Como pessoas de fé, todos nós rezamos e até sentimos a necessidade de rezar. Mas, por que rezamos e por que precisamos rezar? Muitas vezes sentimos a necessidade de rezar porque enfrentamos algum problema, na família ou de doença, ou fomos ofendidos e queremos nos livrar do rancor e do ódio. Pode ser também que sentimos uma grande insegurança na vida e precisamos pedir ajuda de Deus. Outro motivo, algo está errado na vida, tudo está dando ao contrário daquilo que queremos e precisamos pedir para Deus uma mudança nesta situação, ou simplesmente pedir a força de Deus. Também, pode ser que a vida ficou sem sentido e é necessário buscar a razão da nossa existência em Deus, assim queremos descobrir onde está Deus e entrar em sintonia com Deus. Talvez seja pelo fato que estamos buscando algo e não sabemos onde achar, por isso precisamos rezar.
De fato, a pergunta – “onde está Deus?” – acompanha todo aquele que crê, pois muitas vezes enfrentamos problemas, dificuldades, incertezas, somos tentados a fazer o mal, ficamos vazios e não sabemos onde achar Deus em nossas vidas.
No Exílio, antes do nascimento de Jesus, o povo perguntava: “onde está Deus?”. Longe de sua própria terra e do templo onde cultuava Deus, este povo estava sofrendo uma grande escravidão. Perdeu a sua identidade como povo, sentia a necessidade de rezar, de achar Deus porque existia um grande vazio na vida deles.
O autor de Deuteronômio responde: “Agora, Israel, ouve as leis e os decretos que eu vos ensino a cumprir, para que, fazendo-o, vivais e entreis na posse da terra prometida… guardai os mandamentos do Senhor vosso Deus… e os poreis em prática, porque neles está vossa sabedoria e inteligência perante os povos…” (Dt 4, 1.6). É justamente através destas leis e destes decretos que Deus se manifesta como um Deus fiel e grande que sempre está próximo do seu povo.
Mas não é qualquer lei – são leis e decretos justos que fazem brotar a justiça. Aí São Tiago diz: “A religião pura e sem mancha diante de Deus Pai é esta: assistir os órfãos e as viúvas em suas tribulações e não se deixar contaminar pelo mundo” (Tg 1, 27). Religião então significa solidariedade com os marginalizados e nos guardar sempre contra o mal da mentira, ganância, vingança e corrupção deste mundo. Diante de tudo isto, ainda continua a pergunta: “onde está Deus”?
Jesus nos ajuda a compreender: Para os fariseus e mestres da lei, Deus estava no cumprimento da lei da aparência: “Com efeito, os fariseus e todos os judeus só comem depois de lavar bem as mãos, seguindo a tradição recebida dos antigos” (Mc 7, 3). Jesus cita Isaias: “este povo me honra com os lábios, mas o coração está longe de mim. De nada adiante o culto que me prestam, pois as doutrinas que ensinam são preceitos humanos” (Mc 7, 6). E Jesus ainda diz que a maldade, os roubos, as mentiras e a ambição veem de dentro de nós e são eles que tornam o homem impuro. Em outras palavras, é preciso inverter a lógico do mundo, pois a lógica de Deus é diferente e somente podemos entender quando somos capazes de sermos praticantes da palavra e não meros ouvintes.
Então, a pergunta: “Onde está Deus e como achar Deus?”, é atual para nós hoje. Para muitas pessoas, o lugar para achar Deus é na igreja, mas será que podemos encontrar Deus em outros lugares?
Para sentir a presença de Deus em nossas vidas é necessário rezar e escutar a voz de Deus no nosso cotidiano. Rezar e entrar em sintonia com Deus, com sua vontade e suas palavras para que não sejamos meros ouvintes, mas praticantes da religião pura e sem mancha através da solidariedade e da vivência do amor enfrentando todas as maldades do mundo para descobrir que Deus sempre está do nosso lado. O salmista de hoje então responde nossa pergunta: “onde está Deus?”: “Senhor, quem morará em vossa casa e no vosso monte santo, habitará? É aquele que caminha sem pecado e pratica a justiça fielmente; que pensa a verdade no seu íntimo e não solta calúnias com sua língua. Quem em nada prejudica o seu irmão, nem cobre de insultos seu vizinho; que não dá valor algum ao homem ímpio, mas honra os que respeitam o Senhor”. (Sl 14(15) 2-4).
Frei Gregório Joeright, OFM