Estamos chegando ao fim do ano litúrgico e semana que vem celebramos a festa do Cristo Rei do Universo e depois começamos o novo ano litúrgico com o primeiro domingo do Advento. A liturgia deste domingo então nos fala dos fins do tempo: “Naqueles dias, depois da grande tribulação, o sol vai escurecer, e a lua não brilhará mais, as estrelas começarão a cair do céu e as forças do céu serão abaladas” (Mc 13, 24). Jesus fala de coisas desastrosas que vão acontecer depois da grande tribulação. O que foi esta grande tribulação? Lembramos que São Marcos escreveu seu Evangelho para os primeiros cristãos da segunda geração, pessoas que não tinham visto, nem conhecido Jesus. Aderiram à fé por causa do testemunho dos apóstolos, abraçaram a causa de Jesus, mas enfrentaram grandes dificuldades e começaram a desanimar e até querer desistir. A grande tribulação foi justamente a destruição do Templo de Jerusalém pelos Romanos. Este acontecimento foi um grande abalo na vida do povo, não somente para os judeus, mas também para a comunidade cristã.
Então Marcos projeta para o futuro aquilo que já estava acontecendo e ele fez isto por uma razão, para dar sentido aos acontecimentos. Diante de tanto sofrimento, o povo andava perguntando: por que está acontecendo tudo isso? Por acaso ou tem alguma explicação? Como devemos agir diante dos acontecimentos? Tem esperança?
A resposta que Marcos dá é que o povo pode buscar o sentido dos acontecimentos no seguimento de Jesus e que, através da sua palavra, o cristão pode enfrentar as dificuldades e vencer o mal: “O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não passarão” (Mc 13, 31). A parábola da figueira confirma esta esperança, pois quando começam a brotar os seus ramos, dá sinal de que o inverno está no fim e o verão está chegando. É o fim de um período, embora sombrio, cheio de dificuldades e aflições, mas que dá início a um tempo novo, cheio de esperança e expectativas de uma vida nova, pois sempre haverá possibilidade de um recomeço.
Por isso, podemos dizer que é Jesus que nos revela o sentido da nossa existência: “Todo sacerdote se apresenta diariamente para celebrar o culto, oferecendo muitas vexes os mesmos sacrifícios, incapazes de apagar os pecados. Cristo, ao contrário, depois de ter oferecido um sacrifício único pelos pecados, sentou-se para sempre à direita de Deus” (Hb 10, 11-12). Este sacrifício único de Jesus levou à perfeição definitiva e nos prepara também para a batalha contra o mal. Por isso, por causa da fé e pelo seguimento de Jesus, nós também podemos brilhar para vencer as trevas deste mundo: “Os que tiverem sido sábios, brilharão como o firmamento; e os que tiverem ensinado a muitos homens os caminhos da virtude, brilharão como as estrelas, por toda a eternidade” (Dn 12, 3). É isto a nossa esperança diante dos abalos da vida. A nossa certeza é que, pela fidelidade à palavra que nunca passará, nós podemos enfrentar as dificuldades na vida e até construir o novo.
Interessante constatar como a humanidade tem uma fixação com o fim do mundo. Parece mais fácil temer as coisas do futuro do que nos preocupar com os acontecimentos de hoje. Talvez tudo isto para nos tirar do verdadeiro sentido da nossa existência e da vivência da fé. A liturgia de hoje nos ensina que a pessoa de Jesus e a sua palavra são para nós, como também para os primeiros cristãos, a nossa esperança. Continuam nos oferecendo o caminho que devemos seguir e aquilo que devemos esperar.
Por isso, devemos lembrar que a nossa fé não se baseia no medo e nem no castigo. Há pessoas de outras igrejas que querem nos meter o medo, falando do apocalipse e do castigo eterno e até nos engando para conseguir mais adeptos para sua própria igreja. Nossa fé se baseia na vivência do amor e da partilha, quem vive isto não terá medo do fim do mundo e nem do castigo. A palavra de Jesus não passa e é preciso ouvir, meditar e orientar nossa vida por ela. Bendito seja quem a vive, pois nunca perderá a esperança. Estamos também em tempos muito sombrios: uma pandemia que ainda nos afeta, uma crise econômica que aumento a pobreza e a miséria, os conflitos entre pessoas e países com guerras violência e refugiados e a crise climática pela ganância humana que aumenta o risco de desastres naturais e até o fim da humanidade. O que fazer diante disto? Há esperança?
O sentido da liturgia de hoje é justamente para nos questionar sobre nosso compromisso cristão. Devemos avaliar a nossa maneira de ser cristão, pois podemos ser quem procura contribuir para que muitos cheguem mais facilmente a Deus ou, pela nossa ação, contribuir para que reine no mundo a injustiça, a maldade, o erro. Como cristãos queremos construir o Reino, é este Reino que renova tudo e é por este Reino que podemos descobrir o sentido da vida e o verdadeiro compromisso cristão.
Por: Frei Gregório Joeright, OFM
Arte: Frei Fábio Vasconcelos, OFM