beatificação “um convite a caminhar em direção à santidade”. Algo que foi vivido por alguém que nasceu em uma família religiosa e trabalhadora, e que depois de ser ordenado sacerdote aos 22 anos, se dedicou ao ensino e pregação, segundo lembrou o Cardeal Villalba. A missão do Beato foi marcada por algo que ele mesmo disse com frequência: “o que importa é fazer a vontade de Deus a todo custo”.

Cerimônia de beatificação de Frei Mamerto Esquiú, OFM. Foto: Vatican News

Um homem de oração e um bispo missionário, que se dedicou a visitar todas as comunidades de sua extensa diocese, como recordou o legado do Papa Francisco para a beatificação, o arcebispo emérito de Tucumán, insistiu em definir o homem que foi bispo de Córdoba durante dois anos, antes de sua morte aos 57 anos de idade, como “um pastor bispo que se destacou por sua humildade, sua pobreza e sua austeridade de vida, um pastor que se entregou aos pobres a exemplo de São Francisco”, lembrando o fundador da congregação da qual Frei Esquiú era membro.

Em suas palavras, o Cardeal lembrou que o novo beato é “reconhecido como uma das grandes figuras de nosso país por seu patriotismo exemplar”, destacando que “ele iluminou a ordem temporal com a luz do Evangelho, defendendo e promovendo a dignidade humana, a paz e a justiça”.

Fazendo um chamado para viver a santidade, o cardeal lembrou que isto resulta de dois fatores, da graça de Deus e de nossa disponibilidade de espírito para cumprir a vontade de Deus, insistindo que “alcançar a santidade é viver na simplicidade da vida diária, na fé, na esperança e na caridade”.

No final da celebração, o bispo de Catamarca definiu a experiência de 4 de setembro como “uma festa cívica de fé genuína”. Dom Luis Urbanc pediu a intercessão do novo Beato para que “nosso país possa superar com caridade cristã todos os obstáculos que continuam a mergulhá-lo na escravidão, arbitrariedade, confronto, injustiça, falsidade e mesquinhez que não nos permitem ver um futuro de paz, progresso, inclusão, trabalho, respeito, unidade e amizade, como sonhava o Beato Mamerto Esquiú”. Finalmente, ele pediu sua ajuda para “ser uma Igreja sinodal e servidora”, algo que outro argentino, o Papa Francisco, nos pede hoje.

 

Pe. Luis Miguel Modino

Assessor de Comunicação do regional Norte 1 da CNBB

 

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