Os jovens vocacionados à vida religiosa franciscana na região amazônica têm mensalmente se encontrado para momentos de animação vocacional. Esses momentos acontecem sempre no último domingo de cada mês, às 18h – horário de Brasília. Os jovens se encontram com os frades que compõem o Cuidado Pastoral das Vocações (CPV) para refletirem sobre um tema específico. O encontro de outubro foi realizado no dia 31 através do Google Meet. Além dos Frades, quatro jovens participaram desta edição dos encontros vocacionais. Eles são jovens que já estão sendo acompanhados pelos animadores vocacionais das fraternidades e que se conectam de diversos lugares da região amazônica. Por meio de uma pequena dinâmica de apresentação, o grupo pode conhecer um pouco sobre a vida de cada um.
Frei Erlison Campos, diretamente de Chicago (EUA), foi quem conduziu o encontro deste domingo que teve como tema “Vem e segue-me em obediência, pobreza e castidade”. A oração inicial foi embalada pelo canto “A palavra do Senhor” e pela proclamação da Palavra. A partir do Evangelho de São Marcos 10, 17-22, Frei Erlison, levou os jovens participantes a meditarem sobre os desafios de deixar tudo, sair da zona de conforto e seguir Jesus como pobre, casto e obediente.
De acordo com a meditação do assessor do encontro, antes que os “conselhos evangélicos” sejam algo que os discípulos de Jesus praticam, eles são algo que o próprio Jesus é. Eles são o que nós, como também os primeiros discípulos, vemos quando contemplamos aquele que morreu e ressuscitou. Quando os discípulos viram Jesus, seu mestre, lavando seus pés, ou o ouviram chorando sobre Jerusalém, ou o viram tomar todas as decisões nas profundezas da oração a seu Pai… viram o que muitos outros perceberiam depois deles: Jesus é o pobre, ele é o casto, ele é o obediente. Os gestos de Jesus, como no encontro com o jovem rico, mostram o olhar amoroso do Mestre e a entrega a qual todos são convidados a seguir. Jesus convida para uma entrega que não é uma adição, mas, um compartilhar da vida e de tudo que se tem.
A realização e alegria são vividas no desapego total. O homem, do qual o Evangelho referido fala, perde o tesouro do reino pelo apego aos bens terrenos. O esvaziamento e a busca pelo seguimento de Jesus se dão, particularmente na vida religiosa, na pobreza, obediência e castidade. Cristo é o maior sinal desses conselhos, que por ele foram vividos em profundidade.
Fiel à sua missão salvadora, Jesus “tornou-se obediente até a morte, morte de cruz” (Filipenses 2: 8). Ele permitiu que toda a sua vida e tudo nela procedesse das mãos de seu pai. O mesmo dom radical ilumina seu amor virginal – irrestrito, livre, fiel e exclusivo – por sua única Esposa, a igreja, por quem ele “se entregou” na cruz (Efésios 5:25). Não é menos evidente em sua pobreza, a disposição radical do filho de Deus de se tornar “pobre por sua causa”, mesmo morrendo para “que pela sua pobreza você se torne rico” em seu lugar (2 Coríntios 8: 9). Em tudo isso, vemos o único voto de amor de Jesus, as três dimensões do dom filial que expressa o amor do filho não apenas por nós, mas pelo Pai na unidade do Espírito Eanto”. O resultado da somatória dos três conselhos resulta no amor, afirmou o frade. Amar a Deus e ao próximo se ligam com os conselhos evangélicos. Na vida de Jesus se observa um entrelaçamento dessas três dimensões. Castidade, obediência e pobreza são indissociáveis e expressão do voto do Amor. Em suma, de acordo com a reflexão do frei Erlison, pobreza, obediência e castidade é igual a AMOR.
Obediência: nos lembra que Deus está fora e dentro de nós, um voto que nos remete a humildade. Precisamos abordar o mundo com um coração aberto e humilde ao mundo e aos outros. Em comunidade se busca não o caminho da arrogância e da escuta somente de si. “Quem obedece não erra” recordou o frade. A obediência é um sinal que aponta para Deus. Na correção fraterna temos um instrumento positivo para o crescimento no voto de obediência. Obediência por amor se desvela como um outro modelo de entrega.
O voto de pobreza: ou de simplicidade, recorda o amor descomplicado e incondicional de Deus, que de não põe barreiras. Nada pode nos interpor a Deus e ao serviço dos irmãos. Mais uma vez se recordou o desejo de poder do homem rico mencionado no Evangelho. A pobreza nos inspira gratuidade e generosidade. O sem nada de próprio é uma marca forte do franciscanismo. Esse voto consiste em não absolutizar os bens. Em vista da missão devemos colocar tudo.
A castidade: expressa o amor à fidelidade de Deus. Esse voto manifesta a honra das pessoas e ao Cristo nela. A gentileza, reciprocidade e respeito emergem no aprofundamento da vivência desse conselho evangélico. A castidade, em união com os demais votos, é oblativa, e sinaliza o amor sem reserva de Deus pelos seres humanos. Entregar-se de todo coração é um ponto muito central na vida franciscana.
Os jovens participantes puderam se engajar na reflexão através da socialização de algumas perguntas e respostas sobre a temática. Os vocacionados enfatizaram a importância desses votos. A interligação dos três votos foi destacada nas partilhas. Os votos foram apresentados como desafiadores se colocando como profecia diante da sociedade atual. As dificuldades no mundo presente questionam a vivência de cada um deles. A vida na contemporaneidade tem caminhos que muitas vezes desafiam a vida consagrada e se contrapõem aos votos religiosos. Todos pareciam ter muitas curiosidades sobre o tema, mas foram encorajados pelo Frei Erlison a se deixar mover pelo Espírito de Deus que nos dá as respostas no momento certo. O tema do seguimento de Jesus e a observação dos conselhos evangélicos é algo que é refletido por toda a vida daquele que ingressa na vida religiosa.
Frei Marcos agradeceu aos frades que preparam o encontro, Frei Erlison e Frei Vagner. Destacou ainda que a vivência dos votos é uma experiência de liberdade. Frei Erlison concluiu o encontro com uma oração temática vocacional, de autoria do monge Thomas Merton e com a bênção. Frei Marcos, retomou a palavra fazendo a despedida e informando que o próximo está previsto para o dia 28 de novembro, último do mês.
Frei Erlison Campos, OFM