Visita das Relíquias de São Francisco em Santarém – PA (2019) /Foto: Acervo OFS Norte 3
“E caminhando com ímpeto de espírito, sem escolher caminho nem atalho, chegaram a um castelo que se chamava Savurniano, e S. Francisco se pôs a pregar e primeiramente ordenou às andorinhas que cantavam, que fizessem silêncio até que ele tivesse pregado; e as andorinhas obedeceram. E ali pregou com tal fervor que todos os homens e todas as mulheres daquele castelo, por devoção, queriam seguir atrás dele e abandonar o castelo. Mas S. Francisco não permitiu, dizendo-lhes: ‘Não tenhais pressa e não partais; e ordenarei o que deveis fazer para a salvação de vossas almas’. E então pensou em criar a Ordem Terceira para a universal salvação de todos.” (Fioretti, 16)
OFS no Capítulo Custodial de 2019/ Foto: Arquivo Custodial
“A Regra e a vida dos franciscanos seculares é esta: observar o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo o exemplo de São Francisco de Assis, que fez do Cristo o inspirador e o centro da sua vida com Deus e com os homens” (Regra OFS, 4).
Francisco: Uma vocação laical
Sempre costumo dizer que, primeiramente, a inspiração e vocação de Francisco de Assis é laical. É natural que seja assim, pois nascemos leigos e leigas e, somente depois, é que alguns são chamados a doar sua vida pelo Reino de forma ainda mais radical. O que quero dizer com isso é que, antes que a fraternidade de Francisco recebesse a aprovação da Igreja, sua experiência de vida foi composta de traços da vida laical, da forma como concebemos hoje – sem querer cometer anacronismo -, pois sua inserção no mundo e experiência de fé vocacional estavam longe daquilo que era posto como vida religiosa e consagrada em seu tempo. Sua experiência como penitente laico, sob proteção e observação clerical, é que alcança amadurecimento, tal que o leva a uma forma de vida que com o tempo vai assumindo os moldes clericais e de vida consagrada.
Não é por acaso que essa inspiração chamou a atenção de pessoas casadas que desejosas de experimentar esse novo jeito de seguir ao Cristo, quiseram deixar tudo para abraçar esse modo de vida. Francisco de Assis, inspirado pelo Espírito Santo, percebeu que eles e elas podiam, em seu estado secular, também adentrar à radicalidade da vida evangélica. Nascia dessa forma e, 1221 a Ordem dos Irmãos e Irmãs da Penitência (reconhecida assim pelo Papa Honório III), posteriormente chamada de Ordem Terceira de São Francisco (1230, pelo Papa Gregório IX) e bem mais adiante, Ordem Franciscana Secular (1978, pelo Papa Paulo VI), como é conhecida nos dias de hoje, após seus 800 anos de fundação.
Visita das relíquias de São Francisco/ Foto: OFS Regional Norte 3 – Pará Oeste (2019) –
Nosso claustro é o mundo
Nossa regra e vida tem seu local de realização plena: o mundo. Ser um bom cristão-franciscano, que é até meio redundante, porque ser um bom franciscano implica ser um bom cristão – se bem que há não-cristãos mais cristãos que muitos cristãos e mais franciscanos que muitos franciscanos -. Nossa regra e vida traz como espaço de realização vocacional o local de trabalho, a família e todos os espaços por onde transitamos e relações que construímos. Este é um privilégio vocacional para nós. Nós não só podemos como devemos, por vocação e inspiração, ser testemunhas do amor do Cristo em todos os lugares e espaços, sejam políticos, sociais, religiosos, econômicos, culturais, acadêmicos, etc. Por vocação devemos estar e somos para o mundo. Embora seja muito comum, hoje em dia, ver religiosos e religiosas assumindo esses papéis.
Cristãos simples mais comprometidos como Luquésio (1260) e Buonadonna; reis e rainhas como Luis de França (1270) e Isabel da Hungria (1231) e; jovens como Rosa de Viterbo (1258) são exemplos do passado e de que a pregação de Francisco até hoje contagia a todos do castelo. Zilda Arns e Chiara Lubich são outros exemplos mais próximos nós, de uma experiência que passou pela forma de vida franciscana secular.
Fotos: Acervo FOQS (Projeto Omulu-Terra de Quilombo), 2020
Experiência essa que não se consolidou apenas em solteirões e solteironas ou pessoas casadas, mas que floresceu no jardim de uma juventude que também é franciscana. A Juventude Franciscana (JUFRA) é uma das mais belas experiências juvenis da Igreja, assim como cativou Rosa de Viterbo, jovens de hoje são enamorados pelo convite que Francisco e Clara de Assis fazem a cada um e cada uma a entregarem-se por amor ao Cristo. No Brasil a JUFRA, este ano, completa seus 50 anos de testemunho de vida cristã e franciscana.
Atualmente, OFS e JUFRA continuam florindo por todo o mundo. A pregação e amor de Francisco e Clara de Assis reverberam em nosso tempo. A vida em fraternidade e o cuidado mútuo tem sido o legado deixado por eles a cada um e cada uma nós. Que o Senhor nos ajude a cumprir e dar seguimento a essa herança espiritual e forma de vida evangélica. Paz e bem!
Aldo Luciano Corrêa de Lima
Antropólogo; Coordenador da Formação – OFS Regional Norte 3 – Pará Oeste.
Referências:
SÃO FRANCISCO DE ASSIS. Escritos e biografias de São Francisco de Assis – Crônicas e outros testemunhos do primeiro século franciscano. 9ª Edição; Editora Vozes, FFB; Petrópolis, 2000.
ORDEM FRANCISCANA SECULAR. Tempo de Formação para a Vida Franciscana Secular. 1ª Edição; Ordem Franciscana Secular do Brasil (OFS), 2005.
___.Regra. 4ª Edição; Ordem Franciscana Secular do Brasil (OFS), 2007.
___. Livro de Formação para Iniciandos e Iniciandas à Vida Franciscana Secular. 3ª Edição; Ordem Franciscana Secular do Brasil (OFS), 2011.