Como cristãos nós almejamos viver os valores do Evangelho e seguir fielmente Jesus. A igualdade, fraternidade e o espírito comunitário quando vivemos “uma só alma e um só coração” fazem parte destes valores. Mesmo assim, podemos dizer que a “sabedoria deste mundo” não está baseada nestes valores, mas na desigualdade. Na sociedade em que vivemos, existem pessoas mais importantes que outras e há alguns critérios que indicam quem é o mais importante diante dos outros.
Uma pessoa mais importante é sempre aquela que tem muita riqueza. O dinheiro dá a impressão de grandeza e privilégio, tornando uma pessoa rica em alguém mais importante que os outros. Uma segunda coisa é o poder, pois quem manda nos outros se impõe, e quem manda também domina e deve ser obedecido. Mandar e dominar é ser importante. Finalmente, o prestígio e a fama são o caminho para aqueles que querem ser importantes. Atores de novela, jogadores, cantores, todos querem alcançar a fama e o prestígio. Quem alcança isto se torna famoso, e, portanto, mais importante que os outros. As pessoas importantes sempre têm o primeiro lugar, preferência de tratamento, mais respeito e consideração. Ser importante é ter privilégio e tudo isto é a sabedoria do mundo.
As consequências desta lógica são muitas: na própria família isto cria divisões, conflitos, ciúme e até separações. Nesta situação há alguém que quer se impor e ser maior que os outros membros da família criando o clima em que um sempre quer ganhar o outro. É necessário lembrar que quando um ganha todos perdem. Na família não pode existir ganhador e perdedor, pois isto não é o amor. Também as consequências são evidentes no trabalho, onde existem discussões, críticas, ambições e rivalidades. A raiz de tudo isto é o desejo consciente ou inconsciente de ser o maior na busca de cargos, títulos, honrarias e elogios. Até na própria comunidade cristã existem conflitos pelo desejo de ser maior. São Tiago nos diz: “Onde há inveja e rivalidade, aí estão as desordens e toda espécie de obras más” (Tg 3,16).
No evangelho de hoje, Jesus, pela segunda vez, começou a ensinar os discípulos: “O Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens e eles o matarão. Mas, três dias após sua morte, ele ressuscitará” (Mc 9, 30). Com certeza a morte de cruz era um escândalo, reservada para os marginalizados e excluídos, os menos importantes e os desprezados na sociedade. Com o seu ensinamento e sua prática, Jesus estava na contramão.
Para os apóstolos este ensinamento não é compreendido, e, para eles, fora de qualquer possibilidade, pois ficaram em silêncio: “Eles, porém, ficaram calados, pois pelo caminho tinham discutido quem era o maior” (Mc 9, 34). Justamente, esta falta de compreensão se manifestou no caminho, pois eles estavam confusos pela sabedoria deste mundo e queriam buscar a posição de maior importância. Em outras palavras, queriam ter o melhor lugar com as honrarias e privilégios dos mais importantes. Jesus então dá uma grande lição, “Se alguém quiser ser o primeiro, que seja o último de todos e aquele que serve a todos” (Mc 9, 35). Para mostrar com mais clareza este ensinamento, Jesus pegou uma criança e colocou-a no meio deles e disse: “Quem acolher em meu nome uma destas crianças, é a mim que estará acolhendo” (Mc 9, 37). Jesus usou o exemplo de uma criança porque a criança não tem riqueza e nem posses, não tem poder de mandar em ninguém e não tem nem fama e nem prestígio. Em outras palavras, não tem importância na sociedade. De fato, nós não admiramos uma criança pelo poder, riqueza e sabedoria humana, mas pela simplicidade e a transparência. E este exemplo que Jesus usou para mostrar como nós devemos viver neste mundo, não seguindo a sabedoria do mundo, mas a lógica de Deus e o seu Reino.
Este gesto significativo de pegar uma criança, símbolo dos pequenos e indefesos, nos ensina uma grande lição: a grandeza e a importância do discípulo se manifestam quando ama, abraça e serve os pequenos e desprotegidos. Esse ensinamento também nos oferece critérios e orientações para as nossas ações diárias, jamais devemos agir orientados pela sabedoria do mundo, isto é, pela tentação do domínio sobre os irmãos, dos sonhos de grandeza, da conquista de honrarias e privilégios, de títulos e prestígios. O cristão deve colocar em prática o espírito de serviço e deve passar por um processo de mudança de mentalidade, renunciando aos esquemas e propósitos egoístas e aderindo à proposta de servir a todos, como servo de todos. Assim, não será a rivalidade, a inveja e a grandeza que vão orientar nossa vida, mas as palavras de Jesus: “Quem acolher em meu nome uma destas crianças, é a mim que estará acolhendo. E quem me acolher, está acolhendo, não a mim, mas àquele que me enviou” (Mc 9, 37).
Frei Gregório Joeright, OFM