Depois de entrarmos no deserto da nossa existência com o Mestre Jesus para vencermos as tentações da nossa vida, continuamos nossa subida rumo ao Calvário, no nosso retiro quaresmal, a fim de ressuscitarmos com Ele. Nesse segundo domingo da quaresma, somos convidados a subir a montanha sagrada com Jesus e nos deixar transfigurar com Ele, isto é, transformar as realidade de pecado de nossa vida.
O evangelista Lucas apresenta Jesus em diversos momentos em oração, principalmente quando este deve tomar uma decisão. O relato da transfiguração é uma dessas passagens que atestam esse fato. Nesse relato, Jesus convida três de seus discípulos, Pedro, João e Tiago para entrarem em oração com Ele. O porquê dessa escolha não fica claro na passagem. Mas, podemos deduzir da relação deles com o Mestre, que estes estavam precisando fazer uma parada de oração para compreenderem um pouco melhor a missão de Jesus e seu coroamento na cruz.
Na oração Deus se revela e vem ao nosso encontro. Pela oração íntima com Deus nos desvelamos, ou seja, saímos de nós mesmos para estar com Deus e com os irmãos e irmãs. E nesse sentido a oração intima com Deus faz acontecer a mudança em nossa vida. É preciso vez ou outra fazer uma parada em nossa vida agitada para estar com Deus. Somente com essa parada poderemos compreender os desígnios de Deus e tantas outras situações desafiantes da nossa caminhada. Os três discípulos que acompanharam Jesus estavam de fato precisando dessa parada, uma vez que estavam confusos sobre a entrega e morte de Jesus na cruz.
Durante essa quaresma, nós também, estamos tendo essa oportunidade privilegiada de parada obrigatória de tempos de silencio e recolhimento. É preciso fazer essa parada para escutar Deus e seu filho Jesus. Somente no silêncio e em oração podemos encontrar forças e voltarmos animados para a missão. Claro que assim como Pedro, podemos ficar maravilhados e tentados a querer viver no monte. Quando fazemos uma experiência forte do encontro com Deus em oração, seja um retiro ou outro momento orante, nossa tendência é querer não mais sair dali. No entanto, a parada tem somente o objetivo de dar um novo vigor para enfrentarmos com coragem o que virá pela frente. Jesus ao se transfigurar diante dos discípulos nos ensina isso e apesar dos três não terem compreendido muito bem naquele momento essa realidade, só mais tarde, depois da ressurreição o compreenderam; Jesus os motiva a descer e continuar a caminhada.
Esse fato tem muito a nos dizer. Não são poucas as vezes que nós queremos chegar ao céu e a glória eterna sem abraçar a cruz e o sofrimento. Só que para chegar ao céu é necessário carregar a cruz. É indispensável em nossa vida de cristãos encontrar o equilíbrio entre momentos de oração e de ação. Paradas e recomeços são necessários para um renovado vigor e ânimo.
Que a presença do Espírito de Jesus nos ajude a seguirmos firmes em nossos propósitos quaresmais, mesmo quando o desanimo chegar e assim perseverantes contemplaremos um dia em definitivo a gloria eterna que nos aguarda.
– Texto: Frei Haroldo Pimentel, OFM.
– Arte: Frei Fábio Vasconcelos, OFM.