Tapiri da Palavra: 8º Domingo do Tempo Comum – Ano C

Uma frase que escutamos quase todos os dias nas notícias é “fake news”. São palavras em inglês e traduzidas significam “notícias falsas”. Estas “notícias falsas” estão presentes em todos os meios de comunicação: na imprensa, na mídia e propaganda, na internet, nos grupos de WhatsApp, enfim, presente na comunicação diária, tanto aquilo que recebemos dos outros como aquilo que transmitimos para os outros. Por que existem estas “notícias falsas”? Por trás destas notícias existem interesses de grupos e de pessoas que querem enganar para continuar no poder e favorecer seus próprios interesses. São interesse de riqueza e ganância, de poder e dominação e de elogios e fama. Um grande exemplo disto é a guerra de palavras que existiu antes da invasão da Ucrânia, enquanto uns manifestavam a solidariedade com o ditador da Rússia, outros se tornam vítimas inocentes de violência e morte de uma guerra sem sentido que é simplesmente provocada por interesses políticos.

Podemos dizer que as leituras na liturgia nos ensinam duas coisas: como discernir as “notícias falsas” e qual o caminho que devemos seguir diante das mentiras que escutamos todos os dias. A primeira leitura nos dá dicas de como podemos discernir. Da leitura do livro de Eclesiástico, escutamos três exemplos que nos ensinam o que fazer diante de defeitos que aparecem no falar de uma pessoa. Primeiro, a peneira que separa os refugos da semente. É justamente no falar que os defeitos do homem aparecem, pois revela o que pensa e que, pela palavra, se descobre sua intenção verdadeira. Segundo, o forno pelo qual os vasos de barro precisam passar para não aparecer qualquer defeito. Quem prestar atenção vai descobrir como a conversa de uma pessoa pode enganar e estará muito frágil diante das provas. Finalmente: “O fruto revela como foi cultivada a árvore; assim, a palavra mostra o coração do homem” (Eclo 27,7). O coração é o lugar das nossas decisões e é justamente pelas ações que podemos discernir o que está no coração da pessoa. Portanto, o critério para descobrir o que é verdadeiro é sondar o que está no coração, pois é isso que revela o que está por trás da sua palavra e que indica se aquilo que fala é verdadeiro ou é simplesmente uma mentira para enganar.

No evangelho aprendemos como agir e qual o caminho a seguir diante das “notícias falsas”. Jesus nos fala: “Pode um cego guiar outro cego? Não cairão os dois num buraco?” (Lc 6, 39). O resultado da mentira é a cegueira, pois nos leva para o abismo da negação da verdade e o falso senso de segurança de que aquilo que nos interessa é certo. Um exemplo disto é o discurso sobre os garimpos na Amazônia. Apoiar ou deixar existir, como várias pessoas desejam, nos leva a cair num grande buraco. Este buraco é justamente o desmatamento, a poluição das águas do Rio Tapajós com suas desastrosas consequências para Alter do Chão, a contaminação dos peixes com mercúrio e por consequência as ameaças à saúde dos indígenas e ribeirinhos e, enfim, a destruição da querida Amazônia.

Depois, Jesus nos lembra que “todo discípulo bem formado será como o mestre”. É Jesus nosso único Mestre e é a Ele que devemos seguir para descobrir a verdade e desmascarar as mentiras. Outra lição é a cura do espelho: “Por que vês tu o cisco no olho do teu irmão, e não percebes a trave que há no teu próprio olho? Como podes dizer a teu irmão: irmão, deixa-me tirar o cisco do teu olho, quando não vês a trave no teu próprio olho?” (Lc 6, 41-42). É preciso sempre olhar para nossas próprias atitudes que nos levam a acreditar em mentiras, pois podem nos servir para justificar as nossas ações da maldade e da injustiça. Finalmente, são nossas opções de vida que vão nos indicar a verdade, pois Jesus nos ensina: “O homem bom tira coisas boas do bom tesouro do seu coração. Mas o homem mau tira coisas más do seu mau tesouro, pois sua boca fala do que o coração está cheio” (Lc 6, 45). Podemos dizer que são nossas opções e decisões que vão revelar o que está no coração e qual é nosso verdadeiro tesouro. Se alimentamos a mentira, o nosso coração ficará cheio de maldade e divisão; se seguimos a verdade de Jesus e sua palavra, nosso verdadeiro tesouro será o amor, a paz, a justiça e a honestidade.

Enfim, podemos citar muitos exemplos de “notícias falsas”: as justificativas enganosas para fazer guerra, as ameaças à democracia, a religião falsa que prega a prosperidade como benção de Deus e promete falsos milagres, as informações falsas sobre a vacina… Nossa tarefa de cristãos é discernir o que é verdadeiro e, diante das mentiras, agir de acordo com o ensinamento do nosso Mestre Jesus, pois seu caminho é verdadeiro e a sua verdade nos conduz à vida. Por isso, devemos sempre lembrar: “Não existe árvore boa que dê frutos ruins, nem árvore ruim que dê frutos bons. Toda árvore é reconhecida pelos seus frutos” (Lc 6, 43-44).

Por: Frei Gregório Joeright, OFM

Arte: Frei Fábio Vasconcelos, OFM

 

Referências:

BORTOLINI, Padre José. Roteiros Homiléticos: Anos A, B, C, Festas e Solenidades. Brasil: Paulus Editora, 2014.

COSTA, Padre Antônio Geraldo Dalla. Buscando Novas Águas. Disponível em: https://www.buscandonovasaguas.com/index.php?menu=home. Acesso em: 24 fev. 2022.

A Fé Compartilhada – Pe. Luis Pinto Azevedo

 

Share on facebook
Share on twitter
Share on whatsapp
Share on email
Share on print