A liturgia proposta para este domingo é uma reafirmação da vocação de todos nós: a vivência do amor. Hoje em dia, falamos muito sobre o amor e sabemos que todas as pessoas querem ser amadas e respeitadas, mas, de fato, será que compreendemos o que é o verdadeiro amor.
Podemos dizer que o amor passa por três diferentes dimensões: primeiro, a paixão que é um intenso desejo por uma outra pessoa; depois, a intimidade que é compartilhar com uma outra pessoa os sentimentos, pensamentos, interesses e sonhos; e finalmente, o compromisso que é a disposição de ficar com uma pessoa em todos os momentos, tanto os bons como os maus, tanta nas dificuldades como nas alegrias.
A partir deste entendimento, nós refletimos a primeira leitura que relata a criação do homem e da mulher. Este relato nos faz compreender que o ser humano só encontra a sua plenitude na relação com o outro onde cada um é diferente, mas, ao mesmo tempo, igual. Ao tirar a mulher da costela do homem, Deus mostrou que os dois são iguais na sua dignidade e na vocação do amor: “Desta vez, sim, é osso dos meus ossos e carne da minha carne!” (Gn 2, 23). É uma afirmação que exclui toda possibilidade de controle, domínio, desigualdade de um sobre o outro. É do lado do coração do homem que nasce a mulher e os dois se tornam companheiros e iguais.
No evangelho, os fariseus fazem a pergunta sobre o divórcio. A pergunta não é feita porque não sabem da resposta, mas porque querem pegar Jesus em contradição. Naquele tempo era permitido que o homem fizesse uma certidão de divórcio a partir de qualquer motivo. Para a mentalidade da época, era o homem que dominava a mulher e ela era considerada como propriedade. A resposta de Jesus busca a vocação humana desde a criação: “Foi por causa da dureza do vosso coração que Moisés vos escreveu este mandamento. No entanto, desde o começo da criação, Deus os fez homem e mulher. Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e os dois serão uma só carne. Portanto, o que Deus uniu, o homem não separe!” (Mc 10, 5-9). Para Jesus a lei deve estar a serviço da vida e não o contrário. O casamento então deve se basear no plano de Deus, estabelecendo a igualdade entre o homem e a mulher. Jesus condena a atitude de dominação e restabelece o direito igual. Neste sentido, o homem e a mulher vivem o verdadeiro amor que é de acordo com o ideal proposto por Deus. Assim, viver conforme este ensinamento de Jesus é compreender que o amor passa primeiramente pelo desejo de conhecer o outro, depois na vivência da partilha dos sentimentos e pensamentos na intimidade e finalmente no compromisso por toda a vida.
Jesus exemplifica o seu ensinamento quando Ele vai para casa com seus discípulos. A casa representa a comunidade onde deve existir o verdadeiro amor entre todos. Para isto a casa precisa ser o lugar de acolhimento, do diálogo, do discernimento e do perdão. O acolhimento significa que cada pessoa é aceita como ela é. Acolher o outro é compreender a diferença que existe, mas também aceitar esta diferença que é o primeiro passo para a partilha dos sentimentos, pensamentos e sonhos. O diálogo é a capacidade de ouvir o outro que leva à compreensão. Compreender o outro é viver a intimidade, pois é na compreensão que estabelece os verdadeiros valores da igualdade. O discernimento é descobrir o caminho que deve ser sempre a partir dos dois. É quando os dois descobrem o caminho para resolver as dificuldades que o compromisso de vida se firma cada vez mais. Finalmente, sem o perdão não pode existir o amor. Perdoar é a capacidade de dizer que sim, fiquei magoado e sentido, mas sou capaz de perdoar para viver o verdadeiro amor.
No final do evangelho, as crianças foram trazidas para que Jesus as abençoasse. Os discípulos mostravam uma atitude de exclusão, pois as repreendiam. Jesus, pelo contrário, se aborreceu e disse: “Deixai vir a mim as crianças. Não as proibais, porque o Reino de Deus é dos que são como elas” (Mc 10, 14). Jesus deu prioridade às crianças, pois compreendia a casa como o lugar da acolhida, do abraço e da benção. Assim, nossos lares, de acordo com o ensinamento de Jesus, devem ser o lugar da acolhida e do perdão onde todos, pais e filhos, recebem a benção de Deus. Viver o verdadeiro amor no matrimônio é assumir o compromisso de união e fidelidade em todas as situações para, assim, cumprir o plano de Deus.
Por: Frei Gregório Joeright, OFM
Arte: Frei Fábio Vasconcelos, OFM