Tapiri da Palavra: 4º Domingo da Quaresma – Ano C

“Ó Deus, que por vosso Filho realizais de modo admirável a reconciliação do gênero humano, concedei ao povo cristão correr ao encontro das festas que se aproximam cheio de fervor e exultando de fé…” A oração da coleta – isto é, aquela primeira oração da Eucaristia – que se chama assim justamente por recolher todas as intenções da assembleia orante, ali presente.  Além de colher as orações de todos os corações presentes, esta oração também já nos indica a mensagem central da Palavra de Deus que logo mais se ouvirá.

Assim, neste quarto domingo da quaresma, está expressa na oração da coleta o nosso reconhecimento da infinita e admirável misericórdia de Deus, que nos acolhe e nos abraça de novo como filhos e filhas muito amados, mediante o perdão e a reconciliação oferecidos a toda a humanidade, no Filho amado: “Aquele que não cometeu nenhum pecado, Deus o fez pecado por nós, para que nele nós nos tornemos justiça de Deus.” (2Cor 5, 21). A oração também expressa o sentido do domingo laetare, a alegria e exultação com que somos convidados a correr ao encontro das festas que se aproximam, pois este domingo nos deixa mais próximos da festa da Páscoa! Festa da nossa redenção.

Jesus nos ensinava, no domingo passado, que todos precisamos nos converter. Reconhecer-nos pecadores e necessitados do perdão de Deus e de reconciliação. Pois muitas pessoas olham para os outros e pensam que são os outros que precisam de perdão, de reconciliação, de conversão. Esta postura reflete o pensamento mesquinho de quem se julga melhor do que as outras pessoas. Mais que mesquinha, a atitude de se julgar melhor é desmascarada por Jesus como hipocrisia.

A parábola do filho pródigo, contada por Jesus para responder às críticas dos fariseus e mestres da lei, revela como Deus é um pai misericordioso, que se alegra e faz festa por um filho pecador, perdido, mas que retorna arrependido para a casa de onde saiu, em busca do perdão e do abraço acolhedor do pai. As críticas daquelas pessoas religiosas devotas revelam toda a sua mesquinhez e hipocrisia. Não admitiam que Jesus se misturasse com a gente considerada por eles como “desgraçada, pecadora e impura”. Pareciam ignorar a misericórdia divina, tantas vezes experimentada pelo povo de Deus em momentos cruciais da sua história. Pessoas religiosas e devotas, mesquinhas e hipócritas como os fariseus e escribas do tempo de Jesus, continuam a olhar com desprezo para os irmãos e irmãs, que como o filho perdido da parábola, buscam arrependidos ou desejosos de conversão, retornar ao abraço reconciliador do pai, que festeja a volta de quem estava perdido e mergulhado na lama fétida do pecado.

O irmão mais velho, que aparentemente estava mais próximo do pai, revela a distância imensa que na verdade os separava. Ele chega a ser duro e exigente com o pai, na mesma medida em que manifesta o desprezo e dureza em relação ao irmão, que ele trata como se não o fosse: “esse teu filho”. Este irmão mais velho simboliza as pessoas que, como os fariseus e mestres da lei, tentam sequestrar Deus a favor de seus interesses mesquinhos. Mas Deus não se deixa manipular por ninguém. O irmão mais velho é convidado pelo pai a se alegrar e festejar pelo irmão que estava morto e tornou a viver, estava perdido e foi encontrado. A parábola termina por aí. Não se sabe se o filho mais velho mudou de atitude ou não. Mas fica a certeza de que ele, como todos nós, é convidado ao perdão, à reconciliação, à conversão. Não podemos nunca nos iludir com uma falsa convicção de somos melhores do que os nossos irmãos e irmãs mais frágeis e supostamente mais pecadores do que nós. Ninguém é melhor do que ninguém, diz um ditado popular. Todos somos pecadores, necessitados de conversão, perdão, reconciliação.

A Igreja também recebeu o dom de perdoar e reconciliar. O tempo quaresmal também é um momento propício para celebrar esse dom, no sacramento da penitência como preparação para a Páscoa. Que nossas comunidades e nossos ministros favoreçam a quem desejar, a celebração deste sacramento tão vital para nos guardar na paz da reconciliação conosco mesmos, com os irmãs e irmãs e com o nosso Deus, que é bom!

 

– Texto: Frei Edilson Rocha, OFM.

– Arte: Frei Fábio Vasconcelos, OFM.

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