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Domingo da Páscoa

Nós somos cercados por sinais! Todos os dias usamos sinais para ajudar na comunicação e nos nossos afazeres. Um sinal de trânsito, por exemplo, serve para nos orientar nas estradas, para não errar o caminho e nem correr o risco de um acidente. Usamos sinais com nossas mãos para comunicar algo para as pessoas e dizer o que precisamos ou expressar um sentimento. Na Bíblia os sinais indicam que Deus está realizando algo que não é percebido por quem não faz a experiência de fé e amor. Estes sinais não são provas lógicas ou argumentos, mas apontam para uma nova realidade para quem tem fé e vive o amor.

No final da leitura do evangelho de hoje, o discípulo amado ao entrar no túmulo, “viu e acreditou, de fato, eles ainda não tinham compreendido a Escritura”. O que ele viu? A pedra retirada, o túmulo vazio e os panos enrolados à parte. São sinais!

Para compreender estes sinais, vamos olhar para o início deste evangelho. Foi Maria Madalena que foi primeiro ao túmulo, bem de madrugada. Ela representa toda a comunidade que não podia acreditar, pois diante da ausência do corpo de Jesus, ela diz: “Tiraram o Senhor do túmulo, e não sabemos onde o colocaram” (Jo 20, 2b). Ela e a comunidade procuram uma explicação para o sinal do sepulcro vazio.

Podemos lembrar os acontecimentos e por aquilo que a comunidade passou:

Eram pessoas pobres e simples que seguiram Jesus, acreditavam na sua palavra e nos seus sinais, apostaram no seu projeto, por isso eram capazes de deixar tudo.

Participaram da ceia quando Jesus repartiu o pão e o cálice, lavou os pés e mostrou o caminho do amor pelo sinal da partilha. Foram tocados pelo ensinamento do amor e da promessa do Espírito Santo.

Mas, de repente, viram Jesus condenado, torturado e morto na cruz. Não só a morte de alguém que eles amavam, mas o fim do projeto de esperança, da possibilidade da libertação e da realização das promessas de Deus. Parecia que o sinal da vida era vencido pela morte.

Diante disto, foi o discípulo amado que correu mais depressa ao sepulcro, ele viu e acreditou. Ele foi o discípulo que Jesus amava e foi justamente o amor que o fez correr mais depressa. Então ele representa a comunidade que não compreende, mas, ao mesmo tempo, é capaz de acreditar que o amor é mais forte que a morte. A explicação para o sepulcro vazio é justamente a vitória da vida.

Assim, o sinal da ausência de Jesus no sepulcro se tornou uma oportunidade para acreditar. Foi a partir deste sinal que os discípulos compreenderam que Jesus ressuscitou e seu projeto de amor venceu. Assim, os sinais da ressurreição são justamente os sinais de fé e amor. Foi a fé e o amor que venceram o poder romano que condenou Jesus a morte, o amor é mais forte que a violência. A fé e o amor venceram os fariseus que não podiam acreditar na superação da Lei. A fé e o amor venceram a sociedade que exclui os pobres, os aleijados e leprosos, pois em Jesus todos têm esperança de vida nova. Foram estes os sinais do amor que o discípulo viu e por isso acreditou. Assim a comunidade testemunhou e começou a pregar, a viver o projeto que Jesus anunciava e viver os sinais da ressurreição.

Nós também somos capazes de acreditar na ressurreição que significa não simplesmente superar dúvidas de fé, mas manifestar os sinais da ressurreição. E o maior sinal da ressurreição é o amor.  O amor que vence a sociedade violenta em que vivemos e é capaz de viver a solidariedade, mesmo nos momentos de dificuldade e sofrimento de tantas pessoas que enfrentam o flagelo da fome. É este amor que vence as desigualdades sociais, a miséria, a pobreza e é capaz de viver a partilha com os mais necessitados. É este amor que vence a destruição da vida e da criação, capaz também de respeitar toda a vida e promover ações de justiça e fraternidade. Enfim é o amor que vence a morte e a fé que vence as dúvidas.

Então, nós somos o discípulo amado, capazes de correr, viver o amor e manifestar os sinais da ressurreição. Por isso, lembramos a resposta do salmo de hoje: “Este é o dia que o Senhor fez para nós: alegremo-nos e nele exultemos”.

Frei Gregório Joeright

Foto: Arquivo custodial

Jesus Cristo: a palavra e a semente

Foto: Arquivo custodial

A Bíblia apresenta várias formas para falar de Jesus, ou formas como ele mesmo se apresentou. Aqui neste texto vamos encontrar prioritariamente as imagens da Palavra e da Semente. Quando ouvimos falar sobre o termo PALAVRA, logo lembramo-nos das nossas palavras – e o efeito da palavra na vida dos homens e das mulheres. Estas palavras podem ser usadas para transmitir o que pensamos, falar com os outros, contar a nossa história, falar de quem somos e o que achamos, corrigir, ajudar, ensinar… Também a nossa palavra pode ser usada para mentir, falar mal dos outros, corromper, deturpar sentido etc. Mas, queremos aqui falar da palavra que é notícia boa, e é isso mesmo que a palavra EVANGELHO quer dizer: A boa notícia. Jesus é uma notícia muito boa e carrega com ele uma mensagem de amor. E os cristãos devem, como seguidores de Jesus, falar dessa boa notícia (com a sua palavra e vida).     

Com a nossa palavra nós podemos anunciar Jesus, Verbo de Deus entre nós, como aquele que deu sua vida para salvar a humanidade (Na missa dizemos, iluminados pelo que disse São Paulo: anunciamos Senhor, a vossa morte e proclamamos tua ressurreição, vinde Senhor Jesus!). Nossa palavra, falando da Palavra de Deus, pode fazer com que os outros acreditem, pode plantar a fé (como uma semente) no coração das outras pessoas. E assim, as pessoas que ouviram falar de Deus, podem nele acreditar e, acreditando Nele, podem confiar e esperar que aconteça aquilo que Ele disse, com muito amor, segundo disse Santo Agostinho. 

A nossa palavra também serve para indicar, mostrar a natureza do que está aí. A Palavra de Deus, mostra quem Ele é, da maneira como Ele quis se apresentar para as pessoas. Deus falou ao seu povo de diferentes modos, mas de modo mais importante para os cristãos, em Jesus Cristo. Deus chamou todas as pessoas para caminhar com Ele, e veio encontrar a humanidade, falando como um amigo fala com outro amigo (Dei Verbum). Então, foi por seu jeito de ser, por palavras e ações, que Jesus mostrou ao mundo o rosto de Deus (uma comunidade que ama, um Deus que perdoa, que se faz um irmão de todas as pessoas).         

O Evangelho escrito por São João começa falando de Jesus como a Palavra que estava presente desde a criação, uma sabedoria que ilumina os povos, e também acreditamos que vêm ao encontro de todas as culturas. Essa Palavra então, cria, por meio dela própria, as coisas que existem e vivem. A Palavra que é uma pessoa, Jesus Cristo, tem então um lugar para viver, que é a comunidade dos que seguem o que Cristo pregou, e essas pessoas que escutam Deus falar, também devem espalhar para os outros o que Ele diz. Daí, uma outra palavra pode ser destacada, a palavra CATEQUISTA, porque fala daquela pessoa que faz a voz de Deus ser anunciada. A Palavra que é Jesus, sendo pessoa, pede de nós que possamos ir ao seu encontro.

Foto: Arquivo custodial.

João Batista, que os evangelhos apresentam como aquém que veio falar de Jesus e prepara o povo para ouvir sua voz, ou então, como aquela pessoa que prepara o roçado para boa semente, sabia que ele não era maior que a Palavra de Deus que ele anunciava. Desse modo, João é um modelo do jeito de ser catequista, porque é aquela pessoa que leva os outros para o caminho de Jesus (João 1, 6-28 e 1, 29-34). 

As palavras de Jesus falavam muito do lugar onde estava. Ele ensinava usando de fatos da vida daquela gente com quem vivia. Entre as coisas que Jesus usava para comparar a Palavra de Deus, estava a SEMENTE. Contou Jesus uma vez, que um homem responsável por jogar as sementes espalhou elas por muitos tipos de terreno, e algumas os pássaros comeram, outras caíram sobre pedras, mas, algumas que caíram em terreno bom, deram frutos (Mateus 13, 1-23).

Foto: Arquivo custodial.

 Outra vez, Jesus comparou a sua morte com a semente do trigo, que caindo na terra produz muito fruto. Precisamos lembrar que a semente representa a entrega de Jesus, sua humildade que o fez ser alguém que serve os outros, que o fez nascer como humano e ser crucificado (Filipenses 2, 6-11). Então, precisamos imitar a semente em sua entrega, que se torna planta, que com seus frutos alimentam as outras pessoas. Amar do mesmo jeito como Jesus é estar disposto a ser semente. 

As sementes de Deus são lançadas em muitos terrenos, o que pode representar que Deus não escolhe só um tipo de terra. Ele espalha sua semente pelo mundo todo, com seus povos e culturas diferentes. Dessa maneira, ouvindo sobre a Palavra e a Semente, percebemos que Deus fez da sua Palavra uma semente, e convida a todos nós para que espalhemos as suas sementes. Somos seguidores de um Deus-semeador que acolhe todas as culturas, e sabe que sua Palavra pode crescer e dar frutos nos lugares que cuidam das suas sementes.