Hoje celebramos a festa do Cristo Rei, o último domingo deste ano litúrgico. Falar que Cristo é Rei parece uma contradição, pois o conceito da palavra “rei” faz pensar em alguém que tem poder e um poder absoluto. A palavra do rei se torna lei, ele manda e é servido. O rei também tem o seu reino que é o lugar do seu domínio e as pessoas no seu reino são seus súditos. Finalmente, o rei não mora numa casinha, mas no palácio. É uma pessoa que tem muita riqueza e a riqueza é justamente o sinal do seu poder.
Este conceito de rei nos leva a perguntar: por que celebramos a festa do Cristo Rei e o que significa dizer que Jesus é o nosso Rei? Uma vez que esta festa é celebrada no último domingo do ano litúrgico, lembramos que ao longo do ano celebramos e refletimos sobre a vida de Jesus, seus ensinamentos, sua morte e ressurreição. Recordamos que muitas vezes, diante do ensinamento e da pessoa de Jesus, as pessoas ficavam fascinadas e encantadas. Ficavam fascinadas justamente porque Jesus se apresentou diferente das lideranças da sua época. Os seus seguidores proclamaram Jesus, Rei do Universo, não porque ele se apresentava como rei deste mundo, mas porque o seu poder não é deste mundo, como ele mesmo disse diante de Pilatos: “O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus guardas lutariam para que eu não fosse entregue aos judeus. Mas o meu reino não é daqui” (Jo 18, 36).
Se os reis deste mundo têm poder, o poder de Jesus está na cruz. Injustamente condenado pelos poderes deste mundo, Jesus entregou a sua vida livremente e Ele deu a vida para resgatar toda a humanidade do mal. É o mal da dominação sobre os outros e do poder absoluto daqueles que se dizem donos do mundo. O poder de Jesus se manifesta na vitória sobre a morte, a sua ressurreição mostra que todos aqueles que querem a verdadeira vida precisam seguir o seu caminho. Assim, o poder de Jesus se manifesta no serviço e na doação e não na dominação, pois Ele mesmo diz: “Se alguém quer ser o primeiro, deverá ser o último, e ser aquele que serve a todos” (Mc 9, 35).
Os reinos deste mundo visam o luxo, o acúmulo e o prestígio, mas o Reino de Jesus é fazer a vontade do Pai. Jesus mostra que pertencer a este Reino é dar testemunho da verdade: “Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz” (Jo 18, 37). Escutar a verdade e pertencer ao Reino de Jesus é viver de modo diferente, não com arrogância, egoísmo e individualismo, mas com compaixão, misericórdia e solidariedade, especialmente com os mais necessitados.
Enquanto os reis têm riqueza, a riqueza de Jesus é a manjedoura onde Maria enrolou o recém-nascido em panos e o deitou. Podemos dizer que o pano usado por Maria seria mais tarde o próprio manto de Jesus que foi objeto de cobiça dos soldados que resolveram lançar a sorte para ver com quem ficava. Jesus é despojado de tudo para mostrar que a verdadeira riqueza é na doação e o verdadeiro poder é servir os outros. O acúmulo e a ganância devem ser substituídos pela partilha quando se dá o testemunho da verdade e realiza a vontade do Pai. No Reino de Jesus, a fama e o prestígio ficam sem sentido, pois quem compreende o ensinamento de Jesus deve viver a humildade, a doação e o serviço.
Diante disto, podemos dizer que o Reino de Jesus não tem súditos, mas discípulos e discípulas que vivem o amor, a justiça e o perdão, e que reconhecem o valor da humildade e colocam em prática a partilha. Se acreditamos em Jesus como nosso Rei, nosso compromisso é nos tornar seus discípulos, reconhecendo que temos um só Pai e somos filhos e filhas deste mesmo Pai, somos irmãos e irmãs uns dos outros, membros de uma só família, fascinados pela pessoa de Jesus e seguimos seu caminho de doação e amor.
Por: Frei Gregório Joeright, OFM
Arte: Frei Fábio Vasconcelos, OFM