Tapiri da Palavra: 26º Domingo do Tempo Comum – Ano B

 

Todos os dias falamos muitas palavras e muitas vezes sem perceber o peso de cada palavra. As nossas palavras podem destruir uma pessoa, um projeto ou uma esperança, ou podem construir, ajudar alguém, dar esperança, encorajar, alegrar. Uma palavra pode fazer chorar, por exemplo, a notícia da morte de algum parente ou amigo, ou pode trazer alegria, a notícia do nascimento de um filho ou neto. Uma palavra pode provocar o ódio e a vingança, ou o amor e o perdão.

Hoje celebramos o dia da Bíblia, o dia que recordamos a importância da Palavra de Deus para o cristão. A Bíblia é de suma importância, pois nos guia, orienta e é a revelação de Deus para nossa vida. Oferece uma luz para as mais diversas situações que enfrentamos no dia a dia e ela pode ser proclamada por quem Deus quer, não é propriedade de ninguém. Podemos dizer que Deus usou a palavra porque é o primeiro passo para a ação. É a palavra que penetra na mente e é o pensamento que leva os pés e as mãos para a ação. Por isso, podemos dizer que é a Palavra de Deus que fecunda e gera vida, pois em Jesus a Palavra habitou entre nós e se tornou homem, se encarnou.

Mas, de fato, como é que a Palavra gera a vida? O Evangelho de hoje é um bom exemplo. Escutamos, semana passada, como os discípulos discutiam entre eles quem era o mais importante. Agora, eles queriam mostrar o poder através da proibição de expulsar demônios de pessoas que não faziam parte do grupo deles. Neste momento Jesus continua ensinando os seus discípulos: “Quem não é contra nós é a nosso favor. Em verdade eu vos digo: quem vos der a beber um copo de água, porque sois de Cristo, não ficará sem receber sua recompensa” (Mc 9, 40). Estar a favor de Jesus e seu projeto é justamente expulsar o mal das pessoas para implantar os valores do Reino: a justiça, a partilha e a fraternidade.

A palavra de Jesus também é bem clara sobre o mal que deve ser expulso. Primeiramente é o interesse próprio e os desejos de acúmulo que o olho enxerga. Depois é o caminho do individualismo que o pé anda, e finalmente, é a força que a mão usa para dominar os outros. Justamente são as três partes do corpo: olho, pé e mão que podem levar para a ganância, individualismo e a dominação sobre os outros.

Para Jesus, é preciso expulsar este mal do nosso meio, e é no seguimento da sua palavra que isto acontece, pois é pela vivência desta palavra que encontramos o caminho que leva a vida. São Tiago também nos ajuda como alcançar a vida, pois ele nos alerta sobre o acúmulo das riquezas: “E agora ricos, chorai e gemei, por causa das desgraças que estão para cair sobre vós. Vossa riqueza está apodrecendo, e vossas roupas estão carcomidas pelas traças. Vosso ouro e prata estão enferrujados…” (Tg 5, 1-3). Pelo contrário, o que gera a vida é a prática da justiça.

Assim, podemos descobrir o sentido das palavras de Jesus: arrancar o olho significa que os nossos olhos não podem fitar somente nossos próprios desejos, mas precisam estar atentos para as dificuldades e necessidades dos outros, e assim que nossos olhos possam se encher da luz de Jesus; cortar o pé significa que não devemos seguir o caminho do individualismo, mas ter a capacidade de caminhar como irmãos em comunidade e superar a tentação de sermos individualistas; cortar a mão significa não usar nossas forças para explorar os outros, mas estender a mão para construir um mundo de justiça e igualdade pela prática da partilha.

Como nossas palavras podem ferir ou curar, matar ou favorecer a vida, devemos refletir e reconhecer como a força da palavra de Deus possa agir em nossas vidas. Jesus nos ensina que a abertura à sua Palavra é abertura do Espírito em nossas vidas. Abrir para o Espírito é a capacidade de arrancar da nossa vida a raiz do mal para enxergar o bem, caminhar juntos e agir de acordo com a Palavra que gera vida.

Por: Frei Gregório Joeright, OFM
Arte: Frei Fábio Vasconcelos, OFM

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