“O Senhor é bondoso e compassivo!”
O refrão do salmo responsorial deste domingo, Salmo 102 (103), 1-2.3-4.8.11, recolhe a mensagem central da Palavra de Deus que nos é oferecida em nosso caminho quaresmal. Deus se revela como o Ser por excelência, que percebe quem se aproxima d’Ele, e percebe toda a realidade carregada por quem se aproxima, no caso, Moisés. Deus se revela como alguém que vê, que escuta, que sente e conhece os sofrimentos e a aflição do seu povo. Nada da realidade trazida por Moisés escapa de seu conhecimento. É o Deus da vida que fala com Moisés do meio da sarça ardente, que revela toda a sua indignação diante da escravidão e maus-tratos a que é submetido o seu povo. Não somente vê a condição de sofrimento e aflição, não somente conhece esta realidade, mas desce para libertar o seu povo dessa condição desgraçada em que se encontra. Não se omite, nem somente envia seu emissário para anunciar a libertação, não o deixa só nesta missão, mas promete estar com o seu missionário da libertação. O Deus que se revela a Moisés, no ardor da sarça, no coração do deserto, é o Deus dos vivos e não dos mortos, como Jesus vai lembrar em suas respostas aos saduceus, que não acreditavam na ressurreição. É o Deus de Abraão, de Isaac, de Jacó… O nome de Deus o revela não somente como o Ser por excelência e fonte de todo ser, mas também como o Deus da vida!
O Salmo responsorial sempre nos dá ganchos ou pontes para fazermos a ligação entre todas as passagens da Palavra de Deus que a Igreja nos oferece a cada domingo. O Senhor é bondoso e compassivo para conosco e, de nossa parte, somos exortados a viver em fidelidade a Ele, nutrindo-nos de Sua Palavra, reavivando continuamente a nossa fé e compromisso, mediante um caminho ininterrupto de conversão, cuidando para manter-se sempre de pé. Assim nos exorta o Apóstolo na epístola aos Coríntios.
Jesus nos revela a bondade e compaixão de Deus para conosco, lembrando-nos que mesmo as situações de infortúnios, perseguições, sofrimentos e tribulações não devem ser interpretadas como castigos de Deus por causa dos pecados. Isso seria atribuir a Deus situações que resultam mais das maldades dos seres humanos e de suas escolhas erradas. As vítimas das situações de tribulações, sofrimentos e até mesmo de tragédias nunca devem ser julgadas sem mais nem menos como se fossem responsáveis pelos próprios infortúnios. Estes julgamentos frequentemente soam como injustiça contra as vítimas. Ninguém pode se considerar melhor ou menos pecador dos que os outros por ser poupado de situações de sofrimento e de dor. Mas todos devem se lembrar da necessidade de viver em estado de conversão: “Mas, se não vos converterdes…”. No final de tudo, Jesus nos revela a paciência de Deus para conosco. Jesus é o cuidador da figueira e acredita na possibilidade de sua conversão em uma árvore frutífera. O adubo é a Palavra de Deus, que alimenta a nossa oração e nos irriga o coração com seu amor, concretizado em bondade e compaixão, que são eternos. Deus é paciente, bondoso, compassivo e amoroso para conosco. E nós, como correspondemos ao amor e fidelidade de nosso Deus para conosco? E em relação aos nossos irmãos e irmãs, como anda a nossa paciência, bondade e compaixão? A nossa experiência de Deus, de intimidade com o Cristo e sua Palavra, fará arder o nosso coração e nos transformará em imagens vivas d’Aquele que nos envia ao encontro uns dos outros. Vamos continuar a viver a nossa caminhada quaresmal com os exercícios da oração, da caridade e do jejum, que nos fortalecem no caminho de conversão.
– Texto: Frei Edilson Rocha, OFM.
– Arte: Frei Fábio Vasconcelos, OFM.