Tapiri da Palavra: Natal do Senhor – Ano C

Todo ano temos o costume de montar o presépio em nossas Igrejas e casas. Podemos olhar para o presépio e perguntar: o que de fato enxergamos? A cena é do nascimento de Jesus, aquilo que aconteceu 2000 anos atrás. Esta cena nos atrai, gostamos de olhar para o presépio e contemplar aquela cena. Mas, pensando bem, não foi nada de extraordinário. É simplesmente a cena do nascimento de uma criança e uma criança pobre. Algo que acontece todos os dias. Contudo, a cena do nosso presépio é especial e só pode ser compreendida com os olhos da fé. A fé enxerga para além das imagens no presépio, para algo que nos toca, pois é uma cena da manifestação do verdadeiro amor. Deus assumiu a nossa natureza, foi ao nosso encontro para nos indicar o sentido da vida e nos mostrar o caminho do amor e da verdade.

Foi justamente esta cena que Francisco de Assis queria contemplar e reviver quando no ano de 1223 ele queria lembrar o menino que nasceu, como foi posto no presépio e ver com os próprios olhos como o menino foi deitado em cima da palha entre o boi e o burro. Vieram as Clarissas e frades de todos os cantos com tochas nas mãos para iluminar aquela noite não só com a luza do fogo, mas com a luz do menino que nasceu. O povo chegava e o mistério foi renovado com muita alegria, pois a voz do povo ressoava por toda parte: Glória a Deus nas alturas e paz aos homens de boa vontade.  Era uma manifestação de fé e amor.

Mas é preciso lembrar que esta noite não é somente para contemplar a cena do presépio, mas também experimentar o nascimento de Jesus em nossas vidas. É uma experiência comum para todos os cristãos de todos os tempos. Jesus nasce novamente, e nós, pela fé e vivência do amor, atualizamos a cena do presépio em nossa vida. Por isso, podemos dizer que Jesus continua nascendo e fazemos hoje a experiência do presépio.

Para compreender melhor esta experiência podemos também lembrar de tantas pessoas que no passado viveram a cena do presépio em suas vidas. Vamos então usar nossa imaginação e trazer personagens do passado para os nossos dias e perguntar para eles – quando e como foi que Jesus nasceu para eles?

Primeiramente, podemos perguntar para Pedro e certamente ele vai responder: naquela noite quando os sumos sacerdotes levavam Jesus e eu ficava no pátio, perto da fogueira, três pessoas me perguntaram se eu conhecia aquele homem e eu neguei. Naquela hora compreendi a misericórdia de Deus e que Jesus é o Filho de Deus, assim Ele nasceu na minha vida.

Perguntamos para Paulo e certamente ele responderá: foi na estrada de Damasco e eu, convencido da lei dos Judeus, pensava que era necessário perseguir os cristãos. De repente uma luz me envolveu e escutei uma voz: Saulo, Saulo, por que me persegues? Fiquei cego, mas três dias depois recuperei a minha visão e enxerguei a luz do mundo novo. Neste dia Jesus nasceu na minha vida.

E se perguntamos para Tomé, ele vai responder: quando Jesus apareceu ressuscitado e pediu que eu tocasse nas suas chagas. Compreendi que Ele é o caminho, a verdade e a vida. Jesus nasceu na minha vida.

E Judas, o que ele vai responder:  quando vi o julgamento de Jesus, um homem justo e inocente condenado, vi que Jesus está acima de qualquer tesouro terreno. Não consegui compreender a misericórdia de Deus, mas mesmo na minha fraqueza, Jesus mudou toda a minha vida.

João Batista vai nos dizer: na hora do batismo de Jesus, escutei uma voz do alto: Este é meu Filho amado, escutem o que ele diz – compreendi o que significa preparar o caminho. O Messias nasceu em minha vida.

Os pastores foram os primeiros a visitar o menino recém-nascido e eles vão nos dizer: o anjo apareceu e nos anunciou uma Boa Notícia, vocês vão encontrar um recém-nascido deitado na manjedoura e enrolado em panos. Fomos correndo e acreditamos que aquela criança era o Salvador do mundo. Era uma grande luz que nos envolveu e nasceu para nós a esperança do mundo novo.

Maria, a mãe de Jesus, vai responder: em Belém, sob as estrelas e aquela luz, José e eu recebemos a visita dos pastores. Era o nascimento de um novo tempo, pois meu filho ensinou o mandamento do amor e por este amor, morreu por nós. Me tornei a serva do Senhor e por causa disto, a Palavra habitou entre nós e se tornou carne.

Outra pessoa que podemos perguntar é Francisco de Assis. E ele vai nos dizer: quando estava na praça pública, diante do meu pai, o bispo e o povo, entreguei a bolsa, a roupa e até meu próprio nome, compreendi o que é viver o Evangelho e Jesus se tornou a razão da minha vida.

Então nesta noite o presépio nos fala, não é somente uma cena com imagens, mas a realidade do encontro de Deus com a humanidade. Encontro que não só aconteceu 2000 anos atrás, mas continua acontecendo na vida de cada um de nós. A pergunta continua atual para nós hoje, quando Jesus nasceu? Esta pergunta deve ser respondida por cada um de nós e, para responder, é preciso olhar para dentro de nós e recordar a experiência que nos leva a compreender que o presépio é o encontro de Deus conosco, que a Boa Notícia continua acontecendo hoje e que nós vivemos a experiência do presépio quando seguimos o mandamento do amor que Jesus nos ensinou. E para viver o amor que Jesus nos ensinou, não podemos separar o Natal da realidade atual; quem contempla o presépio contempla a vida e reconhece o compromisso de lutar em favor da vida das pessoas, da natureza e de toda criatura.

 

Por: Frei Gregório Joeright, OFM

Arte: Frei Fábio Vasconcelos, OFM

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