Para quem ama, a experiência da morte é muito dolorida. Perder um familiar, mãe, pai, filho, filha, esposa, marido ou até um amigo nos traz uma grande tristeza. Diante da morte, há um forte sentimento de perda e de saudade. Sentimos a ausência de uma pessoa querida, mas a saudade é mais que sentir a ausência, é experimentar um grande vazio e o desejo de ficar do lado da pessoa, de ter a pessoa fisicamente presente.
Mesmo sabendo que a morte é o destino da nossa existência, ficamos inconsolados com o fato que nunca mais teremos a pessoa amada do nosso lado. Vivemos esta realidade durante a pandemia de COVID-19. Foi um momento em que a morte estava pairando sobre nós e o medo fez com que a possibilidade da morte se tornasse mais próxima. Mas é justamente nesta hora de dor, tristeza e de medo que a fé toma conta do nosso ser. A fé não somente nos consola, mas nos traz uma grande esperança de que a morte não tem a última palavra, pois a vida sempre é a vencedora.
Os discípulos estavam caminhando de Jerusalém a Emaús, uma caminhada de onze quilômetros, e invadiu no íntimo deles uma profunda tristeza. Experimentaram bem de perto a morte de Jesus e, com medo, fugiam de Jerusalém e no caminho conversavam sobre os últimos acontecimentos. Embora estivessem no caminho, estava abandoando o Caminho.
Naquela conversa havia um sentimento de tristeza e saudade, um grande vazio dentro deles. Lembravam as ações de Jesus, um profeta poderoso em obras e palavras e que este Jesus, entregue nas mãos dos sumos sacerdotes, foi morto de uma maneira cruel, crucificado. As saudades era tantas que não eram capazes de reconhecer Jesus que começou a caminhar com eles, parecia um estranho.
Na conversa, Jesus falava das Escrituras e eles sentiam uma nova esperança com suas palavras. Foi quando entraram na casa e Jesus partiu o pão que os olhos deles se abriram e reconheceram Jesus, mas Ele desapareceu do meio deles. Diziam: “Não estava ardendo o nosso coração quando ele nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras?” (Lc 24, 32).
Enquanto caminhava com eles, Jesus ressuscitado estava fisicamente presente e eles matavam as saudades pelo jeito que ele explicava para eles as Escrituras. Mas agora, na partilha do pão, Jesus desaparece, não há mais a necessidade da presença física de Jesus, pois ele continua presente entre aqueles que acreditaram através dos seguintes sinais:
Presente, primeiramente, na Palavra, pois Jesus não é somente o cumprimento das Escrituras, mas ele mesmo é a Palavra que habita entre nós. Na escuta e vivência desta Palavra é que experimentamos a sua presença entre nós.
Segundo, na Eucaristia, pois ao partir o pão, Jesus repete o gesto da última ceia e lembra que os discípulos devem fazer isto em sua memória. No pão partilhado na vida comunitária e no pão abençoado do seu corpo e sangue, a comunidade de crentes recebe o alimenta para viver a fé e Jesus continua presente dando-nos o alimento que precisamos para a missão. Na comunidade, a partilha do pão eucarística é também indicação do pão partilhado na vida comunitária. Quem vive a partilha, se compromete em comunidade, e na comunidade Jesus ressuscitado está presente.
Depois, na missão, pois os discípulos, ao reconhecer Jesus na partilha do pão, imediatamente saíram em missão para contar aos outros que viram o Senhor. Assim começa arder o coração, pois Jesus caminha com a comunidade que vive a missão.
Diante da situação atual que estamos vivendo, o evangelho do caminho de Emaús nos ensina uma grande lição: Jesus ressuscitado não é um “estranho”, mas é nosso companheiro no caminho que restaura nossa esperança e nos anima para a missão.
A primeira comunidade cristã não precisava mais da presença física de Jesus, pois acreditava que Jesus estava presente na Palavra, na partilha do pão e na vida em comunidade. Jesus não somente caminhava com eles, mas continua caminhando conosco nos mesmos sinais.
Podemos dizer que Jesus, ao caminhar junto, manifesta a solidariedade com todos aqueles que andam tristes e abatidos pelos acontecimentos. A presença de Jesus ressuscitado nos fortalece e nos encoraja também neste momento de dúvidas e incertezas, pois esta presença nos dá a certeza de que fomos resgatados, “não por meio de coisas perecíveis como a prata e o ouro, mas pelo precioso sangue de Cristo” (1Pd 1, 18-19).
É por isso que temos esperança de que podemos vencer as garras da morte, do mal e do medo. Cristo continua presente entre nós, e nós, comprometidos na comunidade podemos viver a certeza da ressurreição mesmo diante dos sinais da morte presente no mundo de hoje. Temos, portanto, os mesmos sentimentos dos discípulos que fizeram o encontro com Jesus no caminho: “Não estava ardendo o nosso coração quando ele nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras”.
Frei Gregório Jorieght, OFM