Nós sempre damos significado às coisas, aos objetos e aos acontecimentos. É essencial para o ser humano descobrir o sentido da vida, queremos sempre uma explicação: por que este fato aconteceu? Quais as propriedades daquele objeto? O que isso significa para mim? Ao mesmo tempo, muitas vezes o sentido que damos para as coisas é muito subjetivo, pois depende do nosso ponto de vista. Pode, por exemplo, perguntar o que significa o Rio Amazonas para o ribeirinho e o pescador e ele vai responder: “O rio é minha vida, é por meio dele que chego de um lugar para o outro e tiro o meu sustento”. Agora faz a mesma pergunta para o dono do arrastão e da geleira e ele vai responder: “É dele que posso ganhar muito dinheiro”. Várias pessoas poderiam ir para a praça na frente da cidade e ver o Rio Amazonas e toda a sua beleza. Cada pessoa pode dar sua própria explicação, mas para quem tem fé e acredita em Deus, esta pessoa vai contemplar e dizer que é obra de Deus. E por ser obra de Deus, o rio também é um mistério: olhamos na superfície, mas não enxergamos por baixo, o que acontece dentro do rio continua fora do nosso alcance.
Também para os judeus o mar era um grande mistério, as águas profundas comunicavam-se com a mansão dos mortos e as forças do mal. Os monstros marinhos habitavam as águas mais profundas e os perigos dos ventos reforçavam a ideia de que o mar representava o mundo da morte e do mal.
Jesus dá um novo sentido não somente ao mar, mas também para os discípulos, quando ele faz o desafio: “Avancem para as águas mais profundas e lançai vossas redes para a pesca” (Lc 5, 4). Jesus, do barco, ensina a multidão e ele manda levar o barco para um lugar mais profundo onde o perigo é maior. Justamente, é em atenção à sua palavra que acontece a pesca milagrosa. E Jesus dá um novo sentido às coisas, não de acordo com nosso ponto de vista ou dos nossos critérios, mas do ponto de visto dos critérios de Deus. É nas águas mais profundas que deve acontecer a pescaria que é anunciar o Reino, vencendo assim todo medo. Isto significa que pescar é tirar as pessoas do mundo da morte e oferecer a vida. O barco se torna a própria comunidade com a missão de avançar. Pedro é todo discípulo que em atenção à palavra, se torna pescador de gente e dá um novo sentido à própria vida: “Não tenhais medo! De hoje em diante tu será pescador de homens. Então, levaram as barcas para a margem, deixaram tudo e seguiram a Jesus” (Lc 5, 19-11).
Isaías estava no templo, onde rezava os salmos. Lá, ele via a Arca da Aliança com os querubins. Fez uma experiência de Deus e compreendeu a sua vocação, é Deus que chama: “Ouvi a voz do Senhor que dizia: Quem enviarei? Quem irá por nós? Eu respondi: Aqui estou! Envia-me” (Is 6,8). Assim, Isaías, pela fé e pela atenção à palavra, deu um novo sentido à sua vida.
São Paulo era grande perseguidor da Igreja, mas no encontro com Jesus muda todo o rumo da vida dele. O novo sentido que ele descobre é que Cristo, morto e ressuscitado, é o fundamento da fé, razão da nossa existência, motivo da missão de pregar e anunciar o Reino.
Quando olhamos o rio, podemos atribuir a ele muitos sentidos, como também podemos atribuir à nossa própria vida vários sentidos. Para o cristão, é Jesus que dá este sentido: é reconhecer que todos somos chamados, e a nossa vocação e missão é nos dedicar para tirar a humanidade do domínio da morte. E Ele chama todos: é como pescadores que Jesus chama os pescadores, como lavradores que Jesus também chama os lavradores; pedreiros, cozinheiras ou donas de casa, como tais Jesus chama a todos. Cada qual deve ser chamado de acordo com o seu lugar e seu estilo de vida.
Por isso, todos nós estamos no barco da comunidade para lançar as redes no ambiente onde nós vivemos e trabalhamos. Nossa missão é para caminhar juntos na construção do Reino, dando novo sentido à vida das pessoas e da própria existência da humanidade, não de acordo com nosso ponto de vista ou critérios, mas de acordo com os critérios de Deus. Isto é justamente o grande desafio para avançar para as águas mais profundas. Diante deste grande desafio, quando escutou a voz de Deus: “Quem enviarei, quem vai por nós?” Isaías respondeu: “Envia-me, aqui estou”. Qual será nossa resposta e qual o sentido que vamos dar para nossa vida?
Por: Frei Gregório Joeright, OFM
Arte: Frei Fábio Vasconcelos, OFM