Já pensou o que seria a nossa vida se não existisse confiança? Nenhum de nós faria compras, porque, ao pagar, não teria a certeza de que ia levar o produto. As pessoas não contariam as suas dificuldades ou problemas para outras pessoas, porque não teriam a certeza de que o segredo seria mantido. Não existiria o matrimônio, porque os casais não confiariam na existência do amor e da fidelidade por toda a vida. Não sairiam de casa para o trabalho porque não saberiam se ainda tinham emprego ou não. Não teriam fé, porque não confiariam na existência de Deus. Em outras palavras, nossa vida seria um caos. Talvez a vida nem existiria.
Afinal, o que é a confiança? É mais que simplesmente acreditar naquilo que o outro diz. É ir além. A confiança nos dá possibilidade de nos comprometer, não somente porque acreditamos, mas porque temos esperança de que vai acontecer o que acreditamos.
São Paulo, na sua carta aos Coríntios, nos lembra que é em Cristo ressuscitado que colocamos a nossa esperança: “Se é para esta vida que pusemos a nossa esperança em Cristo, nós somos – de todos os homens – os mais dignos de compaixão. Mas, na realidade, Cristo ressuscitou dos mortos como primícias dos que morreram” (1Cor 15, 19-20). Portanto, a ressurreição de Cristo é a razão de nossa confiança na realização das promessas de Deus.
Na mesma linha temos as palavras de Jeremias: “Maldito o homem que confia no outro homem e faz consistir sua força na carne humana, enquanto o seu coração se afasta do Senhor; como os cardos no deserto, ele não vê chegar a floração, prefere vegetar na secura do ermo, na região salobra e desabitada” (Jr 17, 5-6). Mas, pelo contrário, Jeremias exalta aquele que confia no Senhor e que espera que Deus vai cumprir as suas promessas: “Bendito o homem que confia no Senhor, cuja esperança é o Senhor; é como a árvore plantada junto às águas, que estende as raízes em busca da unidade” (Jr 15, 7-8). Quando Jeremias fala em confiar e ter esperança em Deus, significa conformar nossa vida de acordo com o projeto de Deus, produzir os frutos da bondade que são capazes de suscitar confiança nos outros e transformar a vida.
É justamente esta confiança que Jesus indica quando anuncia as Bem-Aventuranças. Jesus diz exatamente o contrário que a sociedade vive. Para a sociedade, a pessoa deve colocar a sua confiança nas riquezas, na fama, no poder e nos elogios. Para Jesus, os bem-aventurados são os pobres, os que choram, os que tem fome, os que são odiados por causa de Jesus. Em outras palavras, os que põe a sua confiança no projeto de Deus.
Na prática, para os cristãos, no dia de hoje, o que significa colocar nossa confiança unicamente em Deus?
Certas Igrejas, como por exemplo, a Universal, divulgam a teologia da prosperidade, que prega que o sinal da bênção de Deus é ser próspero, resolver os problemas pessoais, ter bens materiais. No fundo, conforme esta mentalidade, confiar em Deus significa confiar na sua própria riqueza. Enquanto várias Igrejas pregam isto, o pensamento de Jesus é o contrário. Os pobres, os que sofrem a fome e a injustiça são abençoados porque confiam e esperam no cumprimento da vontade de Deus. Esta confiança não é somente para a vida eterna no céu, mas também para a nossa vida, aqui e agora, justamente como rezamos: “Assim na terra como no céu”.
Então ter confiança em Deus é direcionar nossa vida. É apostar que o bem que fazemos, o amor que vivemos, a partilha que realizamos vão frutificar e os frutos de todos aqueles que confiam no Senhor vão multiplicar de tal maneira que a vinda do Reino de Deus, a nossa esperança, de fato vai acontecer. Por isso, vamos lembrar o refrão do salmo de hoje: “É feliz quem a Deus se confia”.
Por: Frei Gregório Joeright, OFM
Arte: Frei Fábio Vasconcelos, OFM