Setembro é o mês que dedicamos à Bíblia e lembramos que é a Palavra de Deus que orienta e é luz para todo aquele que quer viver a fé em Deus. Ouvimos, semana passada, na carta de São Tiago que não queremos “ser meros ouvintes da palavra, mas praticantes”. Para que isto aconteça, é preciso duas atitudes fundamentais: os olhos abertos para enxergar a realidade em que vivemos e os ouvidos atentos para ouvir os apelos de Deus diante desta realidade. São essas atitudes que nos ajudam a descobrir como podemos ser cristãos autênticos e praticar a Palavra que ouvimos diante de tantos desafios que enfrentamos no mundo.
No livro do profeta Isaias escutamos a promessa de Deus: “é Ele que vem para nos salvar. Então se abrirão os olhos dos cegos e se descerrarão os ouvidos dos surdos” (Is 35, 4b-5). Deus quer que o povo seja capaz de enxergar e escutar a sua palavra, assim a “terra árida se transformará em lago e a região sedenta em fontes de água” (Is 35, 7ª). Nós, porém, muitas vezes ficamos cegos e surdos diante da Palavra que Deus nos dirige. Isto acontece por causa do nosso próprio pecado, pois é o egoísmo que não nos permite enxergar o sofrimento ao nosso redor e nem escutar os apelos de Deus. É justamente nosso pecado que nos fecha no nosso próprio mundo, ficamos de ouvidos fechados diante da proposta de Deus e de coração fechado diante dos irmãos e do mundo.
Todavia, há também outros motivos que nos levam a rejeitar a voz de Deus. É a maneira como a sociedade está organizada. Neste mundo, o que conta é o lucro e o crescimento econômico e não a vida. A riqueza e o poder de alguns, enquanto uma maioria continua na exclusão. Quando somos influenciados por estas atitudes e só visamos o nosso próprio bem, ficamos de olhos fechados e ouvidos cerrados diante da proposta de Deus.
No Evangelho Jesus está diante de um mutilado na sociedade, um surdo e mudo que representa os excluídos de ontem e de hoje e que tem dificuldade em falar, pois a sua voz não é ouvida e nem escutado. Jesus nos mostra uma nova atitude. Não é somente curar o homem, mas recuperar a sua dignidade e o reconhecimento do seu valor e da sua missão. Jesus leva o homem para longe da multidão, lá com gestos ele toca nos ouvidos e na língua, e depois de pronunciar a palavra “Efata”, os seus ouvidos se abrem e a sua língua se solta. É a palavra que realiza a cura e transforma a vida. Esta mesma palavra “Efata”, é usada na cerimônia do Batismo para dizer que o cristão precisa abrir os ouvidos para ouvir e solta a língua para falar. Significa que a cura de Jesus é para todo o batizado.
Depois da ação de Jesus, o surdo mudo começa a divulgar o fato com muita insistência, pois é no anúncio da palavra e no testemunho da vida que todos podem reconhecer: “Ele tem feito bem todas as coisas”. Esta afirmação feita pelo povo que testemunhou a ação de Jesus nos lembra que, no ato da criação do mundo, Deus contemplava a sua obra e viu que tudo era bom, todas as coisas eram bem-feitas.
Falar da criação como obra de Deus é também lembrar da Amazônia que é um dos patrimônios naturais mais valiosos de toda a humanidade e a maior reserva natural do planeta. Hoje, 05 de setembro, é comemorada o dia da Amazônia. Conhecemos muito bem que a Amazônia é uma região abençoada por Deus, mas, apesar disto, é uma região mutilada pela ganância, pelo desrespeito e pela violência. Amazônia é o surdo e mudo que quer gritar, ser ouvido, é o excluído que grita: “A vida em primeiro lugar”.
Diante desta realidade, queremos ser curados por Jesus para enxergar a realidade mutilada pela ganância, para ouvir os apelos de Deus diante da realidade e para proclamar que toda a criação é obra de Deus, pois “ele fez bem todas as coisas”. Quando somos curados da nossa cegueira podemos manifestar nossa gratidão a Deus e assumir nosso compromisso de proclamar a Boa Nova de Jesus. Assim, vamos compreender as palavras do profeta Isaias: “A terra árida se transformará em lago, e a região sedenta em fontes de água”. (Is 35, 7a).
Frei Gregório Joeright, OFM